11.6.13

Risco Brasil

O mercado secundário de títulos de dívidas internacionais tem registrado um constante mau humor dos investidores estrangeiros com o Brasil, que já embutem nos preços um risco de 'downgrade' das notas de riscos de crédito. Dois dos principais indicadores de risco de probabilidade de calote usados internacionalmente - o Emerging Markets Bond Index Brazil (Embi+ Br) e os Credit Default Swaps (CDS) - refletem uma piora desde o final do ano passado, se acentuando mais recentemente e refletindo uma nota de crédito pior do que as notas das próprias agências de classificação. 

O primeiro índice terminou o ano em 146 pontos e agora já ultrapassa os 200 pontos, ou seja com prêmio 2% maior do que os títulos do Tesouro americano, representando uma alta de 35%. Já o segundo índice já subiu subiu 53 pontos nos últimos 30 dias - maior alta desde março de 2009, segundo a Bloomberg - para fechar em 159,9 pontos ontem, alta de 45% no ano. 

O custo é o mais alto em 11 meses, e o CDS do Brasil já estão em média 35 pontos mais caros do que os de México, Peru, Colômbia e Panamá. Quanto mais alto, maior a desconfiança dos investidores nos papéis de governo, empresas e bancos brasileiros emitidos no exterior em moeda estrangeira. O EMBI mede a diferença entre as taxas pagas por uma cesta de papéis (brasileiros, no caso) e os juros pagos pelos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Os CDS são contratos de hedge que os investidores em papeis brasileiros compram para se proteger contra um eventual calote do emissor. 

A alta pode ser interpretada como indício de que os investidores estão apostando que o corte da nota de classificação de risco do Brasil, atualmente em nível 2 de "grau de investimento" BBB pode ser inevitável, caindo um nível, mas ainda permanecendo no "grau de investimento" (na quinta-feira, a Standard& Poor´s colocou a nota do Brasil em perspectiva negativa - leia mais na página ao lado).

Risco Brasil sobe mais de 35% apenas em 2013 - Léa De Luca - Brasil Econômico - 11/06/13

5.6.13

Previsão Usando o Mercado

O mundo empresarial depende cada vez mais das previsões. Isto inclui desde o comportamento no próximo trimestre da economia, passando pela possibilidade de uma guerra ou o desempenho das vendas de um novo produto. Nestas situações, podem-se utilizar modelos estatísticos de séries temporais, cuja base é o passado. Outra possibilidade é usar especialistas para fazer as projeções.

Para isto, constrói um “mercado” fictício. As pessoas são incentivadas a apostar o que irá ocorrer no futuro, sendo recompensadas com o acerto. Assim, os participantes são incentivados a revelar suas informações, ao contrário do consultador que faz uma previsão, que pode ter incentivo em “errar” propositalmente. Ao participar de um mercado como este, as pessoas passam a pensar sobre o assunto, criando especialistas no assunto, que tentarão incorporar as melhores informações. Como o objetivo é simular um mercado, a existência de muitas pessoas participando do mercado impede que exista uma manipulação das apostas.

Uma técnica recente é utilizar o mercado para fazer as previsões. Esta alternativa possui algumas vantagens atraentes. Em primeiro lugar, novas informações são rapidamente incorporadas nas previsões. Isto ocorreu, por exemplo, com o “mercado” de previsão da morte de Bin Laden. Neste caso, os apostadores anteciparam a divulgação da notícia em oito minutos em relação a grande imprensa. Outra vantagem é que esta técnica é menos suscetível a manipulação que a opinião de um consultor ou a seleção de dados de um quantitativo. Nas eleições presidenciais dos Estados Unidos uma grande aposta na vitória de McCain em 2008 tentou manipular o mercado de apostas da Intrade, mas o próprio mercado tratou de revolver o problema. Finalmente, o uso de mercado tem-se revelado um desempenho superior as outras técnicas, com um menor erro na previsão.

Mesmo assim, existem situações onde o mercado fracassa na previsão. Em geral isto ocorre quando a informação está muito concentrada em algumas pessoas, não existe incentivo para a evidenciação de novas informações, existem problemas na formulação da previsão ou ocorre um viés comportamental. O problema comportamental ocorre, por exemplo, nos esportes, como a previsão de medalhasde um país.

Para que isto não ocorra, é preciso assegurar que a questão esteja bem definida, que desperte interesse suficiente para garantir ampla participação, tornando o mercado mais líquido, e fazendo com que a informação esteja dispersa. Isto garantido, as evidências mostram que o mercado faz melhor previsão que as pesquisas com especialistas e as projeções realizadas internamente.

Para ler mais:
SNOWBERG, Erik; WOLFERS, Justin; ZITZEWITZ, Eric. PredictionMarkets for Economic Forecasting. Working Paper, 2012.
SUROWIECKI, James. Sabedoria das multidões. Record, 2006.