17.9.07

ABN: a questão a aquisição continua

Turbulência nos mercados afeta corrida por controle mundial do banco holandês
Folha de São Paulo - 17/09/2007

Maior símbolo da pujança recente da indústria bancária global, a disputa pelo holandês ABN Amro Bank ficou em segundo plano após a crise nos mercados, originária do crédito imobiliário ruim nos EUA e que afeta diretamente a contabilidade dos maiores bancos do mundo. A turbulência derrubou o preço das ações do setor e representou um duro golpe na ambição do britânico Barclays de comprar o banco holandês por meio de troca de ações.

Por conta do impacto da crise no preço das ações, a oferta do Barclays pelo ABN era avaliada na sexta em cerca de US$ 82 bilhões, enquanto a do consórcio Santander/Fortis/RBS -que é 93% em dinheiro- soma hoje cerca de US$ 97 bilhões. As duas propostas devem ser avaliadas na quinta pelos acionistas do ABN, mas a decisão só sai a partir do dia 4 de outubro.

Ontem, o conselho do ABN informou que não recomendará nenhuma das duas propostas para os acionistas. Em maio, o mesmo conselho chegou a anunciar o fechamento do negócio com o Barclays.

Os gestores do banco holandês foram duramente criticados pelos acionistas por recomendar a proposta do Barclays mesmo sabendo que a oferta do consórcio era superior, sendo a maior parte em "cash". A diferença é que o consórcio quer retaliar [retalhar] as subsidiárias do banco no mundo, enquanto o Barclays somaria esforços para enfrentar a concorrência com as grandes instituições globais, de perfil mais agressivo.

No comunicado divulgado ontem, o ABN afirmou apenas que a proposta do consórcio era mais arriscada. Para os conselheiros, a soma de dinheiro que o consórcio ainda precisa levantar é "alta em termos absolutos e relativos" e que as "circunstâncias de mercado são voláteis" neste momento.

Enquanto a proposta do Barclays passou pelos órgãos reguladores, a oferta do consórcio aguarda referendo das autoridades financeiras holandesas e a aprovação dos reguladores da União Européia.

Os bancários holandeses manifestaram preocupação com ambas as propostas, mas parecem mais favoráveis à oferta do Barclays. Isso porque a vitória do consórcio deve trazer maior sobreposição de funções entre o ABN e o Fortis, o que resultaria em mais demissões.

O Barclays afirmou que demitiria 20 mil pessoas, a maior parte no Reino Unido, em conseqüência da fusão. Já o consórcio informou que tentará fazer a maior parte dos desligamentos por meio de programas de demissão voluntária.