Tata oferece US$ 11,3 bilhões e bate CSN na disputa pela Corus
Empresa indiana supera a brasileira com oferta de US$ 100 milhões a mais pela siderúrgica européia
Agnaldo Brito
A indiana Tata Steel bateu a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) na disputa do controle da anglo-holandesa Corus. Com isso, a Tata sai da 52ª posição do ranking mundial do aço e alcança a 5ª posição entre os maiores do setor siderúrgico no mundo.
Marca ainda uma escrita: o avanço dos indianos no setor produtor de aço. No ano passado, a Mittal Steel, então maior grupo siderúrgico do planeta, surpreendeu o mercado com uma oferta hostil pelo controle da Arcelor, então segunda do ranking. Hoje, a Arcelor Mittal é a maior companhia siderúrgica do mundo, com produção superior a 100 milhões de toneladas por ano.
O leilão da Corus foi iniciado no começo da tarde de ontem no Brasil e terminou por volta das 23 horas (horário de Brasília). A Tata fez uma oferta final de 608 pence por ação da Corus, um valor final de US$ 11,3 bilhões pela companhia produtora de 18 milhões de toneladas de aço por ano.
Para vencer a corrida com a rival brasileira, a Tata foi obrigada a elevar em 33,6% o valor da primeira proposta de compra da empresa, feita em outubro. O primeiro lance, ainda sem a presença da CSN, havia sido de 455 pence por ação, ou US$ 7,6 bilhões.
No duelo de ontem, a CSN chegou a uma oferta de 603 pence por ação, um valor máximo de US$ 11,207 bilhões pelo controle da Corus.
A avaliação de pessoas ligadas ao negócio no final da noite de ontem era que o leilão foi disputado e chegou até o limite previsto pelas regras. Segundo a agência reguladora de fusões e aquisições do Reino Unido, a disputa poderia se desenvolver em nove rodadas.
O empresário Benjamin Steinbruch, controlador da CSN, deverá fazer um pronunciamento hoje sobre o duelo que travou com a Tata. Há perspectiva de que a companhia brasileira faça ao menos um comunicado formal ao mercado.
A CSN entrou na disputa em novembro com uma oferta agressiva pelo controle da Corus. Um dia após a Tata ter elevado a proposta de compra a 500 pence, a companhia brasileira ofertou 515 pence, o equivalente a US$ 9,6 bilhões. O mercado brasileiro chegou a acreditar na possibilidade de a CSN vencer a rival indiana.
A maior parte dos diretores da empresa ficou acompanhando o leilão de São Paulo. Steinbruch acompanhou o andamento do leilão na sede da empresa. Os diretores não se pronunciaram sobre a perda da disputa. Apenas o diretor financeiro da CSN, Otávio Lazcano, está em Londres, onde a empresa montou um QG.
O mercado financeiro considerou as propostas da CSN e da Tata elevadas demais. A principal conta de referência dos analistas financeiros leva em consideração o valor de mercado, as dívidas e a geração de caixa da empresa. Ao pagar 600 pence por ação, esse múltiplo vai a 7,3, um número considerado alto demais pelos analistas.
A mesma avaliação no maior negócio siderúrgico realizado nos últimos tempos (a união entre a Mittal e a Arcelor) resultou num múltiplo de 5,5 vezes. “Esse número acabou por se tornar uma referência sobre fusões e aquisições no mercado mundial. E, como se observa, a Corus já superou esse limite”, explica Rodrigo Ferraz, analista de mineração e siderurgia do Banco Brascan.
Com valores tão altos como o pago pela Tata, fica mais difícil convencer os investidores financeiros a emprestar recursos para a siderúrgica em condições razoáveis. Essa é a explicação para a CSN não ter prosseguido no leilão e ter perdido por uma diferença relativamente pequena para a Tata.
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