Bolívia aceita pagar US$ 112 mi por refinarias, diz Rondeau
Inicialmente a Petrobras havia pedido um valor de US$ 200 milhões pelas refinarias
Leonardo Goy
BRASÍLIA - A Petrobras fechou nesta quinta-feira, 10, um acordo com a Bolívia que, na prática, foi uma "liquidação" de suas refinarias naquele país. Depois investir US$ 124 milhões, a Petrobras vai recuperar apenas US$ 112 milhões, em duas parcelas, que poderão ser quitadas com o fornecimento de gás. Com isso, a estatal brasileira abandonou o refino de petróleo na Bolívia e se livrou de um ambiente de negócios imprevisível pelas constantes mudanças nas regras dos contratos. "O diálogo prevaleceu. Estamos satisfeitos com o entendimento", comentou o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau.
Ao anunciar o resultado das negociações, ele informou que será criada uma comissão de transição para conduzir o processo de passagem do controle das refinarias para a estatal boliviana YPFB. O valor de US$ 112 milhões, segundo Rondeau, inclui ativos e estoques das refinarias e foi o preço pedido pela Petrobras desde o início das negociações. Assim, ele contrariou informações que o preço de venda, inicialmente, era de US$ 153 milhões.
O ministro negou, também, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha interferido na definição do valor da venda das refinarias. "O presidente Lula, desde o início da discussão, sempre apoiou a posição comercial da Petrobras no assunto. O presidente não entrou na questão do preço", afirmou.
O presidente da Bolívia, Evo Morales, contudo, no final das negociações, agradeceu a Lula pela intermediação no acordo entre o governo boliviano e a Petrobras para a compra das refinarias. "O companheiro Lula continua sendo um irmão maior. Precisamos do Brasil para que a Bolívia se levante", declarou Morales.
Ele acusou a imprensa de provocar tensão entre os dois governos. Morales acrescentou que continua mantendo boas relações com Lula. "Jamais entraremos em choque", assegurou o líder boliviano. Morales não entrou em detalhes sobre como o governo boliviano pagará pelas refinarias.
Negociação
A compra foi acertada ao final de uma reunião entre o presidente da Bolívia e os ministros envolvidos na questão energética na sede do governo, o Palácio Quemados. No final da manhã, a resposta foi apresentada verbalmente pelo ministro de Hidrocarbonetos e Energia, Carlos Villegas, ao presidente da Petrobras Bolívia, José Fernando de Freitas, e ao embaixador do Brasil em La Paz, Frederico Araújo.
A definição do preço, entretanto, não encerrou o imbróglio nem dissipou o clima de desconfiança da Petrobras e do governo brasileiro em relação à palavra dada pela equipe de Evo Morales. Uma resposta definitiva, registrada em papel e assinada, foi exigida pelo lado brasileiro. O documento foi entregue no início da noite, ao final de negociações técnicas.
Proposta
O preço de US$ 112 milhões pela venda de 100% das ações das refinarias da Petrobras em Santa Cruz de la Sierra e em Cochabamba foi o principal ponto da proposta apresentada na última terça-feira pela companhia brasileira ao governo boliviano. A oferta refletiu a decisão da Petrobras de retirar-se totalmente da atividade de refino de petróleo na Bolívia, mesmo com prejuízo de cerca de US$ 40 milhões para a companhia brasileira.
A Petrobras havia adquirido essas mesmas plantas do governo boliviano no final de 1999, em atendimento a um apelo do então presidente Hugo Bánzer. Na época, duas refinarias custaram US$ 104 milhões. Desde então, a companhia investiu cerca de US$ 20 milhões em melhorias operacionais dessas plantas.
A proposta de venda das refinarias foi apresentada na última terça-feira pela Petrobras, como reação à decisão do governo Evo Morales de editar o decreto supremo 29.122, que determinou a expropriação do fluxo de caixa dessas refinarias. A notícia chegou ao governo brasileiro quando estava em curso a negociação da proposta anterior da Petrobras de manter uma cota de 20% das refinarias e de atuar em parceria com a YPFB no setor de refino de petróleo.
Essas conversas, segundo fontes, a Petrobras já havia baixado o preço total das refinarias de US$ 153 milhões para US$ 135 milhões, mas as autoridades bolivianas não aceitavam preço superior a US$ 110 milhões. Até o último dia 28, as autoridades bolivianas asseguravam que nenhuma medida unilateral seria adotada pelo governo antes da conclusão dessas negociações.
Fonte: Estado
No jornal Estado de 10/5/2007 (p. B4) informava que o mercado recebeu mal o valor negociado pela Petrobrás. Em 1999 a Petrobrás pagou $104 milhões e fez diversos investimentos nas unidades.
Evo blefou ao propor US$50 milhões e no final estará pagando o valor contábil.