9.5.07

Apoio do Sindicato

Num processo de aquisição de empresa, é importante ter apoio de todas as partes. Um caso interessante, relatado pelo Wall Street Journal, mostra como a CSN esqueceu de obter o apoio do sindicado nos Estados Unidos.

Como a CSN tropeçou num sindicato nos EUA
09/05/2007 - Por Bernard Wysocki Jr., Kris Maher e Paul Glader

PITTSBURGH — Quando a CSN preparava-se no ano passado para comprar a siderúrgica americana Wheeling Pittsburgh Corp., as duas empresas não estavam nem aí para a oposição do sindicato United Steelworkers Union.

Isso foi um erro.

O USW queria um comprador que considerasse mais favorável aos sindicatos do que a CSN, e o encontrou na Esmark Inc., uma empresa de Chicago. Diretores da Esmark prometeram que não haveria demissões. O sindicato apoiou a Esmark, que então levou adiante uma campanha junto aos acionistas para derrubar o conselho da Wheeling Pitt. Em novembro, ela ganhou.

"Nós mudamos o conselho inteiro em um só dia", diz Ron Bloom, o líder do USW na batalha.

Numa época em que mais empresas brasileiras tentam aquisições nos Estados Unidos, um país onde o sindicalismo parece um frágil anacronismo, o USW vem exercendo bastante poder, ao lidar de maneira séria com os capitalistas. Sua estratégia, em vez de simplesmente socar a mesa e pedir aumentos ou ameaçar greve, é bloquear aquisições, tomar partido em batalhas de aquisição e brigar por vagas no conselho.

O sindicato também mostra força na mesa de negociações em concordatas, intitulando-se "credor" cujos créditos são os salários e benefícios perdidos dos trabalhadores. Em sua tática mais sofisticada, ele fecha acordos com firmas de private equity e outros financistas. "Se você não entrar no jogo, vai realmente se ferrar", diz Leo Gerard, presidente do sindicato, que tem 850.000 filiados e representa trabalhadores nas áreas de química, papel, alumínio e outras, além da siderurgia.

O motivo pelo qual o USW pode influenciar as aquisições vem de um direito contratual chamado cláusula de sucessão. Na maioria dos sindicatos americanos, essas cláusulas obrigam a empresa que comprar uma usina coberta por um acordo coletivo a respeitar o contrato de trabalho já existente. Mas os acordos coletivos do USW vão além: muitos ditam que a empresa sucessora e o sindicato devem chegar a um acordo sobre um novo contrato antes de a usina ser vendida. Esse direito, que os metalúrgicos obtiveram na maioria de seus contratos de trabalho em meados dos anos 1980, dá a eles o poder de vetar a venda de uma usina.

Das dezenas de negociações nos últimos anos, poucas mostram tanto o poder dos sindicatos de metalúrgicos quanto a briga pela Wheeling Pittsburgh.

A siderúrgica era considerada fraca diante das rivais e candidata a ser adquirida. Em 2005, seu conselho contratou um banco de investimentos e avaliou possíveis parceiros, inclusive a Esmark. Mas fechou acordo com a Companhia Siderúrgica Nacional SA. Clark Ogle, então diretor da Wheeling Pitt, diz: "Achamos que seria mais prudente ter um sócio. A CSN parecia a escolha mais lógica."

O sindicato não concordava. Bloom diz que não havia nada de "inerentemente errado" com a CSN, uma siderúrgica forte e de baixo custo. Mas ele e Leo Gerard analisaram a proposta e concluíram que ela beneficiava demais a CSN e não o suficiente os metalúrgicos americanos. O sindicato temia que a CSN poderia importar chapas de aço baratas do Brasil para laminação e processamento nos EUA, o que diminuiria a necessidade de trabalhadores americanos.

Bloom foi repelido quando manifestou seus questionamentos à direção da Whelling Pitt. Em meados de 2006, o USW deu sua cartada. Invocou uma cláusula de sucessão ainda mais potente, que havia negociado anteriormente com a Wheeling Pitt e compreendia a empresa inteira, e seria ativada diante de qualquer mudança de dono. O sindicato prometeu se opor à venda para a CSN.

"O que fazemos melhor é parar as coisas", diz Bloom.

Ele informou à Wheeling Pitt que o sindicato apoiaria a Esmark, uma empresa que a siderúrgica havia rejeitado.

A Esmark sabia muito bem que quando o sindicato dos metalúrgicos se opõe às medidas da empresa, ele pode se fazer ouvir através de comunicados raivosos, ameaças de greve ou outras medidas que chamem a atenção dos investidores. "É suicídio tentar comprar uma siderúrgica sem o apoio do sindicato", disse Bouchard.

É uma lição que a CSN aprendeu tarde demais. "Não ficamos do lado do sindicato desde o início, então eles viraram nossos inimigos", diz Luiz Ernesto Migliora, diretor da CSN. Ele diz que a empresa continua interessada em comprar ativos no setor siderúrgico americano, mas, da próxima vez, "jamais tentarei fazer qualquer coisa sem obter primeiro o apoio do sindicado".