26.4.07

ABN: briga ainda não terminou

Esquenta a briga pelo ABN Amro
26/04/2007 - The Wall Street Journal

Por Jason Singer em Londres, Carrick Mollenkamp em Edimburgo, Escócia, e Edward Taylor em Amsterdã

Enquanto os pretendentes tentam comprar o ABN Amro Holding NV na maior aquisição bancária do mundo, o banco holandês está em conflito com seus próprios acionistas.

O ABN — dono do Banco Real, o terceiro maior banco privado do Brasil — recebeu ontem uma oferta não negociada de € 72,27 bilhões (US$ 98,54 bilhões), dois dias depois de ter fechado acordo para ser vendido ao Barclays PLC do Reino Unido por € 64,75 bilhões. Agora o ABN terá de equilibrar-se entre acionistas irritados, que querem uma batalha pela sua aquisição, e o estilo europeu de administrar uma empresa, que tem o objetivo de satisfazer a empregados, clientes e o que o alto escalão chama de outros "interessados".

Executivos do ABN tiveram uma conversa pelo telefone marcada ontem com seus pretendentes indesejados, um trio de bancos liderado pelo Royal Bank of Scotland Group PLC que inclui o espanhol Banco Santander Central Hispano SA e o belgo-holandês Fortis NV. Mas houve pouco progresso na resolução das diferenças entre os dois lados, dizem pessoas que foram informadas da conversa.

O acordo do ABN com o Barclays incluiu uma cláusula pouco comum de venda do LaSalle Bank, dos EUA, ao americano Bank of America Corp. por US$ 21 bilhões. Tirar o LaSalle das mãos do banco holandês o deixaria menos atraente para vários pretendentes. O consórcio disse ontem que sua proposta estava condicionada à manutenção do LaSalle pelo ABN.

A briga entre o ABN e seus acionistas sobre como ele conduziu a venda deriva da determinação do ABN em manter seus negócios intactos. O diretor-presidente do banco holandês, Rijkman Groenink, disse várias vezes que não quer que a instituição seja dividida.

O grupo do RBS disse que dividiria as subsidiárias dos Estados Unidos, Reino Unido, Holanda, Itália, Brasil e Ásia, na essência encerrando a história de 183 anos do ABN. Nessa divisão, o Banco Real provavelmente ficaria com o Santander, uma união que criaria um banco capaz de rivalizar em porte com o Banco Itaú SA ou o Banco Bradesco SA. O Barclays, por outro lado, prometeu manter a maioria do império, e até mesmo mudar sua sede de Londres para Amsterdã. Vários executivos do ABN continuariam a chefiar divisões importantes do novo banco, outro motivo pelo qual a direção do banco holandês apóia o acordo com o Barclays.

A diretoria do ABN diz que tem de analisar outros aspectos antes de aceitar a oferta mais alta para os acionistas, entre eles como seus empregados serão tratados e a posição do banco na Holanda. Os empregados do banco também adotaram essa postura através do órgão que os representa.


Esse argumento poderia funcionar na Europa continental de antigamente, mas hoje em dia a pressão dos acionistas está maior do que nunca, na medida em que fundos e hedge e outros tentam maximizar seu retorno. Tais investidores abocanharam as ações do ABN desde que a empresa anunciou no mês passado que estava negociando sua venda. O fundo londrino The Children's Investiment Fund Management, que tem pouco menos de 3% das ações do ABN e o tem pressionado a aceitar a oferta mais alta, disse que o conselho do banco tem de recomendar a oferta do consórcio — se permitir que ele verifique sua contabilidade — e reverter a venda do LaSalle.

O LaSalle, que tem sede em Chicago, é uma peça importante para os planos do RBS, que quer uni-lo a sua subsidiária americana. O LaSalle também é altamente cobiçado pelo Bank of America, que há muito tempo busca uma presença maior em Chicago, onde é relativamente fraco.

O Bank of America entrou em contato com o ABN pouco depois que o consórcio liderado pelo RBS anunciou seu interesse em comprar o banco holandês, que esteve em negociações exclusivas com o Barclays por quase um mês. Em apenas quatro dias, o ABN concordou em vender o LaSalle ao Bank of America por um preço cerca de 75% acima de suas próprias estimativas.

Executivos do ABN e do Bank of America disseram ontem que seu acordo não pode ser revertido. O contrato deu ao ABN 14 dias para encontrar uma oferta melhor pelo LaSalle. O Bank of America tem a opção de cobrir qualquer nova oferta. Não há nenhuma outra cláusula no contrato que permita ao ABN cancelar a venda do LaSalle.

Sem o LaSalle, o RBS não terá interesse em disputar o ABN. Os três bancos do consórcio assinaram um acordo inicial em que nenhum dos integrantes iria tentar comprar por conta própria partes do ABN.