30.4.07

Varig

Qual seria o intangível da nova Varig? Uma reportagem do Estado de 29/04/2007 tentar esclarecer isto:

Como a Varig se multiplicou por 8
Depois de ressuscitar' a companhia, investidores a venderam US$ 280 milhões mais cara do que compraram
Lourival Sant'Anna
O Estado de São Paulo - 29/04/2007

A compra da Varig pela Gol levanta questões sobre a separação entre o público e o privado, a diferença entre concessão e patrimônio, a responsabilidade sobre dívidas, os limites da atuação da Justiça e das agências reguladoras. Tudo isso temperado pelos US$ 280 milhões que separam duas vendas num intervalo de oito meses; pelo desejo explícito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ver a Varig "salva" pela Gol, e pela participação de seu compadre, o advogado Roberto Teixeira.

Com capital do fundo de pensão americano Matlin Patterson, a Varig Log arrematou a Varig em julho por US$ 42 milhões. Foi a única participante do leilão. As grandes empresas do setor, incluindo a própria Gol, consideraram na época alta demais a insegurança jurídica do negócio. Dois pontos essenciais pareciam indefinidos: a sucessão das dívidas de R$ 7,9 bilhões e o direito da companhia de manter consigo as concessões dos vôos (hotrans) e de uso dos aeroportos (slots), que, pelas normas, devem ser recolhidas e redistribuídas para outras companhias pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), quando não usadas.

No mês passado, a Varig Log vendeu para a Gol a "Nova Varig", ou VRG, por US$ 320 milhões. Executivos de companhias concorrentes da Gol dizem que o valor real da VRG eram os US$ 42 milhões pagos em julho. "O que a Gol comprou por US$ 320 milhões?", pergunta um deles. "Ativos intangíveis pertencentes à União? Ou uma empresa comprada antes por US$ 42 milhões, que desde então só piorou?", acrescenta, referindo-se à redução de 61 para 19 aviões e a suposta "sangria" mensal de US$ 25 milhões no caixa.

Marco Antonio Audi, presidente do Conselho de Administração da Varig Log, naturalmente discorda. "Ressuscitei a Varig", orgulha-se, lembrando que os funcionários não recebiam havia cinco meses, e todos os aviões estavam no chão. Só dois pertenciam à Varig. Os restantes foram retomados pelas empresas de leasing. "Partimos do zero e entregamos a companhia com 19 aviões, 2.200 funcionários, a maior pontualidade e o melhor serviço de bordo do Brasil." Ele admite que ganharam um bom dinheiro, mas diz que a contabilidade ainda não está fechada.

Audi explica o êxito do negócio argumentando que "ninguém tinha peito" de correr o perigo que ele e seus parceiros - um fundo de US$ 10 bilhões dedicado a investimentos de alto risco - correram. Ele reconhece que sua segurança se deveu, em grande medida, ao escritório do advogado Roberto Teixeira, que contratou em março de 2006. Mas não pela influência política advinda do compadrio com o presidente da República. O investidor diz que escolheu Teixeira pelo conhecimento em direito aeronáutico demonstrado por ele e sua equipe - que inclui a filha, Valeska, afilhada de Lula, e o genro, Cristiano Martins. "Fiz 15 perguntas ao Roberto Teixeira. Ele sabe tudo de aviação", lembra Audi, sócio da Helisolutions, segundo ele a maior empresa de propriedade compartilhada de helicópteros do mundo, com 16 aparelhos. "A equipe dele veste a camisa", entusiasma-se. "Valeska e Cristiano são gênios."

Audi, que contratou "cinco ou seis escritórios de advocacia", atesta que as orientações de Teixeira foram precisas. No dia 15 de dezembro, em que recebeu da Anac o certificado para a VRG voar, Audi teve uma audiência com o presidente Lula, acompanhado de Teixeira. Mas diz que ela só durou "três minutos", a maior parte dedicada à Varig Log. E que foi ele quem pediu a audiência. "Jamais posso fazer algo errado, porque sou sócio de um fundo de pensão americano, comprometido com boas práticas", diz Audi. Teixeira e os donos da Gol, Nenê Constantino e Constantino de Oliveira Júnior, não quiseram dar entrevista ao Estado.