30.12.13

A Privatização do Royal Mail

Recentemente o governo do Reino Unido privatizou o serviço de correios, o Royal Mail. Foi uma das maiores ofertas iniciais de ações (ou IPO no jargão do mercado) dos últimos anos na Europa. Assim que as ações chegaram no mercado, ocorreu uma alta de 40% no preço, de 3,2 libras por ação para 4,6 (gráfico).



 Isto, naturalmente, trouxe questionamentos sobre o processo de privatização. E retomou uma discussão antiga nas finanças: o preço das IPO é subestimado. Esta discussão já tinha ocorrido anteriormente quando do lançamento das ações do LinkeIn e o preço ofertado estava muito abaixo do valor transacionado alguns minutos depois da ação ter chegado no mercado.

O New York Times lembra pesquisas acadêmicas que comprovaram que as IPOs, nos Estados Unidos, estavam subestimadas nos últimos anos. A diferença entre o valor fixado na oferta inicial e o valor de mercado, nos últimos vinte anos, foi de 125 bilhões de dólares nos Estados Unidos.

Uma possível explicação para o que ocorreu no Royal Mail e nas outras ofertas iniciais é a existência de assimetria da informação. Uma das explicações é que investidores desinformados compram as ações nos primeiros dias, pagando um preço acima do que deveria, numa situação próxima a “teoria do abacaxi”, numa tradução menos literal, de Akerlof. (Talvez o leitor já tenha recebido oferta do gerente do seu banco recomendando a compra de uma ação que será lançada)

Outra explicação possível é que os bancos de investimentos determinam um preço subestimado para seu benefício próprio. Outros participantes também podem exercer influencia sobre o preço inicial, em razão dos seus interesses próprios. Alguns administradores irão beneficiar da venda de ações recebidas como forma de remuneração e possuem interesse em aumentar estes preços. O litígio que podem existir após o lançamento também ajuda a explicar a diferença de preço: a desvalorização poderia conduzir a um litígio em razão da potencial omissão de informação. Finalmente, o comportamento pode ser resultante da irracionalidade dos investidores.

3.12.13

Risco e Retorno

Uma entrevista com Nelson Silva, da empresa de petróleo BG:

Com relação a Libra, o que pesou para a BG ficar de fora?

O fator mais importante foi que o leilão de Libra, por se tratar de uma descoberta, com menos risco exploratório, não está alinhado com nossa estratégia, que é assumir o risco exploratório para entregar o valor da descoberta ao acionista. Já havendo uma descoberta, o ganho de valor é muito pequeno. Mal comparando, é como comprar um bilhete premiado. Você vai pagar o preço do bilhete premiado. Ao passo que, se você comprar antes do sorteio...

A ideia, então, é pagar barato e valorizar depois...

É. Mas o barato pode sair caro se o risco for muito alto. O desafio é achar o equilíbrio entre investimento e risco.

Ou seja, já estaria no preço do leilão o menor risco, o que impediria um maior ganho. Mais adiante ele comenta sobre o risco regulatório

Há, nesse momento, prognósticos não muito otimistas sobre o Brasil, com risco de perda o grau de investimento. Isso afeta o apetite da empresa? 

Não. O que nos preocupa sempre é o respeito aos contratos. Isso é fundamental. A BG chegou ao Brasil em 1994. Em 1999, estávamos participando da segunda rodada de licitações, onde adquirimos os blocos que deram as descobertas de Lula e Sapinhoá. E vocês vão se lembrar que passávamos por uma séria crise econômica. O cenário que falamos aqui não tem nada a ver com o que o Brasil passava. E naquela época a BG veio, participou das rodadas, adquiriu o controle da Comgás e continuou atravessando os altos e baixos da economia brasileira nos últimos anos. Economicamente falando, o Brasil hoje é um país muito mais estável e sólido do que era no final da década de 90. Mas fundamentalmente o que a empresa sempre valorizou e que atrai nosso investimento é o respeito aos contratos. E o Brasil, nesse aspecto, tem tido um comportamento consistente. Os contratos foram sendo respeitados ao longo do tempo, o que permite que a empresa faça a sua parte. A Comgás é um exemplo. Depois que foi passado o controle para a BG, nós quadruplicamos o tamanho da empresa em todos os aspectos. É fundamentalmente um caso de sucesso, no qual todas as partes cumpriram com o acordado. A empresa cumpriu como plano de investimento e o poder concedente cumpriu com a obrigação dele. E devo dizer que, emoutro país muito próximo daqui, onde nós operávamos uma concessão de gás como aqui, tivemos uma experiência diferente (ele fala da argentina Metrogas, cujo controle foi vendido este ano após uma relação conturbada com o governo local). Então, fundamentalmente, essa consistência, essa aderência aos contratos é a sinalização mais importante. É claro que ninguém quer operar em um país em crise, mas esses movimentos econômicos, que a gente considera que são superados ao longo do tempo, acontecem com todo o mundo. Estão acontecendo agora nos Estados Unidos e na Europa. Não é isso que vai definir a estratégia.

2.12.13

Marca do País

O Jogos Olímpicos de Londres fez com que o Reino Unido ultrapassasse o Japão como a quarta marca nacional no ranking da Brand Finance. Na ordem: Estados Unidos, China e Alemanha.

O ranking é calculado levando em conta a capacidade do país de atrair talentos estrangeiros, a qualidade de vida e o crescimento da economia. A marca Reino Unido valeria 2,4 bilhões de dólares. Apesar disto, bem abaixo dos Estados Unidos, cujo valor é de 18 bilhões. Além disto, a marca Japão também sofreu com o terremoto e tsunami. O Brasil se saiu muito bem: é o 8o. com um valor de 1,5 bilhão

28.11.13

Avaliação e Contabilidade

A empresa de auditoria PwC divulgou dois documentos com uma reflexão sobre o uso da avaliação para fins de demonstrações contábeis (aqui e aqui). Para a empresa, uma estrutura profissional para os profissionais que fazem avaliação para fins societários reduziria as lacunas entre as expectativas dos usuários e os reguladores.

A adoção cada vez maior do valor justo provocaria esta demanda, segundo a PwC. E a profissão é governada por muitas organizações, com diferentes abordagens e exigências. Uma possibilidade é a legitimação do The International Valuations Standards Council.

22.11.13

Privatização dos aeroportos

A privatização dos aeroportos do Rio e BH foi notícia nos jornais. A Folha tentou explicar a diferença de preço para o aeroporto de Guarulhos, indicando o prazo de pagamento (25 versus 20 anos):

Cinco anos a mais, além de tornar a parcela menor, fazem uma enorme diferença numa concessão porque é no fim do período --com os maiores investimentos já feitos-- que entram muitos recursos e saem poucos.

Em outro site, a mesma justificativa:

Para o presidente da Infraero, Gustavo Vale, a diferença é explicada pelos prazos de concessão. “O prazo de concessão do Galeão é cinco anos maior”, disse à DINHEIRO, após o leilão. A concessão do Galeão será válida por 25 anos, ante os 20 anos de Cumbica. Isso permitiria aos vencedores mais tempo para pagar os investimentos e obter retornos.

Mas isto não justifica, já que o valor do dinheiro no tempo reduz esta diferença substancialmente. Além disto, existe a maldição do vencedor, fato já comprovado nas finanças comportamentais: quem ganha um leilão é o grande perdedor, pois pagou muito acima do razoável.

Um fato interessante foi a reação do mercado para a empresa que perdeu o leilão: o preço das ações aumentou, o que pode ser um sinal de mau negócio para quem ganhou.

13.11.13

O Valor da Cultura Corporativa

A cultura corporativa refere-se a um conjunto de normas e valores que é compartilhada e defendida pela organização. Pode incluir neste conjunto aspectos relacionados com a integridade e ética da entidade, a colaboração e cooperação das pessoas, a inovação, o respeito, a qualidade, a segurança, a comunicação, entre muitos outros aspectos. Alguns consideram que a cultura corporativa é um monte de palavras jogadas fora. Talvez esta impressão deve-se ao fato de que diversos trabalhos não consideram relacionar a cultura de uma organização com o seu desempenho. Isto leva a crer que afirmar que a organização está preocupada em “prestar contas” não significa que efetivamente o faz.
Um dos grandes problemas destas pesquisas é exatamente mensurar a cultura da organização. Buscar na home-page da organização quais são as normas e valores é fácil. Mas será que realmente expressa o que é a cultura corporativa? Três pesquisadores conseguiram acesso a uma informação de uma base de dados que tenta mensurar quais são os melhores lugares para se trabalhar. Este tipo de pesquisa é bastante divulgado, mas os resultados individuais geralmente são mantidos em segredo. Para se chegar aos “melhores lugares”, uma entidade promover diversas entrevistas sigilosas com funcionários das maiores empresas do mundo. Estas entrevistas buscam obter informação sobre o ambiente de trabalho. Assim, em lugar de buscar os valores propagados nas páginas das empresas, os autores conseguiram a informação diretamente dos seus funcionários. A cultura corporativa é relatada pelos empregados da organização.

Ao contrário das pesquisas anteriores, esta informação permitiu descobrir que a cultura corporativa realmente praticada influencia no desempenho das organizações. Assim, quando os empregados percebem que os gestores são confiáveis e éticos, o desempenho da entidade é melhor.

Na próxima vez que você ouvir falar da cultura corporativa, pense que pode ser relevante para o desempenho da entidade, desde que você esqueça o que a empresa diz e centre sua atenção no que ela faz. Mesmo que seja na perspectiva dos empregados.

Leia mais em The Value of Corporate Culture. Luigi Guiso, Paola Sapienza, and Luigi Zingales NBER Working Paper No. 19557 October 2013.

18.10.13

Ação do Google ultrapassa mil dólares

O Google – que responde pelo blogspot – atingiu uma marca nas suas ações: cada ação tem um valor acima de mil dólares. Com isto o valor da empresa é de 336 bilhões de dólares. Apesar disto, o Google ainda está distante da Berkshire Hathaway, a empresa do legendário investidor Warren Buffett, onde cada ação custa 175 mil dólares.

Apesar disto, o valor de mercado da Apple ainda é muito superior a empresa de busca, conforme o gráfico abaixo.

 Mas a diferença de avaliação entre as duas empresas diminuiu em relação aos 400 bilhões de dólares, ocorrida em 2012.

15.10.13

Nobel de Economia

O prêmio Nobel deste ano foi para uma área denominada de asset pricing. O interessante foi a premiação para Fama e Shiller, ao mesmo tempo, já que, de certa forma, possuem uma visão diferente de como o mercado comporta. Fama acredita no mercado racional e que bolhas não existem. Shiller ao contrário: o mercado é irracional e que bolhas são comuns. O terceiro Nobel foi para alguém que faz um meio termo.

Mas os trabalhos de Fama e Shiller podem ser considerados compatíveis também. Fama trabalha com ações individualmente, mostrando que os preços incorporam as informações disponíveis. Shiller foca no mercado agregado, provando que o mercado é muito volátil, mas que o índice dividendo por preço pode ser previsível.

A grande contribuição de Fama são as hipóteses de mercado eficiente. Talvez seja por isto que French, outro pesquisador cotado para o prêmio e que tem realizado diversos trabalhos com Fama, não foi premiado. Mas as contribuições da dupla não é desprezível. Recentemente Fama tornou-se um pouco impopular entre os pesquisadores, mas talvez isto se deva a leitura equivocada do seu trabalho de eficiência. Além disto, Fama realizou o primeiro estudo de eventos, em 1969. Fama acreditava que não era possível bater o mercado

Shiller estudou o comportamento de longo prazo de dividendos e a bolha imobiliária dos Estados Unidos. Criou um índice para avaliar o desempenho dos imóveis que leva seu nome. Apesar das críticas que seu trabalho trouxe ao mercado, Shiller acredita que é necessário tornar o mercado mais eficiente. Shiller foi responsável por dois dos gráficos mais conhecidos em economia.

Hansen tem um trabalho mais difícil de explicar. Sua grande criação, um modelo denominado GMM, permite trabalhar com séries históricas de maneira mais fácil e sem a necessidade de muito “rigor”.

Os três são muito citados em trabalhos acadêmicos (Fama em primeiro, Shiller em 37º. E Hansen em 16º.)

Os três são dos Estados Unidos, o que mostra o domínio deste país na área: em dez anos, 19 dos 21 eram daquele país.

30.9.13

Marcas mais valiosas

O gráfico mostra a evolução recente das marcas mais valiosas. A Coca-Cola que dominou o ranking durante os últimos anos agora está em terceiro. A Microsoft que ficou durante anos em segundo, está em quinto. O ano trouxe as marcas Apple e Google nos primeiros lugares.

24.9.13

Risco Sistêmico

O prêmio Nobel de Economia, Robert Engle, desenvolveu  uma nova medida de risco sistêmico. O risco sistêmico é aquele que não pode ser extinto com a diversificação de uma carteira de ações. A proposta de Engle é estimar quanto uma instituição financeira teria que obter de capital para continuar funcionando numa situação de crise financeira, como a que ocorreu em 2008. O cálculo é feito semanalmente e usa o preço das ações como base para determinar este risco. Em 2008 a posição do risco era a seguinte:
É interessante notar que naquele momento a instituição com maior risco era o Citigroup, mas foi o Lehman Brothers e o Washington Mutual que entraram em bancarrota.

Atualmente, o país com maior nível de risco, segundo Engle, seria o Japão. O Brasil seria o 15º. da lista, com risco maior que o da Grécia. Obviamente esta posição é influenciada pelo tamanho da economia. Assim, a situação da França deveria ser mais preocupante que a Grécia, por exemplo.

Na América, interessa a posição dos Estados Unidos, Canadá e Brasil. Porto Rico é mais expressivo, neste caso, que a Argentina.

No Brasil, a principal fonte de preocupação com respeito ao risco deveria ser o Banco do Brasil, conforme figura a seguir:

Fonte dos Graficos: Aqui

23.9.13

Marcas: você acredita?

Nova pesquisa sobre as marcas mais valiosas. Eis um texto (Cerveja mexicana é marca mais valiosa da América Latina; Petrobras fica na quarta posição) sobre o assunto:

A cerveja mexicana Corona é a marca mais valiosa da América Latina, segundo pesquisa divulgada hoje pela BrandAnalytics. A Corona deixou para trás a Petrobras e a também mexicana Telcel, que foram, respectivamente, primeira e segunda no ranking do ano passado. A empresa atingiu valor de US$ 6,6 bilhões, aumento de 29% em relação a 2012. "A Corona é um exemplo clássico de uma marca local que hoje é global", afirma Eduardo Tomiya, diretor-geral da BrandAnalytics. "Hoje, você encontra cerveja Corona em qualquer bar dos Estados Unidos".

O resultado deste tipo de pesquisa depende fundamentalmente do valor de mercado da empresa. É bem verdade que a empresa que faz a pesquisa não revela, claramente, como é feita. Para os interessados, existe um livro publicado pela Brand em conjunto com a Atlas sobre a metodologia.

 A Petrobras caiu três posições na tabela - com valor de US$ 5,8 bilhões em 2013, ante US$ 10,6 bilhões em 2012 -, perdendo postos para a própria Telcel e a Skol, que foi a brasileira melhor posicionada no ranking. A situação da petrolífera é reflexo da queda das ações na bolsa de valores no Brasil, que, ao lado da Argentina, puxou os números do estudo para baixo.

O texto confirma o que dissemos anteriormente: o valor da marca depende do valor de mercado da empresa no mercado acionário. Mas se são coisas distintas, por que esta dependência? Simples, é muito difícil e complicado mensurar marca. E subjetivo.

 O mal desempenho dos países, contudo, foi compensado por México, Chile e Colômbia, fazendo com que o valor total das marcas ficasse quase em estabilidade, passando de US$ 135,7 bilhões em 2012 para US$ 135,3 bilhões. "Um dos pontos que deve ser levado em conta é que os valores são registrados em dólar", diz Tomiya. "A cotação de cada país reflete no valor das marcas".

O uso do dólar é interessante e questionável. Afinal algumas das marcas são locais.

O momento do consumo no continente fez com que o setor fosse o grande motor deste ano. A maior contribuição para este crescimento vem do segmento de cerveja, que teve seu valor aumentado em 96%. As marcas de cerveja dominam as 10 maiores e a lista das 10 que mais cresceram, como Modelo (México) e Brahma atingindo o maior crescimento de 85% e 61% respectivamente, enquanto Skol cresceu 39%. A categoria com a maior queda em valor de marca no geral foi serviços. 

"Observamos um mal desempenho especialmente de empresas B2B", afirma Tomiya. Muitas marcas que são lideres em seus paises também tem presença na América Latina e uma atuação global. Oito das marcas que estão nas Top 50 também estão no ranking das categorias do BrandZ Top 100 Marcas Globais Mais Valiosas: Petrobrás, Ecopetrol, Falabella, Natura, Skol, Brahma, Corona e Aguila. O BrandZTM Top 50 Marcas Latinoamericanas mais valiosas analisou marcas da Argentina, Brazil, Chile, Colombia, Peru e México. Juntos, estes países representam cerca de US$ 4,75 trilhões em PIB, o equivalente a quarta maior economia do mundo depois do Japão. É o único ranking que considera a percepção dos atuais e potenciais compradores da marca, além dos dados financeiros para calcular o valor.

No livro de Teoria Contábil (Niyama e Silva), no capítulo de Ativo, discute os critérios para reconhecimento de um ativo: satisfazer a definição de ativo, materialidade, probabilidade de ocorrência e confiabilidade da medida. O grande problema dos rankings de marca é justamente o último item.

17.9.13

Exemplo de risco

Um exemplo de risco, pede o professor. O aluno responde: isto e deixa o resto em branco. E o professor considerar a resposta correta! Ótimo

12.9.13

Múltiplo em Educação

Há dias o grupo Laureate comprou a FMU por 1 bilhão de reais. Com 200 mil alunos, isto significa que cada aluno foi “vendido” por 5 mil reais, aproximadamente.

Anteriormente tínhamos feito um relativo entre o valor de negociação de faculdades e número de alunos e chegamos a um valor médio de R$6 mil por aluno. Ou seja, a aquisição da Laureate foi um negócio dentro da média do mercado.

Ontem a Estácio anunciou a aquisição da Uniseb por 615 milhões de reais. Com 37,8 mil alunos, a aquisição representou que cada aluno custou R$16,3 mil, muito acima do valor médio das negociações do setor.

11.9.13

Ibovespa

Os investidores que estão na lida há mais de 20 anos sabem que de tempos em tempos alguma ação causa distorções ao Índice Bovespa, dificultando a gestão de carteiras referenciadas no índice, prejudicando a arbitragem entre os mercados futuro e à vista e o segmento de aluguel de ações. O impacto que algumas ações do grupo "X" está provocando no índice e, consequentemente, em instrumentos derivativos, já aconteceu antes. Talvez hoje, é verdade, em intensidade muito maior. 

O Ibovespa é o principal indicador de desempenho do mercado de ações brasileiro e mantém sua metodologia de cálculo desde a implantação, em 1968. Esse é o indicador que normalmente o pequeno investidor olha como referência do desempenho da bolsa no dia a dia e que é citado pela maioria dos jornais e televisões quando se referem ao desempenho da bolsa no Brasil. É ainda um parâmetro de desempenho muito utilizado por gestores de fundos ativos e passivos, e para comparar o desempenho do mercado brasileiro com bolsas de outros países. Sem falar, é claro, em todos os produtos de futuros e opções criados a partir dele.

O Ibovespa tem se mostrado um excelente índice nesses anos todos. É natural ser cauteloso quando se cogita fazer aperfeiçoamentos num produto de tanto sucesso. Entretanto, a história mostra que, se um produto se prova obsoleto, ao longo do tempo, a concorrência de produtos mais eficientes prevalece. O Dow Jones manteve sua metodologia inalterada desde o início (em 1928), o que custou sua liderança quando foi superado pelo SP como indicador de desempenho mais representativo e eficiente do mercado.

A atual metodologia de cálculo do Ibovespa é baseada num conceito de negociabilidade que é uma "proxy" para a liquidez do papel em bolsa. Tanto o critério de inclusão na carteira quanto o de ponderação dos pesos de cada papel no índice utilizam esse conceito de negociabilidade. Basear a carteira do índice nesse conceito de negociabilidade tem uma razão válida, pois um bom indicador de desempenho deve poder ser replicável pelo investidor. Intuitivamente, um índice baseado em liquidez deveria ser facilmente replicável pelos investidores. O caso atual das empresas "X" mostra que às vezes a intuição falha.

Chama a atenção o fato de o Brasil ser o único no mundo a utilizar esse critério de negociabilidade. A pergunta que se coloca é: por quê? Será que o Brasil produz um índice superior? Levantamento feito pela própria Bovespa dos principais indicadores de ações do mundo mostra que a esmagadora maioria deles utiliza critérios que se baseiam no valor de mercado total da empresa ou da parcela que não está mãos dos controladores ("float"), e não necessariamente como critério de seleção mas, principalmente, na sua ponderação. A Bovespa há alguns anos lançou uma família de índices baseados em valor de mercado. Os dois principais são o IBrX-100 e o IBrX-50.

Observando-se a tabela abaixo, vemos que o desempenho médio anualizado do Ibovespa comparado com o dos outros dois índices desde suas criações é muito inferior, mostrando que a metodologia da família IBrX é mais eficiente.

Os dirigentes da Bovespa estão cientes das distorções da metodologia do Ibovespa e seu impactos nos diversos mercados. E, como bons dirigentes de seu negócio, estão decididos a efetuar mudanças para aperfeiçoar o índice, de tal forma que essas distorções não aconteçam mais.

Entre os diversos interlocutores que a diretoria da Bovespa procurou nos últimos meses, destaca-se um grupo representativo de participantes de mercado que, conjuntamente com a equipe técnica da Bovespa, trabalhou em propostas para colocar o Ibovespa entre os mais eficientes do mercado mundial.

As principais alterações que esse grupo sugeriu foram: (1) mudança do critério de ponderação dos papéis (peso no índice) para free float; (2) introdução de um "cap" de liquidez para que papéis com alto valor de mercado, porém baixa liquidez, não prejudiquem a replicabilidade do índice; (3) alteração do cálculo do índice de negociabilidade dando mais peso ao volume financeiro e menos ao numero de negócios, reduzindo o estímulo de "market makers" fragmentarem ordens para artificialmente aumentar o peso de seus papéis no índice; (4) alterações nos critérios de inclusão e exclusão de papéis, aumentando a representatividade de 80% para 85% da liquidez; (5) permissão para incluir ações novas porém representativas antes de completarem 12 meses de negociação; (6) exclusão das chamadas "penny stocks" (ações com valor de negociação abaixo de R$ 1); (7) introdução de um limite máximo de 20% por ação para reduzir a concentração da carteira em poucos papéis e (8) harmonização dos critérios de exclusão do índice com outros instrumentos derivativos e contratos de aluguel.

A diretoria da Bovespa já confirmou que pretende fazer aperfeiçoamentos no Ibovespa, porém parece preocupada em não descaracterizá-lo. Para a grande maioria dos participantes de mercado, a introdução de todas as melhorias sugeridas acima tornaria o Ibovespa um índice muito mais atualizado com as melhores práticas no mundo inteiro e, no fim do dia, é isso que importa para os investidores em geral.

A Bovespa está diante de uma oportunidade histórica de passar uma mensagem forte para todos os brasileiros e investidores do mundo inteiro: chega de puxadinho e jabuticaba. Está na hora de pararmos de reinventar a roda e fazer a coisa certa. Sejamos ousados. Vida longa ao Ibovespa!

O Ibovespa está morto. Vida longa ao Ibovespa! - Valor Econômico - 11/09/2013 - Marcos De Callis

10.9.13

Previsão e Projeção

Em geral utilizo os termos como sinônimos. Entretanto, Nate Silver, em O Sinal e O Ruído, na página 159, faz uma distinção entre eles:

Previsão = é uma declaração definitiva e específica sobre quando e como haverá um evento
Projeção = é uma declaração probabilística sobre um evento

4.9.13

O Fisco cada vez mais voraz 2

Empresas brasileiras que têm subsidiárias em paraísos fiscais para pagar menos imposto deverão perder essa vantagem, pelo plano do G-20 de combate à evasão fiscal que terá sinal verde esta semana.
Multinacionais adotam artifícios contábeis e montagens complexas que lhes permitem escapar total ou parcialmente do fisco, localizando seus lucros onde a taxação abocanha menos ou nada.
Usando legalmente brechas ou tratados tributários, muitas múltis acabam pagando só 1% de seu lucro em impostos, quando a média nos países ricos é de 24%.
O que o G-20 vai fazer é fechar os buracos nas leis tributárias para fazer com que as múltis paguem o imposto devido. Entre as 15 recomendações, estão um futuro "realinhamento de taxação" e novos padrões tributários globais.
O texto é otimista quanto a isto. E pressupõe que as empresas irão ficar paradas, deixando os acontecimentos ocorrerem.

A negociação final da reforma nas regras vai levar dois anos. Mas a tendência é mesmo de neutralização futura de vantagens fiscais nesse cenário, inclusive por causa do acúmulo de dívida pública e da irritação de pessoas e empresas locais que pagam seus impostos.

Pressupõe que haverá um entendimento entre os países.

Várias empresas brasileiras também usam paraísos fiscais. Vale, Suzano, Votorantim, Vicunha e Coimex estão entre as que têm subsidiárias na Suíça, um paraíso por excelência para companhias.
A Suíça permite que empresas ditas de domicílio (dominadas do exterior e sem atividade comercial no país) paguem pouco ou quase nada de impostos estadual ou local sobre os lucros obtidos fora do território suíço. As empresas são taxadas basicamente na sua fraca atividade direta no mercado suíço.
Em 2007, quando o Valor revelou como a Suíça atraia empresas brasileiras, todas as exportações da Votorantim Celulose e Papel (VCP), incluindo para vizinhos na América do Sul, passavam em termos contábeis pelo escritório de Zug, o maior paraíso fiscal suíço.
Quando o plano do G-20 entrar em vigor, provavelmente em 2015, o impacto fiscal desse tipo de arranjo das empresas na Suíça será neutralizado, diz o diretor do Centro de Política e Administração Fiscal da OCDE, Pascal Saint-Amans, que coordena o projeto do G-20. "Não haverá mais vantagem fiscal de fazer esse tipo de operação", diz. "O Brasil recupera o direito de taxar ou então quem fará isso é o país onde as vendas ocorreram."
Ele nota que a Suíça não perde nada, porque já não taxa nada. Quanto às empresas, vão pagar o que têm de pagar em impostos. A Suíça, que vai ao G-20 como convidada, sabe que seu modelo de atrair empresas vai acabar, diante da pressão de outros países que o denunciam como vantagem competitiva desleal. Plano contra evasão afetará empresas brasileiras
Fonte: Valor Econômico - 04/09/2013

O fisco cada vez mais voraz

O jornal Valor Econômico revelou que o governo pretende proibir o uso do ágio no abatimento de imposto. Um efeito imediato desta decisão é a redução da atratividade dos negócios. Com efeito, num processo de aquisição de uma empresa leva-se em consideração o fluxo de caixa que o negócio irá gerar. A proibição do abatimento significa que a empresa compradora terá um fluxo de caixa menor. Eis o que diz um dos textos do jornal (Alteração nas regras afetará preços de fusões e aquisições, preveem bancos, Talita Moreira e Carolina Mandl, Valor Econômico - 04/09/2013)
A medida provisória (MP) que proíbe o uso do ágio no abatimento de impostos, se aprovada, poderá afetar o apetite por fusões e aquisições e reduzir os preços desses negócios, afirmam banqueiros ouvidos pelo Valor. A percepção quanto à intensidade desse impacto varia, mas todos dizem que a iniciativa terá influência na definição de preços de uma operação.
Em outro texto (Para tributaristas, dedução atrai investidor, Laura Ignacio e Marta Watanabe, Valor Econômico - 04/09/2013) este aspecto é ressalvado, agora tendo as palavras dos tributaristas
Para os tributaristas ouvidos pelo Valor, a dedutibilidade do ágio no Imposto de Renda (IR) e na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) é representativa e entra no cálculo da taxa de retorno dos investimentos. A retirada do benefício, portanto, deve desestimular negócios futuros ao mesmo tempo em que irão prosseguir as discussões atuais, judiciais ou administrativas, sobre o aproveitamento do ágio.
A questão da atratividade do investimento é apresentada por um dos entrevistados:
Luís Rogério Farinelli, sócio do escritório Machado Associados, diz que a dedutibilidade do ágio dá maior competitividade ao Brasil na atração de investimento. Para ele, em vez de retirar todo o benefício, poderia haver restrições de modo a não permitir mais o ágio feito "dentro de casa", originado de operações de planejamento tributário entre empresas de um mesmo grupo.
Argumento Contrário Certo? Nem tanto. Em geral a decisão de negociação é tomada pelo gestor e provavelmente os cálculos são realizados posteriormente. Talvez a redução não seja proporcional em razão disto. Eis o que diz o jornal:
Por isso, na opinião desse banqueiro, a aprovação da medida poderá levar à realização de menos negócios, pois eles podem se tornar menos atrativos, e vai reduzir os preços, já que será removido um ganho potencial.
A decisão de venda de uma empresa envolve muitas variáveis, inclusive a necessidade de caixa. Assim, o término deste ganho potencial terá um período de ajuste, mas o número de negócios, no longo prazo, não deve se alterar. Mas os bancos que fazem a intermediação devem perder, já que recebem uma percentagem sobre o valor do negócio.
"Falta [o governo] enxergar que operações que podem reduzir a arrecadação num primeiro momento podem, no longo prazo, criar empresas muito mais fortes", observa. Para essa fonte, a perspectiva de aprovação da MP pode fazer com que negócios que já estão engatilhados sejam acelerados para evitar que sejam submetidos às novas regras.
Outro executivo de um dos maiores bancos comerciais do país, diz que caso seja aprovada, a medida vai desestimular operações de fusão e aquisição no país. "O ágio é algo que entra nos cálculos de retorno de um investimento. Se vai tornar o retorno mais demorado, o preço se reduzirá", diz ele.
Novamente, o número de operações poderá sofrer uma redução, mas deve voltar a estabilizar. Outra opinião apresentada pelo jornal mostra outro aspecto da questão:
"Assim como a perspectiva de ganho fiscal é um fator, os negócios têm outras dinâmicas, como a obtenção de sinergias, que entram no preço e também podem não se materializar", diz esse banqueiro. "Vai ter impacto, mas não será o principal."
Relação Governo e Empresários Em outro texto (Governo federal decidiu mexerem dois verdadeiros vespeiros tributários) o mesmo jornal destaca a relação entre governo e empresários:
O relacionamento difícil com empresários é sabidamente um dos calcanhares de Aquiles deste governo. E é exatamente por isso que surpreende a decisão de se mexer, simultaneamente, em dois dos maiores vespeiros tributários do país. Acabar com a insegurança jurídica envolvendo dedutibilidade fiscal do ágio e o momento em que deve ocorrer a tributação de lucro de controladas e coligadas no exterior certamente é algo bem-vindo para o ambiente de negócios. Mas conforme a manchete de ontem do Valor, o governo não vai ficar nisso.
A preocupação com a arrecadação teria colocado outros dois pontos na pauta. A criação de um "Refis" específico para lucro no exterior, com o intuito de incentivar as empresas a desistir de litígios e a pagar o valor das autuações, e o fim completo do benefício fiscal da amortização de ágio gerado em aquisições, também somado a um Refis restrito para casos do "passado".
Embora as duas medidas visem a elevar a arrecadação, apenas a primeira poderia ter efeito real¬mente de curto prazo e seria até bem recebida pelas empresas. A segunda é vista com muitas reservas pelo empresariado e, dificilmente, teria algum impacto relevante imediato na arrecadação.
A questão é saber se as empresas irão desistir de encerrar as disputas. A análise das empresas envolve taxa de juros e probabilidade de sucesso na causa. Como regra geral, a empresa prefere postergar o pagamento de impostos. E com a perspectiva de sair vitoriosa na justiça, o incentivo para não aceitar a proposta do governo é maior:
Isso porque, mesmo que o governo dê incentivos—como isenção de multa e juros—para paga¬mento de autuações envolvendo amortização de ágio, há descrença entre os especialistas quanto ao desejo das empresas em aceitar um acordo para encerrar as disputas. Embora o Fisco não titubeie em autuar praticamente todas as empresas envolvidas em fusões e aquisições, a legislação é expressa e bastante clara sobre a existência do benefício da amortização fiscal do ágio por expectativa de rentabilidade futura.
Até por isso os contribuintes têm obtido vitórias consistentes em âmbito administrativo quando contestam as cobranças da Receita — com exceção do ágio gerado em operações intragrupo, em que existe mais controvérsia. Assim, uma eventual melhora na arrecadação só ocorreria no longo prazo, quando novas aquisições forem feitas e não houver mais o benefício fiscal. Nada que resolva problemas de caixa do governo neste ano.
Isso sem falar na perda da confiança que ainda resta entre os empresários, que vinham debatendo o tema há mais de ano com representantes do Fisco e foram surpreendidos com a retomada da proposta de acabar totalmente com o incentivo fiscal.
A Surpresa Em outro texto (Mudança no ágio surpreende empresas, Fernando Torres, Valor Econômico - 04/09/2013) o destaque é para surpresa da medida:
Embora todos saibam que existem muitos técnicos da Receita Federal e da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) que têm verdadeira ojeriza pela palavra "ágio", discussões realizadas nos últimos meses (sendo a mais recente em agosto) levavam os contribuintes a crer que estava tudo certo para a manutenção do benefício fiscal, embora com diferenças e restrições. O fim completo da dedutibilidade tinha saído da pauta de negociações há mais de um ano, embora fosse o desejo inicial do Fisco.
Quatro fontes próximas às tratativas ouvidas pelo Valor, que pediram para não se identificar, se mostraram bastante surpresas com a notícia, e procuravam verificar com seus interlocutores no governo se existe uma decisão final sobre o assunto.
A questão da norma contábil é abordada a seguir:
Até 2007, antes do início da adoção do padrão contábil IFRS no Brasil, o ágio dedutível fiscalmente era obtido pela diferença entre preço de compra e o patrimônio líquido contábil da adquirida. Desde então, houve práticas divergentes sobre como deveria ser o cálculo - se pela regra vigente até 2007, ou pelo critério previsto no padrão contábil internacional IFRS.
E o que a medida provisória faria era deixar claro que, a partir de agora, vale o mesmo cálculo usado para o IFRS, que chama de ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) somente o valor residual pago em uma aquisição.
O IFRS pressupõe que, do valor desembolsado acima do patrimônio líquido da empresa adquirida, uma parcela se explica pelo fato de alguns ativos e passivos desta empresa estarem com valor contábil desatualizado, o que precisa entrar na conta. Além disso, costuma se pagar por ativos intangíveis que muitas vezes não estão contabilizados no balanço da empresa comprada - como marcas desenvolvidas internamente.
Somente o que sobra após feita toda a alocação do preço é que se chama de goodwill. Essa forma de cálculo tende a reduzir o tamanho do ágio e consequentemente o benefício fiscal para a adquirente.
E a Receita? A Receita Federal tem autuado as empresas, segundo o jornal (Receita vê uso indevido de benefício e passa a autuar grandes companhias, Thiago Resende, Valor Econômico - 04/09/2013)
Santander, Gerdau e Oi são algumas das companhias que receberam essas cobranças que, dependendo do caso, podem superar a casa dos bilhões de reais. Como revelou ontem o Valor , o governo prepara medida provisória para acabar com o benefício de abater o ágio resultante de operações entre empresas.
A Receita Federal exige o pagamento de tributos que supostamente deixaram de ser recolhidos, além de multa e juros. As empresas podem recorrer e discutir essas cobranças na esfera administrativa, ou judicialmente. As decisões no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), responsável pelos julgamentos da esfera administrativa, têm sido variadas: às vezes, a favor e, às vezes, contra as companhias, mas a maioria ainda não teve uma conclusão, pois os julgamentos ocorreram em instâncias intermediárias.

2.9.13

Sinergia e Risco

A Folha de S. Paulo apresenta uma extensa reportagem sobre a queda de Eike. Fatos já conhecidos. Mas achei interessante o seguinte trecho:

SINERGIAS TEMÍVEIS 

As consequências do fracasso em Tubarão Azul se espalharam rapidamente devido às conexões estreitas entre as companhias da EBX. 

 A OSX Brasil, a companhia de construção naval da EBX, foi criada para construir e arrendar uma frota de navios para exploração de petróleo offshore usados pela OGX. A geradora de energia MPX Energia está desenvolvendo campos de gás natural com a EBX no Nordeste do Brasil. A operadora de portos LLX Logística abriga o estaleiro da OSX e é o lugar onde o petróleo da OGX seria processado e armazenado, e de onde o minério de ferro da Anglo American seria embarcado. 

"Entre os erros cometidos por empresário e seus investidores estava perceber os elos entre as companhias da EBX como força, e não como risco", disse Paulo Rabello de Castro, presidente da SR Rating, uma agência brasileira de classificação de crédito. "Quando as promessas da OGX se provaram ilusórias, essas conexões rapidamente se tornaram um peso".

5.7.13

Múltiplo em educação 2


A Abril Educação anunciou nesta sexta-feira (5/7) a compra de grupo de educação no Recife por cerca de R$ 103 milhões, ampliando atuação da companhia no ensino infantil. A aquisição, que envolve o Colégio Motivo, a livraria Park Carapuceiro Serviços e o Centro Recifense de Educação, todos no bairro de Boa Viagem, na capital pernambucana, ocorreu após a Abril Educação ter anunciado a compra do Centro Educacional Sigma, em Brasília, por R$ 130 milhões, na quinta-feira (5/7).

Segundo a companhia, a compra do Colégio Motivo adicionará 2,8 mil alunos à base da Abril Educação, além dos 5,1 mil previstos no acordo com o Sigma. (...)

Brasil Econômico - 5 de julho de 2013

Na postagem anterior fizemos uma análise de múltiplo para o caso do Sigma. Aqui o uso do múltiplo ficaria distorcido, já que inclui uma livraria.

4.7.13

Múltiplo em educação

No ensino superior, em processos de aquisição, cada aluno vale algo em torno de seis mil reais. Este valor foi obtido dividindo o valor de aquisição de faculdades particulares pelo número de alunos existentes. Como estas operações geralmente são feitas por empresas de capital aberto, o número representa um valor bastante adequado e justo do valor de uma faculdade.

Uma notícia de ontem mostrou que:

A Abril Educação anunciou nesta quinta-feira (4/7) a compra do Centro Educacional Sigma, em Brasília, por R$ 130 milhões, que serão pagos em até cinco anos.
De acordo com o comunicado, a empresa passará a atender, diretamente, mais de 5,1 mil alunos, desde a educação infantil até o ensino médio. (Brasil Econômico, Abril Educação adquire o Centro Educacional Sigma)

Dividindo o valor pago pelo número de alunos tem-se um valor de cada aluno de 25 mil reais aproximadamente. Este valor é maior que o valor do ensino superior. Uma das razões é que a mensalidade média desta escola está em torno de R$1.400. Isto provavelmente é bem maior que a mensalidade das faculdades. Mas corresponde a quatro vezes o valor?

Uma possível explicação é a inadimplência, que poderia ser menor no ensino médio e fundamental. Mas talvez não seja ainda suficiente para justificar o preço elevado pago pela Abril Educação. Outra justificativa seria o mercado atendido, localizado numa região de elevada renda per capita. Mas isto também já estaria expresso no valor da mensalidade, conforme comentado anteriormente.

A existência de “sinergias”, onde o material produzido pela empresa poderia obter um mercado, como os livros editados pela Abril Educação, pode ajudar a entender. Finalmente, a existência de interessados na aquisição pode ter produzido um leilão.

Evidenciação Voluntária e Liquidez

Existem dois tipos de evidenciação: a obrigatória, que os reguladores determinam para as empresas o que deve chegar aos usuários; e a voluntária, onde as empresas, por livre e espontânea vontade, divulgam as informações. Das duas, a voluntária chama mais atenção dos pesquisadores pelo seu caráter facultativo. O que intriga é saber o que leva as empresas revelem informações quando não são obrigadas a fazê-lo.

Uma resposta óbvia seria a divulgação de boas notícias, que traria a valorização rápida das ações da empresa e o aumento no valor dos bônus dos executivos. Mas isto não explica a razão pela qual as empresas também fazem divulgação voluntária quando existem notícias ruins. Uma explicação para este caso é que talvez a empresa deseje comandar o processo de divulgação das notícias ruins, evitando que boatos destruam mais o preço das ações.

Nos últimos anos muitos estudos procuraram desvendar os mistérios da evidenciação. E parece que ainda não chegamos a um destino final neste tipo de pesquisa, pois novas descobertas estão aparecendo.

Uma pesquisa divulgada recentemente descobriu um vínculo entre a evidenciação voluntária e a liquidez das ações das empresas. Este tipo de liquidez refere-se a quantidade de negociações dos papéis nas bolsas de valores. Em geral as pesquisas consideram que a liquidez é uma variável exógena. Em outras palavras, que não sofre influencia da própria empresa, sendo determinada pelas forças externas. Pois a pesquisa além de descobrir um vínculo dentre a evidenciação e a liquidez, também mostrou que as empresas podem influenciar na liquidez das suas ações através da divulgação de informações voluntárias.

Outra consequência da evidenciação voluntária é que também pode afetar o custo de capital, reduzindo-o. Se o custo de capital diminui, aumenta o valor da empresa. Assim, a evidenciação voluntária pode ter uma explicação simples: ela aumenta o valor da empresa.

 Leia mais em BALAKRISHNAN, Karthik; BILLINGS, Mary; KELLY, Bryan T; LJUNGQVIST, Alexander. Shaping Liquidity: on the Causal Effects of Voluntary Disclosure. Working Paper, NBER, 2013

1.7.13

O grande dilema da Contabilidade

Uma das grandes vantagens do conservadorismo é que os eventos e transações são facilmente verificados. Se uma empresa adota o custo histórico para avaliar os estoques, um auditor pode facilmente comprovar o valor conferindo com a nota fiscal de aquisição. O mesmo pode ocorrer com um terreno: basta verificar o valor de foi registrado no documento do cartório para ter o montante que deveria ser registrado na contabilidade da empresa.

Entretanto o conservadorismo possui alguns grandes problemas. Um deles é que o número registrado na contabilidade tende a ficar muito distante do seu valor. Assim, aquele terreno que foi adquirido há quinze anos já teve valorização e o custo histórico não acompanhou. O cômodo custo histórico deixa de ter relevância para quem analisa as demonstrações contábeis.

Estabelece assim um grande dilema para o contador: usar o conservadorismo, que permite registros verificáveis e objetivos ou usar um método como o valor justo, que traz mais relevância para a decisão? A relação entre o conservadorismo e a relevância da informação é muito difícil de ser observada e mensurada. Mas uma dissertação de mestrado conseguiu fazer isto com a situação brasileira dos últimos anos. Usando dois modelos, um para medir o conservadorismo e outro para a relevância da informação, o mestre Dionísio Ramos, sob a orientação do professor Paulo Lustosa, analisou os dados de informações da bolsa de valores brasileira entre 1999 a 2012. Com uma amostra de 579 empresas e dados trimestrais, Ramos comprovou que nos últimos anos ocorreu uma redução do conservadorismo contábil nas empresas brasileiras de capital aberto. Os dados permitiram também comprovar que ocorreu um aumento na relevância da informação no mesmo período. E que existe correlação entre as duas variáveis. O mais importante é que os pesquisadores comprovaram que isto ocorreu a partir do momento que as empresas brasileiras passaram a adotar as normas internacionais de contabilidade. Estas normas são menos conservadoras para a contabilidade da empresa e tudo leva a crer que a convergência contábil ocorrida a partir da Lei 11.638 seja a causa da redução do conservadorismo e do aumento da relevância.

Entretanto este resultado deve ser tomado com cuidado, já que ao mesmo tempo em que o Brasil adotava as IFRS ocorria uma crise econômica mundial. De qualquer forma, o trabalho de Ramos é um pontapé inicial para pesquisa sobre estas duas variáveis.

Leia mais: RAMOS, Dionísio Adárcio. Conservadorismo e Relevância da Informação Contábil, Brasília, Dissertação (mestrado), UnB, 2013. 

11.6.13

Risco Brasil

O mercado secundário de títulos de dívidas internacionais tem registrado um constante mau humor dos investidores estrangeiros com o Brasil, que já embutem nos preços um risco de 'downgrade' das notas de riscos de crédito. Dois dos principais indicadores de risco de probabilidade de calote usados internacionalmente - o Emerging Markets Bond Index Brazil (Embi+ Br) e os Credit Default Swaps (CDS) - refletem uma piora desde o final do ano passado, se acentuando mais recentemente e refletindo uma nota de crédito pior do que as notas das próprias agências de classificação. 

O primeiro índice terminou o ano em 146 pontos e agora já ultrapassa os 200 pontos, ou seja com prêmio 2% maior do que os títulos do Tesouro americano, representando uma alta de 35%. Já o segundo índice já subiu subiu 53 pontos nos últimos 30 dias - maior alta desde março de 2009, segundo a Bloomberg - para fechar em 159,9 pontos ontem, alta de 45% no ano. 

O custo é o mais alto em 11 meses, e o CDS do Brasil já estão em média 35 pontos mais caros do que os de México, Peru, Colômbia e Panamá. Quanto mais alto, maior a desconfiança dos investidores nos papéis de governo, empresas e bancos brasileiros emitidos no exterior em moeda estrangeira. O EMBI mede a diferença entre as taxas pagas por uma cesta de papéis (brasileiros, no caso) e os juros pagos pelos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Os CDS são contratos de hedge que os investidores em papeis brasileiros compram para se proteger contra um eventual calote do emissor. 

A alta pode ser interpretada como indício de que os investidores estão apostando que o corte da nota de classificação de risco do Brasil, atualmente em nível 2 de "grau de investimento" BBB pode ser inevitável, caindo um nível, mas ainda permanecendo no "grau de investimento" (na quinta-feira, a Standard& Poor´s colocou a nota do Brasil em perspectiva negativa - leia mais na página ao lado).

Risco Brasil sobe mais de 35% apenas em 2013 - Léa De Luca - Brasil Econômico - 11/06/13

5.6.13

Previsão Usando o Mercado

O mundo empresarial depende cada vez mais das previsões. Isto inclui desde o comportamento no próximo trimestre da economia, passando pela possibilidade de uma guerra ou o desempenho das vendas de um novo produto. Nestas situações, podem-se utilizar modelos estatísticos de séries temporais, cuja base é o passado. Outra possibilidade é usar especialistas para fazer as projeções.

Para isto, constrói um “mercado” fictício. As pessoas são incentivadas a apostar o que irá ocorrer no futuro, sendo recompensadas com o acerto. Assim, os participantes são incentivados a revelar suas informações, ao contrário do consultador que faz uma previsão, que pode ter incentivo em “errar” propositalmente. Ao participar de um mercado como este, as pessoas passam a pensar sobre o assunto, criando especialistas no assunto, que tentarão incorporar as melhores informações. Como o objetivo é simular um mercado, a existência de muitas pessoas participando do mercado impede que exista uma manipulação das apostas.

Uma técnica recente é utilizar o mercado para fazer as previsões. Esta alternativa possui algumas vantagens atraentes. Em primeiro lugar, novas informações são rapidamente incorporadas nas previsões. Isto ocorreu, por exemplo, com o “mercado” de previsão da morte de Bin Laden. Neste caso, os apostadores anteciparam a divulgação da notícia em oito minutos em relação a grande imprensa. Outra vantagem é que esta técnica é menos suscetível a manipulação que a opinião de um consultor ou a seleção de dados de um quantitativo. Nas eleições presidenciais dos Estados Unidos uma grande aposta na vitória de McCain em 2008 tentou manipular o mercado de apostas da Intrade, mas o próprio mercado tratou de revolver o problema. Finalmente, o uso de mercado tem-se revelado um desempenho superior as outras técnicas, com um menor erro na previsão.

Mesmo assim, existem situações onde o mercado fracassa na previsão. Em geral isto ocorre quando a informação está muito concentrada em algumas pessoas, não existe incentivo para a evidenciação de novas informações, existem problemas na formulação da previsão ou ocorre um viés comportamental. O problema comportamental ocorre, por exemplo, nos esportes, como a previsão de medalhasde um país.

Para que isto não ocorra, é preciso assegurar que a questão esteja bem definida, que desperte interesse suficiente para garantir ampla participação, tornando o mercado mais líquido, e fazendo com que a informação esteja dispersa. Isto garantido, as evidências mostram que o mercado faz melhor previsão que as pesquisas com especialistas e as projeções realizadas internamente.

Para ler mais:
SNOWBERG, Erik; WOLFERS, Justin; ZITZEWITZ, Eric. PredictionMarkets for Economic Forecasting. Working Paper, 2012.
SUROWIECKI, James. Sabedoria das multidões. Record, 2006. 

21.5.13

Marca Petrobrás

Após um ano difícil, com encolhimento de 36% no lucro e perda de quase R$ 40 bilhões no valor de mercado em 2012, a Petrobras deixou o ranking das cem marcas mais valiosas do mundo, informou relatório publicado na noite de ontem pela empresa de pesquisas Millward Brown. Em 2011, a companhia ocupava a 75ª posição na avaliação geral. Na análise na América Latina, a maior estatal brasileira caiu da primeira para a quarta posição entre 2011 e 2012. A marca passou a valer menos que a Skol, da Ambev.

A Petrobras entrou pela primeira vez no ranking mundial em 2010, no 73º lugar - até então as empresas de petróleo não eram avaliadas pela pesquisa. Em 2011 e 2012 ocupou o 75º lugar e agora não está mais no rol das 100 maiores. A metodologia da Millward Brown considera itens financeiros (dados de balanço, valor de mercado) e o peso da marca na visão do consumidor.

Ao fim de dezembro de 2012, a Petrobras somava valor de mercado de R$ 247,79 bilhões, 14% abaixo do apurado em 30 de dezembro de 2011. Ontem, a empresa valia R$ 258,21 bilhões na bolsa.

"O que mais impactou a Petrobras foram os resultados financeiros da estatal em 2012. Mas aos olhos do consumidor, a marca ainda é forte. Para 2013, a questão está em aberto, porque os resultados iniciais de 2013 não foram tão bons [lucro caiu], mas há uma expectativa positiva de retomada de alguns indicadores", disse Valkiria Garré, diretora executiva da Millward Brown. (...)

Marca Petrobras vale menos que cerveja Skol - Adriana Mattos | De São Paulo - Valor Econômico - 21/05/2013

O texto mostra a fragilidade das metodologias de mensuração de marca. Em geral medir o valor da marca depende do valor de mercado (negrito). O próprio depoimento da diretora da empresa revela que não se mensura adequadamente a marca: ela reconhece que a marca ainda é forte (será ?), mas a influencia dos resultados financeiros justifica o desempenho.

19.5.13

Prêmio pelo risco

O prêmio pelo risco atingiu o máximo nos últimos meses, segundo pesquisa feita desde 1962. Observe que outros períodos onde este valor foi elevado foram 1973 (e anos seguintes), 1983 e 2008.

9.5.13

Relativo em Educação

A Cruzeiro do Sul Educacional comprou a Unifran, universidade com sede em Franca, por 120 milhões de reais. Com 20 mil alunos, a aquisição significa que a Cruzeiro do Sul pagou 6 mil por aluno, um valor dentro da média do setor de educação.

4.4.13

Preço e Valor

Eis um exemplo de diferença entre preço e valor:

Uma das frases lapidares do lendário empresário brasileiro Jorge Paulo Lemann é que “pensar grande e pensar pequeno dá o mesmo trabalho.” Nada mais salutar para quem transformou a envelhecida e estagnada Brahma, comprada por ele e seus parceiros, Marcel Telles e Beto Sicupira, em 1989, na AB InBev, a maior cervejaria do mundo. Na semana passada, Lemann pensou grande, de novo. O fundo Innova, que tem entre seus cotistas o homem mais rico do Brasil, comprou 20% da Diletto, pequena sorveteria com faturamento de R$ 30 milhões, fundada em 2007 pelo empresário paulista Leandro Scabin. De acordo com alguns relatos, Lemann e Verônica Serra, filha do ex-governador de São Paulo José Serra e candidato derrotado à Presidência da República, em 2002 e 2010, que administra o fundo, avaliaram a empresa em R$ 500 milhões. 

Daí terem pago R$ 100 milhões para adquirir uma fatia minoritária da pequena sorveteria. Na verdade, DINHEIRO apurou que a dupla desembolsou metade desse valor, avaliando a Diletto em R$ 250 milhões. (Isto é Dinheiro, Ele vale mesmo R$500 milhões, Rodrigo Caetano, 22 de marco de 2013)

Dois aspectos relevantes na questão:

a) existe um prêmio pelo controle. Isto pode ajudar a explicar a diferença entre o valor (500 milhões) e o preço pago (R$250 milhões, proporcional)

 b) O acordo de aquisição pode ter envolvido cláusulas próximas a opções reais. Neste caso, o valor pode ser maior em razão do "preço pela flexibilidade".

29.3.13

Due Diligence

A figura mostra diversas operações entre empresas onde a due diligence foi um desastre. A última transação, Time + AOL, resultou num prejuízo de 99 bilhões de dólares.

22.3.13

Breaking Bad

Breaking Bad é uma das melhores séries da televisão. O programa estreou em 2008 e já possui cinco temporadas. A história ocorre em Albuquerque e trata do professor de química do ensino secundário Walter White. White tem um diagnóstico de câncer do pulmão e decide produzir e vender metanfetaminas. Na quarta temporada, sua esposa - uma contadora - decide ajudá-lo da "lavar" o dinheiro que ele recebe com o comércio ilegal. Para isto, ela decide comprar um lava-jato. No segundo episódio da temporada Skyler, a esposa de White, decide falar com o dono do lava-jato:

Skyler: Então, com isso em mente, há algum alor que possa citar? Um que seria adequado.
Dono: Dez milhões.
Skyler: Bem, vamos tentar 879 mil.
Dono: De onde tirou esse número? Do seu traseiro?
Skyler: Num dia comum você atende 19 carros por hora. Extrapolando, somei os lucros extras pelos polimentos e limpeza interna, deduzi despesas, salários, manutenção, taxas de operação, depreciação, que obtive de estabelecimentos comparáveis. Me dando uma estimativa do seu fluxo de caixa anual, ao qual apliquei o multiplicador padrão da indústria e adicionei o preço de mercado da sua propriedade, me dando uma estimativa total de 829 mil, na qual generosamente adicionei 50 mil para não insultar. (Tradução: Unitedteam)

É um excelente exemplo de avaliação de uma empresa. O dono não aceita vender. No episódio seguinte, Skyler e White armam um plano para desvalorizar o lava-jato, através de uma denúncia fraudulenta de um problema ambiental. Neste momento o dono decide vender a empresa.

Skyler faz, no episódio, uma típica avaliação de pequena empresa. Apesar de retirar depreciação para obter o fluxo de caixa (mas não somá-la depois), a senhora White usa seus conhecimentos para fazer uma estimativa do valor a partir de múltiplo adotado no setor.

19.3.13

Mito do Valor ao Acionista

O objetivo de uma empresa é adicionar valor para o acionista. Este é o mantra das finanças corporativas há décadas. Lynn Stout, num pequeno livro com um pouco mais de cem páginas (STOUT, Lynn. The Shareholder value myth. San Francisco, Berrett-Koehler, 2012), afirma que colocar os acionistas em primeiro lugar pode prejudicar os investidores, a empresa e o público.

O livro possui oito capítulos.
Logo no inicio Stout refaz a história do pensamento sobre como adicionar valor ao acionista tornou-se um mantra. Logo a seguir, três capítulos discutindo como isto está errado em termos de direito, economia e na prática da empresa. A seguir, a autora discute a controvérsia entre o especulador, voltado para o curto prazo, e o investidor de longo prazo. Stout afirma que não existe único tipo de acionista e que seus interesses podem ser contraditórios. Assim como os fundos hedges e outros investidores. Em outras palavras, adicionar valor para o acionista ignora que diferentes acionistas possuem diferentes valores. Stout afirma que o foco no acionista é uma ideologia baseado num pensamento simplista, não na realidade.

O livro é fácil e rápido de ler. Possui alguns argumentos interessantes e questiona o pensamento dominante das finanças atuais. Entretanto, alguns trechos possuem um simplismo em excesso. Stout considera como argumento factível o fato de que o direito dos Estados Unidos, em nenhum momento, considera que adicionar valor ao acionista.

Em outro trecho, ao tentar explicar a teoria de agência de Jensen e Meckling, a autora afirma, de maneira preconceituosa, que ambos são economistas, não homens de negócios ou advogados.

Vale a pena? Não. O livro possui algumas poucas ideias que não são adequadamente desenvolvidas.

Evidenciação: Este blogueiro adquiriu a obra numa livraria, não tendo sido induzido a fazer esta postagem pelas partes interessadas.

21.2.13

Avaliação em setores regulados

Muito tem sido discutido sobre a regulamentação das concessões de energia elétrica no Brasil, devido à emissão da Medida Provisória 579/12. A norma visa a promover uma redução das tarifas, alterando a relação contratual com as empresas. Pouca atenção é dada, no entanto, ao cálculo da remuneração (taxa de retorno) considerada justa para uma concessionária, embora em vários debates a sua importância tenha sido citada. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) tem, recorrentemente, projetado taxas de retorno indevidamente altas. As diferenças são significativas, especialmente quando se considera que as taxas determinarão as "receitas teto" de eventuais licitações, por vários anos. A taxa de retorno é obtida, em termos ajustados à inflação, a partir do cálculo de custo do capital, supondo determinada combinação de capital de terceiros e capital próprio. Esse custo, porém, vem sendo superestimado pela Aneel. Ao analisarmos as Notas Técnicas e Resoluções Normativas produzidas entre 2007 e 2012, observamos que o custo de capital próprio tem sido estimado com um erro de pelo menos quatro pontos percentuais ao ano. O principal problema está na metodologia de cálculo utilizada pela agência, que projeta os prêmios por risco a partir de médias históricas de rentabilidade. Essa é uma prática comum, mas incorreta. Não corresponde ao conceito básico de custo de oportunidade do capital, que é o de "retorno numa aplicação com risco equivalente" disponível no momento de análise. Um procedimento mais coerente para aferir o retorno das companhias seria o enfoque do "prêmio implícito". Em vez de considerar, como faz a Aneel hoje, a média de valores históricos de rentabilidade, seriam contempladas as taxas observadas ao fim de cada ano analisado, no momento em que a análise estivesse sendo feita. Afinal, retornos passados não podem ser usados como estimativa de retornos futuros e, portanto, no cálculo do custo de oportunidade do capital. Também é questionável o uso do índice americano S&P 500 pela Aneel para calcular o prêmio por risco (equity risk Premium, ERP, na sigla em inglês) aplicado na fórmula do custo de capital. Não há por que não usar o mercado local para mensurar esse indicador, baseando-se nos preços de ações negociadas no Brasil. Da mesma forma, é bastante controversa a adição de prêmios por riscos que já estejam embutidos no comportamento do índice que represente a carteira de mercado de ações. No enfoque da Aneel, os riscos de negócio, financeiro e regulatório têm seus prêmios estimados a partir do prêmio por risco da carteira de mercado e do beta alavancado. Esse procedimento não seria incorreto, mas o fato é que os riscos país e cambial já afetam o risco da carteira de mercado e, portanto, adicionar um prêmio por risco país seria dupla contagem. Isso, porém, se estivesse sendo usada a carteira de mercado local — o que não é o caso, pois a Aneel escolheu o S&P 500. A incoerência do sistema da Aneel em determinar as taxas justas de retorno das companhias de acordo com o custo de oportunidade histórico fica ainda mais evidente em períodos de crise. Nesses momentos, os investidores se tornam mais cautelosos, veem uma elevação forte do nível geral de risco e fazem o quê? Exigem retornos mais altos, contribuindo para aumentar o custo de oportunidade do capital. No fim de 2008, entretanto, em meio às turbulências provocadas pela quebra do Lehman Brothers, a estimativa do custo de oportunidade do capital feita pela Aneel ficou mais baixa em comparação com os anos anteriores, indicando a ineficácia do modelo. Regulamentação das concessões de energia elétrica Por Antonio Zoratto Sanvicente Via Aqui

18.2.13

FAQs sobre aquisição de empresas

Quase toda semana a imprensa econômica anuncia uma grande operação de aquisição de uma empresa. Através das operações realizadas no passado é possível responder a algumas questões sobre este assunto.

Quem ganha numa operação de Aquisição?
Apesar o grande otimismo dos compradores, os maiores ganhadores são os acionistas das empresas adquiridas. Uma análise da cotação das ações das duas empresas, antes e depois da operação, mostra que o preço pago é geralmente maior que o preço de negociação e que as ações das empresas compradora sofrem queda no valor de mercado. Este comportamento ocorre tanto no curto prazo como no longo prazo.

A empresa compradora pode ganhar numa Aquisição?
O que foi dito na resposta anterior diz respeito a uma média de operações, conforme estudos realizados em diversos países. Obviamente que algumas operações – uma minoria – podem trazer vantagens para os compradores.

O que é sinergia?
Na justificativa para a operação, os compradores apressam em usar este termo, originário da teoria de sistemas, de Von Bertalanffy. Refere-se ao fato de que uma união entre as partes pode produzir um resultado maior que aquele que seria obtido separadamente. Assim, os “ganhos sinérgicos” dizem respeito ao resultado adicional pela existência da aquisição. Na maioria dos casos a sinergia é uma ilusão.

Será que o mercado, sabendo da história de acordos ruins, não é pessimista demais? Ou seja, o mercado não reagiria de maneira pessimista demais?
A princípio a resposta seria que sim. Mas tem-se verificado que o mercado não é pessimista como se poderia acreditar. A análise das transações no longo prazo tem-se revelado que os compradores continuam pagando mais do que deviam. Mas é importante salientar que este tipo de análise é muito difícil: seria necessário isolar a aquisição de outras variáveis que ocorreram posteriormente.
Quando se compara com outras estratégias de crescimento, a aquisição não seria a melhor delas?
Uma empresa pode crescer conquistando mercado, investindo em novos produtos, entre outras possibilidades. A aquisição é uma das estratégias disponíveis. Algumas pesquisas mostraram que desenvolver novos produtos pode ser melhor do que comprar uma empresa. Novamente aqui temos que ressaltar a dificuldade de fazer este tipo de comparação.
A maioria das pesquisas foi realizada em mercados desenvolvidos. Os mercados emergentes não seriam uma exceção?
É verdade que a maioria das pesquisas referente a aquisição foram realizadas nos mercados desenvolvidos. Mas a experiência mostra que o mesmo padrão ocorre também nos mercados emergentes. Existem casos notórios – a empresa brasileira JBS é um exemplo; além disto, as motivações para aquisição transcendem ao tipo de mercado.
Qual a razão das empresas continuarem adquirindo outras empresas?
Existem diversas explicações para a persistência no erro: fatores psicológicos, processo decisório, falta de governança corporativa, incentivos perversos, conflito de interesses e erros de cálculo.
Como um erro de cálculo pode influenciar na decisão?
A aquisição deve estar focada no futuro dos negócios. Muitas vezes quem faz a análise técnica não tem preparo suficiente e comete erros grosseiros. Um exemplo seria o uso do custo do capital ponderado pelos valores históricos.  Nestas situações, o peso do patrimônio líquido tende a ser menor; mas acontece que o capital próprio possui um custo maior que o capital de terceiros. Em outras palavras, o custo do capital termina sendo menor do que o correto, aumentando o valor da empresa.

Como o processo decisório pode fazer com que as empresas compradoras tomem decisões ruins?
Segundo Damodaran, provavelmente a decisão é feita pelo executivo principal. E depois a equipe técnica é solicitada para preparar os relatórios para justificar a transação. Isto ocorreu com a compra da Autonomy pela HP, um negócio que se mostrou algo horrível.

Qual o papel dos aspectos psicológicos nisto tudo?
Um dos motivos que fazem com que o executivo tome a decisão de maneira isolada é o excesso de confiança. Esta questão já foi observada em estudos empíricos na área de finanças comportamentais: as pessoas são muito confiantes nas suas habilidades e decisões.

Como é possível evitar que o administrador tome tantas decisões ruins de aquisição?
Alguns poderiam pensar que a melhoria na governança corporativa seria o remédio. Entretanto, mesmo empresas com boa governança estão no rol daqueles que comentem erros em aquisição. É o caso da HP, por exemplo. Talvez a solução esteja nos incentivos aos gestores: punindo as decisões ruins.

E os conflitos de interesses? Como eles agem para promover decisões ruins?
Em muitos processos de aquisição a empresa contrata consultores para ajudar no acordo. Estes consultores geralmente recebem por hora contratada, mas podem aumentar seus ganhos se o negócio é fechado. Assim, as empresas que deveriam ajudar com bons conselhos recebem um grande incentivo para dar único conselho: compre.

Qual o efeito contábil das decisões erradas de aquisição?
A empresa compradora irá registrar o ágio pago na aquisição. O problema é que na maioria dos casos o valor desembolsado é muito acima do que seria razoável: os negócios são transacionados por um preço superestimado, como comentamos anteriormente. Mas existe uma forma de resolver isto: o teste de recuperabilidade (denominado de impairment) permite que ao final de cada exercício a empresa possa amortizar o valor em excesso.

O ágio pago é realmente amortizado?
Dificilmente. Uma grande amortização contábil irá depender de negociação interna na empresa. Dificilmente o contador irá fazer uma amortização sem a autorização do presidente da empresa. Mas, como comentamos anteriormente, foi este presidente de precipitou a compra errônea. E ele dificilmente irá permitir que parte do ágio fosse amortizada. Isto geralmente ocorre quando a empresa se livra do presidente de tomou a decisão ruim. 

3.1.13

Evidenciação demais


Eu acho que o maior problema é que as regras de evidenciação transformaram as demonstrações financeiras em depósitos de dados. Para isto, dê uma olhada nos 10K de uma empresa de capital aberto, mesmo que pequena, e você vai ver um documento com dezenas ou mesmo centenas de páginas. Por exemplo, o 10K mais recente da Procter  Gamble possui 239 páginas e é magro ao lado do 10K mais recente do Citigroup que possui mais de 300 páginas. Se você está interessado em avaliar a Procter  Gamble ou o Citigroup, você terá que trabalhar através destas páginas, separando o trigo do joio, ou mais especificamente, a informação dos dados. Confrontado com a sobrecarga de informações, é fácil se distrair com clichês legal (assim como você pode jogar fora toda a seção que discute risco) e os detalhes triviais das evidenciações modernas. Na minha estimativa, menos de 10% (e estou sendo generoso) da divulgação financeira moderna tem algum valor para um investidor.

Damodaran