23.6.10

GP Investimentos

Qual é o erro no estilo de gestão da GP Investimentos?
Maria Luíza Filgueiras - Brasil Econômico - 23/06/10

Referência em private equity na América Latina, gestora tropeça em apostas de investimento como Imbra e San Antonio

A empresa de private equity GP Investimentos anunciou no domingo (20) à noite o desenrolar de um negócio mal-sucedido, passando adiante a rede odontológica Imbra, por US$ 1.

Na prática, pode-se dizer que "pagou" à vista R$ 20 milhões para se desfazer da operação, já que fez empréstimo neste valor à nova controladora, a Arbeit, cujo pagamento está condicionado aos resultados do plano de reestruturação e comprometeu um novo cheque no mesmo montante, se necessário.

A gestora já vinha sinalizando nos balanços financeiros a dificuldade em fazer a Imbra decolar, pela informalidade e pulverização em pequenas clínicas do segmento.
O que chama atenção, entretanto, é a sequência de desarranjos em que a GP se meteu, contando nesta lista recente San Antonio e Magnesita, já que a gestora sempre foi tida como referência em private equity na América Latina, e com estratégias copiadas por fundos menores.

É creditado ao modelo "arrasa-quarteirão" da gestora, com forte interferência no dia a dia das companhias investidas, resultados como o obtido na Gafisa, em que a GP multiplicou por seis o investimento feito, e na Hypermarcas, onde obteve Taxa Interna de Retorno (TIR) de 56%, em dólares.

De repente, o que está dando errado no formato GP de gerir?

Segundo gestores concorrentes e analistas financeiros, ser uma empresa listada em bolsa fez com que a GP antecipasse a conclusão de alguns negócios, na pressa de mostrar resultados.

Essas avaliações rápidas têm resultado em ausência de due dilligence (auditoria fiscal e contábil), que teria sido o caso da Imbra. Além disso, apontam que a gestora opera suas empresas de forma alavancada (relação entre dívida e Ebitda) e, em viradas de mercado, esbarra na limitação de cláusulas de endividamento (covenants) feita com bancos.

Outras companhias de private equity, como Advent e Gávea, operam modelo diferente. O Gávea compra participações minoritárias e costuma evitar alavancagem.

O Advent foge de operações que ainda estão saindo do papel e negócios com uso intensivo de capital, como indústria e setor de óleo e gás.

Nas operações recentes da GP, a crise financeira pode ser culpada por boa parte das surpresas negativas. "Mas a GP também está aprendendo a ser mais cautelosa", considera um gestor concorrente.

O que a perfuradora de poços de petróleo San Antonio vive hoje, no centro da preocupação dos acionistas da GP e cotistas de seu fundo GPCPV, é semelhante ao que ocorreu com a Magnesita.

Com uma operação cara, as duas empresas foram impactadas pela retração do mercado internacional a partir de 2007, que gerou desequilíbrio financeiro, contração de dívida, dificuldade de rolagem e consequente quebra de covenants.

Na Magnesita, boa parte da dívida vinha da aquisição da alemã LWB e, na San Antonio, da forte queda de demanda. Segundo fonte de um dos bancos credores, a companhia tem tido dificuldades para pagar o juro, sem falar no principal da dívida.

A estimativa feita por analistas do Barclays é que o endividamento líquido da empresa esteja perto de US$ 700 milhões, cinco vezes o Ebitda projetado para este ano.

A empresa está no meio do processo de renegociação de dívida, com foco nos vencimentos de curto prazo.

Na prática essas foram as duas únicas aquisições (do histórico de 49) feitas com alavancagem. Procurada peloBrasil Econômico, a GP Investimentos não quis se manifestar.

Novo fôlego

Depois da trajetória turbulenta, a Magnesita é tida hoje como uma das referências de choque de gestão da GP.

A gestora implementou o modelo de Cost Per Perfomance (CPP) na operação, para aumentar a produtividade do cliente e conseguiu renegociar a dívida, mesmo depois de romper os limites financeiros iniciais.

Em março, emitiu títulos no exterior no montante de US$ 400 milhões, com vencimento em 2020 e juro de 7,875% ao ano, dos quais US$ 300 milhões para pagar JP Morgan, Bradesco e BB.

Também renegociou o restante da dívida com Bradesco e Itaú BBA, com redução do spread de 4% para 2,75% a.a.

Com o Bradesco, reduziu o número de parcelas, de quatro para três, jogando a primeira para 2013.