Ford compra a fábrica de jipes Troller e investe R$ 2,2 bi no País
Investimento vai de 2007 a 2011 e será concentrado no desenvolvimento de novos produtos
Cleide Silva e Leonencio Nossa
A Ford anunciou ontem a compra da fabricante de jipes e picapes Troller, de Horizonte (CE), após sete meses de negociações. O negócio faz parte de um investimento de R$ 2,2 bilhões prometido para os próximos cinco anos. Parte do dinheiro, gerado pela própria operação brasileira, será gasto na fábrica da Bahia, onde o grupo opera no limite da capacidade, e no desenvolvimento de novos produtos.
A montadora não revela quanto pagou pela Troller, mas o vendedor, Mário Araripe, em declarações à imprensa cearense, falou em R$ 400 milhões de investimentos. A Ford também vai herdar os incentivos fiscais obtidos pela fabricante brasileira no regime automotivo especial para empresas que se instalaram no Nordeste. A demora do governo em liberar a transferência foi um dos motivos para que a negociação demorasse tanto.
O anúncio do investimento, o maior da empresa para um período qüinqüenal, foi feito ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, pelo presidente da Ford América do Sul, Dominic DiMarco, e pelo principal executivo da montadora no Brasil, Marcos de Oliveira. Participaram também os governadores da Bahia, Jacques Wagner, e do Ceará, Cid Gomes.
De 1999 a 2003, a Ford investiu US$ 1,9 bilhão na implantação da unidade de Camaçari (BA), que produz os modelos Fiesta e EcoSport, principais responsáveis pela recuperação da marca no País.
Oliveira informou que a Ford vai manter a marca Troller, mas não definiu se os veículos terão também o selo oval da companhia americana. 'No curto prazo, vamos manter a produção do jipe T4 e da picape Pantanal, mas para o médio prazo estudamos outros produtos.'
A Troller estava sob o comando de Araripe, um empresário do setor têxtil, desde 1997, e emprega 500 funcionários. Por mês, a empresa monta entre 100 a 150 veículos T4 e Pantanal. A Ford garantiu ao presidente Lula que manterá o quadro de funcionários e, no futuro, poderá ampliá-lo.
Oliveira informou que o novo investimento não inclui os R$ 300 milhões anunciados para a produção de um novo modelo compacto em São Bernardo do Campo (SP), previsto para ser lançado no fim deste ano ou início de 2008. A decisão da Ford de aumentar os investimentos no Nordeste, em especial, animou o presidente Lula. Segundo parlamentares, ele chegou a brincar dizendo que, se ainda fosse sindicalista na região do ABC, iria reclamar do tratamento dado ao Nordeste.
BOA FASE
'Este investimento de R$ 2,2 bilhões reflete o compromisso da Ford com o País, a economia em crescimento e a estabilidade econômica', afirmou DiMarco. E ocorre num momento em que a matriz do grupo nos Estados Unidos passa por profunda crise, com fechamento de fábricas e demissão de milhares de trabalhadores. Até setembro, a companhia acumulava prejuízos de US$ 7,2 bilhões.
A Ford vive a melhor fase em seus mais de 80 anos de Brasil, depois de quase ter fechado uma fábrica no início dos anos 90. A empresa deve registrar em 2006 o quarto ano seguido de lucro na América do Sul, onde o País representa mais de 60% das vendas. Até setembro, acumulava lucro de US$ 451 milhões. O balanço final será divulgado nos próximos dias, mas Oliveira, que assumiu a filial brasileira em dezembro, antecipou que será um dos melhores da história da marca.
Quarta maior fabricante de carros no Brasil, a Ford vendeu no ano passado 220.670 veículos, o que lhe garantiu fatia de 12% do mercado. A aquisição da Troller não deve alterar esses índices, pois, de início, a produção será limitado ao nicho de produtos chamados de fora-de-estrada, ou off road. É um dos segmentos que mais cresce no País e todas as montadoras estão buscando produtos para atender esse nicho.
Segundo Oliveira, o interesse pela Troller nasceu diante do desempenho da marca. 'É a única empresa brasileira de utilitários com resultados positivos e que, nos últimos seis anos tem obtido boa receptividade do mercado, apesar dos baixos volumes de vendas.'
A Troller tem alguns contratos de exportação para Angola, Emirados Árabes e Moçambique, mas os pedidos foram prejudicados pela valorização do real frente ao dólar, que reduziu a competitividade do produto nacional. A Ford não divulgou planos de exportação dos veículos da marca e informou que, nos próximos três meses, fará um diagnóstico completo da companhia para decidir novos projetos.
Fonte: Estado de 05/01/2007