Quanto vale o valor existente no caixa de uma empresa? Esta é fácil: o próprio valor nominal. Basta então contar as cédulas existentes e temos o valor do caixa.
Entretanto, existem algumas exceções a esta regra. A mais relevante é quando o dinheiro que temos no caixa não é amplamente aceito. Nestas situações o valor nominal não é a melhor expressão do valor do caixa.
Uma reportagem do Wall Street Journal de hoje narra situações onde uma nota de cem dólares não vale cem dólares. A seguir:
Quanto vale uma nota de US$ 100? Em alguns lugares, nem US$ 90
November 2, 2006 4:05 a.m.
Por Michael M. PhillipsThe Wall Street Journal
Antananarivo, Madagáscar — Uma vez por mês, Jean Yves, um atendente num navio de cruzeiro italiano, entra na fila do caixa para receber seu pagamento — sete notas de US$ 100.
Se tiver sorte, as notas valerão de fato US$ 700 quando ele chegar ao porto e tentar gastá-las. Se não, elas valerão algo mais perto de US$ 600. A diferença? As notas boas são aquelas que trazem a assinatura do ex-secretário do Tesouro americano John W. Snow. As ruins são assinadas pelo ex-secretário Robert E. Rubin.
"Quem chega primeiro recebe o dinheiro novo", reclamou Jean Yves recentemente depois de retornar para casa em Madagáscar ao fim do cruzeiro. Aqueles no fim da fila têm um corte salarial instantâneo, porque em muitos países que o navio visita, notas antigas de dólar já não valem tanto quanto as novas.
Os americanos estão acostumados com a idéia de que sua moeda seja válida em qualquer país. Afinal, é uma questão de princípio que os Estados Unidos nunca invalidam suas notas. O governo pode acrescentar marcas d'água, inserir fios de segurança ou ampliar a face de Benjamin Franklin na nota de cem dólares, mas as notas antigas ainda têm valor legal.
Fora dos Estados Unidos, entretanto, essa garantia tem menos peso. Em muitos países, da Rússia a Cingapura, o valor do dólar depende não somente das forças econômicas globais que movem o mercado de câmbio internacional, mas também da idade, condição e denominação das notas em si. Algumas casas de câmbio e bancos temem que notas de dólar de grande valor sejam falsificadas. Alguns não querem ter o incômodo de lidar com notas pequenas. Alguns não querem assumir o risco de não poder passar adiante notas velhas ou estragadas. E alguns simplesmente não gostam da aparência delas.
O imã que toca uma casa de câmbio informal em sua loja de produtos religiosos em Foumban, Camarões, não aceita nenhuma outra nota que não seja a de US$ 100. Notas de dez e vinte "são pequenas demais — não merecem meu tempo", diz. Uma loja de souvenir em Moscou chamada "Souvenir" não aceita notas de US$ 20 de 1996 da série Rubin como pagamento para vodca ou bonecas matrioscas. As Rubins são muito velhas, diz o funcionário. O hotel Stella Matutina Lodge em Goma, na República Democrática do Congo, aceita notas da série C de 2001 — com assinatura do ex-secretário do Tesouro Paul H. O'Neill —, mas diz que só valem US$ 90. O hotel aceita as notas de 2003 de Snow pelo valor de face.
"O dinheiro só tem valor se as pessoas o aceitam", diz o economista John Taylor, da Universidade de Stanford, que ajudou o Iraque a descobrir como trocar as notas de dinar que traziam a imagem de Saddam Hussein por cédulas politicamente neutras. As notas que um banco central põe em circulação são, na prática, pouco mais que pedaços de papel se as empresas se recusam a aceitá-las.
As notas de US$ 100, que têm uma fama de ser vulneráveis a falsificação, também parecem ser as notas mais rejeitadas ou aceitas com desconto no mercado. Praticamente 75% dos 5,5 bilhões de notas de US$ 100 impressas estão em circulação fora dos EUA, onde bancos e casas de câmbios às vezes se recusam a aceitá-las.
O Serviço Secreto dos EUA, que tem jurisdição sobre crimes de falsificação do dólar, estima que menos de 1 centésimo de 1% dos US$ 760 bilhões em dinheiro americano em circulação seja falsificado. Toda vez que o governo americano lança um novo desenho para as cédulas, o Serviço Secreto, o Federal Reserve Board (Fed, o banco central americano), o Departamento do Tesouro e a Casa da Moeda americana patrocinam uma campanha internacional de divulgação para garantir que as notas sejam amplamente aceitas. Quando as notas de US$ 10 com tons pêssego e rosa foram lançadas em março, essas agências distribuíram pôsteres e panfletos em uzbeque, vietnamês, polonês e 21 outras línguas ressaltando a nova aparência e os novos recursos contra falsificação das notas.
Os pôsteres também diziam que "as cédulas americanas com desenho antigo ou novo vão circular simultaneamente e manterão seu pleno valor de face".
As notas de US$ 100 de 2003, as mais recentes, não têm novos itens de segurança e não são mais nem menos suscetíveis a falsificações do que as de 1996, segundo Michael Lambert, diretor assistente de moeda do Fed.
Mesmo assim, Jean Yves, o funcionário madagascarense do cruzeiro, descobriu que em muitos portos as notas da série 1996 têm um desconto de até 15%, quando são aceitas. Ele e seus colegas reclamam para o chefe, diz ele, mas nada é feito. "Eles me dizem 'esse é seu pagamento — você aceita ou não'", disse Jean Yves, que, por temer perder o emprego, falou sob a condição de que nem seu sobrenome nem o nome de seu empregador fosse publicado.