27.11.06
Controle no mercado de capitais
A questão de determinação do valor do controle é essencial no nosso mercado de capitais, como pode ser notado pela postagem anterior da Telemar. Outra informação interessante encontra-se na reportagem de hoje do Estado de S. Paulo, com dados gerais sobre este fato. Segundo reportagem de Nilson Brandão Jr. (Ações pulverizadas, mas nem tanto) 68% das empresas abertas no País possuem mais de 50% das ações ordinárias com apenas um acionista. Esta informação é da empresa de consultoria Economática.
Considerando dois acionistas, 85% das empresas tem suas ações ordinárias com dois controladores. O estudo foi realizado com 334 empresas, bem menor que o número total de empresas negociadas na bolsa.
Estes valores não consideraram acordos de acionistas, que possibilita que um grupo atue em bloco nas decisões internas.
Outra informação interessante mostra que a maioria dos negócios com ações no Brasil ocorre com as preferenciais, e não as ordinárias.
A questão da Telemar
O jornal Valor de 21/11/2006 publicou dois artigos opinativos sobre a reestruturação societária da Telemar: um a favor e outro contra. A seguir um resumo das opiniões:
Contra - Claudio Andrade é sócio da Polo Capital Gestão de Recursos
=> A avaliação das empresas resultando na relação de troca está conceitualmente errada. O documento preparado pelo Rothschild mistura conceitos e é fundado em suposições.
=> As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) são avaliadas a mercado e se propõe que seja feita uma avaliação "como se elas estivessem sendo sujeitas a uma oferta de compra", quando na verdade este não é o caso.
=> [Para isto compara-se com outras ofertas acontecidas no Brasil]. Porém nessas outras ofertas estava sendo oferecido dinheiro e não outras ações como no caso da Telemar. Além disso, essas operações foram voluntárias. Os acionistas que não quiseram se desfazer das ações naquele preço puderam mantê-las. No caso da Telemar, a proposta prevê que mesmo os acionistas discordantes serão incorporados contra sua vontade.
=> Ainda no capítulo da confusão intelectual que acomete a avaliação, as ações ON de controle e de minoritários foram avaliadas pelo seu valor econômico enquanto as PN pelo seu valor de mercado.
=> a distância entre o que está sendo proposto e o que parece razoável economicamente ao preferencialista é enorme. A contrapartida do incremento em mais de 100% da participação dos controladores é uma diluição dos preferencialistas de aproximadamente 35% ao final da operação completa. O efeito combinado desses dois fatores é que o ganho econômico do controlador vis-à-vis o preferencialista é de mais de 215%.
=> As pessoas que vão tocar o dia-a-dia são as mesmas de hoje e os resultados delas até aqui não são exatamente brilhantes. Não é desculpa culpar o setor. A despeito de todas as adversidades companhias como TIM e Telesp geraram enorme valor aos seus acionistas no mesmo período, eminentemente por causa de uma melhor execução.
A favor - Marcos Elias é gestor da Galleas Investimentos
=> não houve na história do mercado de capitais brasileiro uma assembléia tão inclusiva quanto a última conduzida pela Telemar, na semana passada, com vistas a definir a maior reestruturação societária do país.
=> Complexa, a operação ainda causa resistência e gera polêmica (...) com o passar das próximas poucas semanas, todos perceberão se tratar de uma arquitetura perfeita e inatacável: será aprovada conforme proposta e seus benefícios alcançarão todos os detentores das diversas classes de ações de Telemar, e o mercado de ações de forma geral.
=> A operação é respaldada pelo laudo de avaliação da Rothschild, que conclui que o ativo Telemar vale aproximadamente cinco vezes a sua geração operacional de caixa. Ressalto que as ações da Portugal Telecom negociam a múltiplos superiores a sete vezes e que, mesmo neste patamar, suas ações vem sendo disputadas por diversos investidores.
=> Interessante ainda é tomarmos como referência a operação anunciada de venda da TIM: suas ações ordinárias (ON, com direito a voto) valem hoje no mercado algo como R$ 11,00 e oferecem 80% de "tag along". Se oferecessem 100%, como será o caso da Oi Participações, estariam em R$ 13,75, o que representa um valor por assinante de US$ 640. Essa métrica, induzida para a operação celular da Telemar, que conta com 12,6 milhões de assinantes, resultaria em um valor de US$ 8 bilhões (por uma operação que representa apenas 6% da geração de caixa de Telemar).
=> O controle justifica o ágio! E, às ações ordinárias não pertencentes ao bloco de controle, a lei determina que se pague parte ou a totalidade do prêmio ou ágio de controle. As preferenciais (PN, sem direto a voto) não fazem jus a este benefício. As ações ordinárias de Brasil Telecom negociam a um preço 100% superior às PN.
=> o valor e o ágio apresentados são compatíveis com o que se observa no mercado, temos de entender que a operação de troca servirá para alçar a Telemar ao mais alto nível de governança corporativa: o Novo Mercado.
=> Adicionalmente, a empresa propõe o pagamento de dividendos de R$ 3 bilhões aos acionistas, independentemente do seu desempenho operacional. Isso significa um retorno adicional, após a apreciação de todas as ações (do patamar atual à avaliação medida pela Rothschild), de 10%.
=> E quem determinará o rumo da companhia? Um conselho de notáveis, incluindo ex-presidente do BC e ex-presidentes de grandes grupos econômicos, como Pão de Açúcar e Citibank. Há fortes razões para se depositar grandes expectativas no futuro de uma companhia que já é benchmark mundial como modelo de convergência em telecomunicações.
=> o benefício para o mercado de capitais nacional será enorme, e extinguiremos essa excrescência disforme que é a ação preferencial. Grandes pareceristas do direito societário nacional concordam que as PNs são um atraso ao desenvolvimento das práticas corporativas no Brasil.
Perpectiva de melhora no rating do Brasil
Notícia do jornal Valor Econômico de 23/11 informa que a Standard & Poor's melhorou a perspectiva do rating do Brasil. Isto significa que esta agência está animada com a redução da dívida externa do Brasil e acredita na melhoria das contas fiscais nos próximos anos. De igual modo, o banco JP Morgan aumentou de neutra para acima da média a participação de títulos brasileiros em seu portfólio-modelo de papéis de mercados emergentes, que recebe o nome de Emerging Markets Bond Index Global.
A notícia também informa que o Brasil possui a nota "BB" da Standard & Poor's, a mesma desde o início do ano. Isto significa que a SP considera que investir em títulos do governo brasileiro ainda não é um "investment grade". Entretanto, as perspectivas são boas pois esta é a melhor classificação do país desde que a SP passou a utilizar esta classificação. A mudança no endividamento brasileiro, de títulos externos para títulos internos, torna o país menos vulnerável a problemas externos. Entretanto, a dívida interna é mais cara do que a externa.
Muitas pessoas não entende as razões pela qual o Brasil não é bem visto pelas agências de rating. Existem três razões principais. A primeira é que entre os países de igual porte no mundo, o Brasil é o mais endividado, apesar de existir uma melhora nos últimos anos. A segunda, é a perspectiva dos gastos públicos. Algumas das últimas medidas do governo sinalizam para um aumento nestes gastos, o que é ruim. O terceiro motivo é o passado, onde nosso país passou por diversas crises econômicas.
Qual o impacto sobre a avaliação das empresas brasileiras? A influência ocorre principalmente sobre o risco percebido nos negócios. Num modelo como o fluxo de caixa descontado isto significa uma maior taxa de desconto. Maior taxa de desconto, por sua vez, implica em menores valores de empresas.
25.11.06
Unibanco e Nacional
No acordo do Unibanco e Nacional (clique aqui para ler mais) uma questão interessante para a avaliação diz respeito ao fato de que certos itens podem não ser um ativo para uma entidade (caso dos créditos tributários para o Nacional, que não consegue gerar lucro) mas pode ser para outra entidade (os créditos são ativos para o Unibanco, que pode utilizá-lo para reduzir a carga tributária.
23.11.06
Fusão Bilionária entre Americanas e Submarino
Notícia do Estado de hoje informa das negociações para fusão entre a empresa Submarino e as Lojas Americanas. Os rumores já repercutiram nos preços das ações.
Submarino e Americanas.com negociam fusão bilionária
A união das duas empresas movimentaria cerca de R$ 7 bilhões e criaria uma das maiores lojas virtuais do mundo
Leia mais em link.estadao.com.br
Ricardo Grinbaum
As duas maiores lojas de comércio eletrônico do Brasil, a Americanas.com e o Submarino, estão em negociações avançadas para se unir. Se a fusão for adiante, será um dos maiores negócios já fechados entre duas companhias brasileiras. A operação financeira deve movimentar entre R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões, se forem levados em conta o valor das duas empresas e os novos recursos que os sócios da Americanas.com devem desembolsar para fechar negócio. Se for considerado o valor de mercado da nova companhia, ela seria uma das maiores lojas virtuais do mundo, atrás das americanas Amazon.com e da Barnes&Nobles.com.
Ontem, as ações das duas empresas dispararam na Bolsa de São Paulo (Bovespa), com os rumores em torno do negócio. Os papéis do Submarino subiram 4,8% e ações preferenciais das Lojas Americanas (donas da Americanas.com) saltaram 3,81%. Já o índice Ibovespa subiu 0,82%. Nos últimos 30 dias, as ações do Submarino subiram 30%, enquanto a alta do Ibovespa foi de 8,5%.
As empresas se negaram a dar entrevistas e informaram que não comentam rumores de mercado. Representando a Americanas.com, fazem parte da negociação o Citibank e o escritório de advocacia Barbosa, Müssnich & Aragão. Já pelo Submarino, as conversas são conduzidas pelo banco CSFB e pelo escritório Mattos Filho.
A negociação prevê a união das duas empresas em uma nova companhia. Suas ações seriam negociadas no Novo Mercado da Bovespa. Hoje, o controle do Submarino está disperso entre investidores na Bolsa. Ninguém tem mais de 5% do capital total. Já a Americanas.com faz parte das Lojas Americanas, controlada pelos ex-sócios do banco Garantia, Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira, e Marcel Telles.
Se a fusão for concretizada, as ações do Submarino devem perder poder e ganhar uma compensação financeira. A nova empresa teria seu capital repartido em partes iguais: 50% ficariam com os acionistas do Submarino e 50% com os da Americanas.com. O acordo, porém, não é entre iguais. Como os acionistas do Submarino estão dispersos no mercado, os donos da Americanas.com teriam o controle da nova companhia.
Para compensar a perda do mando, os acionistas do Submarino teriam um ganho financeiro. As contas para fechar negócio deram um valor mais alto às ações do Submarino: embora a Americanas.com movimente dois terços do total de vendas e lucros da nova companhia, o capital será dividido meio a meio.
Além disso, o acordo prevê que os sócios da Americanas.com invistam entre R$ 200 milhões a R$ 300 milhões no capital da nova empresa. Já os acionistas do Submarino teriam direito a receber dividendos extras de R$ 600 milhões a R$ 700 milhões. Se a direção das empresas chegar a um acordo, ele ainda precisará ser aprovado pelos acionistas do Submarino em uma assembléia.
Americanas.com e o Submarino travam há anos uma disputa em torno de quem vende mais aparelhos eletrônicos, computadores, CDs e até alimentos pela internet. As duas lojas virtuais crescem rápido _ a Americanas.com é maior que qualquer outra loja do grupo e responde por mais de um quinto do faturamento total.
Este ano, o faturamento das duas lojas pode chegar a R$ 2 bilhões. As duas empresas enfrentam, porém, uma pressão cada vez maior. Supermercados como o Extra, lojas como o Ponto Frio, e livrarias têm avançado no comércio virtual, assim como o site MercadoLivre, que reúne 10 mil pequenos comerciantes.
Uma fusão seguiria o padrão de outro negócio dos sócios do Garantia. Eles compraram a Brahma, fizeram uma fusão com a Antarctica e criaram a AmBev. Hoje, a AmBev tem 70% do mercado. A nova fusão também prevê que as duas marcas líderes de mercado continuem na ativa.
COLABORARAM RENATO CRUZ E PATRÍCIA CANÇADO
21.11.06
Compra de Empresa
A alta do preços dos commodities incentivou a compra da Inco pela Vale. Agora a notícia de uma aquisição de uma empresa de cobre nos Estados Unidos. A seguir reportagem do Wall Street Journal
Negócios chegam a US$ 52 bilhões em dia histórico de fusões em Wall Street
November 21, 2006 4:05 a.m.
Da Redação do The Wall Street Journal
Duas mineradoras americanas protagonizaram o maior acordo de fusão de um dos dias mais movimentados em termos de fusões e aquisições em toda a história de Wall Street.
Ontem a Phelps Dodge Corp. assinou acordo para ser adquirida pela Freeport-McMoRan Copper & Gold por US$ 25,9 bilhões em dinheiro e ações. Ambas produzem cobre e seu acordo representa uma aposta de longo prazo em que os preços de metais vão continuar em alta. Juntas, elas têm operações em todos os continentes, sendo que a Phelps Dodge produz cabos de alumínio em Poços de Caldas, MG. A Freeport não atua na América Latina.
Também ontem, o braço imobiliário da firma de investimento em participações Blackstone Group anunciou um acordo, assinado na noite de domingo, de US$ 20 bilhões para comprar a maior proprietária e administradora de edifícios comerciais dos Estados Unidos, a Equitty Office Properties Trust. Se for completado, o acordo para fechar o capital da Equity Office Properties será o maior negócio do tipo já realizado — e possivelmente o maior negócio do setor imobiliário em todos os tempos —, se levada em conta a dívida de US$ 16 bilhões da Equitty.
No total, foram pelo menos US$ 52 bilhões em acordos de fusão e aquisição anunciados ontem nos Estados Unidos. O dia também incluiu a aquisição da unidade de private banking da Charles Schwab Corp., o U.S. Trust Corp., pelo Bank of America Corp. por US$ 3,3 bilhões; e um acordo de US$ 2,3 bilhões da siderúrgica russa Evraz Group SA para comprar a americana Oregon Steel Mills Inc.
A contínua onda de fusões nos EUA deriva de vários fatores, inclusive um excesso mundial de capital. As empresas que se reestruturaram depois da queda generalizada das bolsas no início da década ergueram enormes reservas de caixa que podem usar para aquisições. Os juros internacionais estão baixos, dando amplo acesso a crédito de que os compradores precisam. E firmas de investimento em participações, que compram empresas para vendê-las com lucro no futuro, andaram recebendo dezenas de bilhões de dólares de investidores como fundos de pensão e pessoas muito ricas.
As expectativas de fusões em todos os setores da economia ajudaram a Média Industrial Dow Jones a subir 15% este ano, o que tem sido uma influência positiva para outras bolsas, inclusive a de São Paulo. A alta das bolsas em geral também tem inspirado mais fusões. Além disso, o estigma de uniões fracassadas, como a fusão de US$ 160 bilhões entre as americanas America Online Inc. e Time Warner Inc. parece ter sido esquecido por enquanto.
A onda também tem chegado à porta das bolsas de valores. Ontem, a Nasdaq Stock Market Inc., operadora da bolsa eletrônica americana rica em ações de tecnologia, teve rejeitada sua oferta pela London Stock Exchange Group PLC, dona da Bolsa de Londres. A oferta foi de 2,7 bilhões de libras, ou US$ 5,1 bilhões, mas a bolsa londrina de 300 anos achou pouco.
Nos últimos 12 meses, grandes empresas em geral preferiram ficar ao largo da maré de aquisições. Mas os negócios recentes sugerem que elas podem estar ficando mais ativas. Com o caixa acumulado durante anos e estimuladas pela sede dos investidores por oportunidades de crescimento, elas estão promovendo uma safra de transações quase sempre em dinheiro.
Mas em meio à euforia há sinais de que a onda de fusões que já dura três anos pode ter problemas à frente.
Os bancos, por exemplo, estão dispostos a financiar acordos cada vez maiores com termos mais suaves. Acordos como o da rede de farmácias CVS Corp. para comprar a Caremark Rx Inc. por US$ 21,3 bilhões foram recebidos com ceticismo pelo mercado, com as ações de ambas em queda desde que o acordo foi anunciado no início do mês. E os preços pagos por empresas de participações ultimamente têm sido bem mais altos do que nos últimos três anos.
19.11.06
CSN faz proposta
CSN - A Companhia Siderúrgica Nacional fez proposta para compra da Corus, uma empresa siderúrgica anglo-inglesa, em valores que chegam a 8 bilhões de dólares. (Clique aqui para ler mais). Em 2002 uma parceria entre as duas empresas fracassou (Clique aqui para ler mais) Existe uma tendência de concentração neste setor (clique aqui para ler mais). Ao mesmo tempo, as pretensões de expansão da empresa nos Estados Unidos estão fracassando. (Clique aqui). A CSN informa que caso a proposta seja aceita, os valores envolvidos não irão afetar seu caixa. (Clique aqui)
13.11.06
Para quem acredita em abordagem heurística...
Notícia da semana passada vale do valor de marcas brasileiras. Para quem acredita :
Três brasileiros no ranking de marcas
Maria Christina Carvalho
Três bancos brasileiros foram incluídos entre os 100 de marca mais valiosa no mundo todo, no ranking feito pela Brand Finance, autora do estudo encomendado pela "The Banker".
O Bradesco ficou em 50 º lugar, à frente do Bank of New York. O Banco do Brasil vem em 52 º lugar; e o Itaú, em 54 º. As marcas do pelotão brasileiro foram melhor avaliadas do que as do americano Bearn Stearns, do canadense ScotiaBank, e do inglês Abbey, adquirido pelo Santander por 8 bilhões de libras em 2004.
Encabeçam o ranking três nomes bem conhecidos no Brasil: Citigroup, HSBC e Bank of America - que são também as três instituições que lideram o ranking dos mil maiores do mundo por capital de nível 1, também divulgado pela revista. O valor da marca dos três soma perto de US$ 100 bilhões: são US$ 35,148 bilhões para o Citi, US$ 33,495 bilhões para o HSBC e US$ 31,426 bilhões do Bank of America.
A Brand Finance analisou os 500 maiores bancos do mundo para elaborar o ranking, excluindo os chineses por falta de informações. Dos 20 bancos com marcas mais valiosos, onze são americanos e nove europeus. Do total, 72 são originários dessas duas regiões; seis do Japão e cinco da Austrália. Além do Brasil, contribuem com três nomes a Coréia e a Arábia Saudita.
A marca do Bradesco foi avaliada em US$ 2,457 bilhões: a do BB em US$ 2,365 bilhões; e a do Itaú, em US$ 2,172 bilhões.
O presidente da Brand Finance do Brasil, Gilson Nunes, informou que a avaliação leva em conta o índice de força da marca, baseado na nota atribuída a uma série de indicadores que incluem fatia de mercado, taxa de crescimento das vendas, rede de distribuição, lucratividade, qualidade da gestão, publicidade e identidade da marca. "Os recentes lucros elevados dos bancos brasileiros e o fato de serem de varejo, com grandes redes de distribuição favoreceram a boa colocação", disse Nunes. O ranking também considera a taxa de royalty, que seria o valor cobrado pelo banco caso fizesse o licenciamento de sua marca.
Valor, 8/11/2006
Três brasileiros no ranking de marcas
Maria Christina Carvalho
Três bancos brasileiros foram incluídos entre os 100 de marca mais valiosa no mundo todo, no ranking feito pela Brand Finance, autora do estudo encomendado pela "The Banker".
O Bradesco ficou em 50 º lugar, à frente do Bank of New York. O Banco do Brasil vem em 52 º lugar; e o Itaú, em 54 º. As marcas do pelotão brasileiro foram melhor avaliadas do que as do americano Bearn Stearns, do canadense ScotiaBank, e do inglês Abbey, adquirido pelo Santander por 8 bilhões de libras em 2004.
Encabeçam o ranking três nomes bem conhecidos no Brasil: Citigroup, HSBC e Bank of America - que são também as três instituições que lideram o ranking dos mil maiores do mundo por capital de nível 1, também divulgado pela revista. O valor da marca dos três soma perto de US$ 100 bilhões: são US$ 35,148 bilhões para o Citi, US$ 33,495 bilhões para o HSBC e US$ 31,426 bilhões do Bank of America.
A Brand Finance analisou os 500 maiores bancos do mundo para elaborar o ranking, excluindo os chineses por falta de informações. Dos 20 bancos com marcas mais valiosos, onze são americanos e nove europeus. Do total, 72 são originários dessas duas regiões; seis do Japão e cinco da Austrália. Além do Brasil, contribuem com três nomes a Coréia e a Arábia Saudita.
A marca do Bradesco foi avaliada em US$ 2,457 bilhões: a do BB em US$ 2,365 bilhões; e a do Itaú, em US$ 2,172 bilhões.
O presidente da Brand Finance do Brasil, Gilson Nunes, informou que a avaliação leva em conta o índice de força da marca, baseado na nota atribuída a uma série de indicadores que incluem fatia de mercado, taxa de crescimento das vendas, rede de distribuição, lucratividade, qualidade da gestão, publicidade e identidade da marca. "Os recentes lucros elevados dos bancos brasileiros e o fato de serem de varejo, com grandes redes de distribuição favoreceram a boa colocação", disse Nunes. O ranking também considera a taxa de royalty, que seria o valor cobrado pelo banco caso fizesse o licenciamento de sua marca.
Valor, 8/11/2006
5.11.06
Valor do Cliente
Valor do Cliente
Novas reportagens dos jornais mostram o valor do cliente para os bancos. A disputa pela conta salário dos governos estaduais é exemplo marcante disto. No passado orientei uma dissertação de mestrado, do mestre Alexandre Jatobá, sobre este assunto.
Aqui a primeira reportagem, do Valor de 9/10/2006:
Conta salário afeta venda de Besc e BEP
Alex Ribeiro
A nova conta salário, aprovada no mês passado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), cria mais uma dificuldade para a venda dos dois antigos bancos estaduais - hoje federalizados - que estão na fila de privatização, o de Santa Catarina e o do Piauí.
O principal ativo desses bancos é justamente a administração da folha de pagamento do funcionalismo dos Estados e de suas empresas. A privatização ainda não havia sido tocada porque há resistências políticas, sobretudo em Santa Catarina, e porque o Tesouro e o Banco Central negociavam com os Estados os contratos para manter o pagamento do funcionalismo nos bancos.
Com a nova conta salário, porém, os bancos perdem poder de mercado perante os clientes nos novos contratos que forem assinados a partir da resolução do CMN ou naqueles que forem renovados ou sofrerem alteração.
Os bancos deverão garantir isenção de tarifas para quem quiser sacar o salário na boca do caixa. Também vão ter que garantir a transferência automática e gratuita dos recursos para uma conta corrente apontada pelo cliente, no próprio banco em que ele recebe salário ou em uma instituição financeira concorrente.
O BC informou que ainda está fazendo a avaliação dos impactos da mudanças na legislação das contas salários, e que não irá se pronunciar enquanto não concluir esse trabalho.
Embora a nova conta salário retire parte do poder de mercado dos bancos, porém, não é esperado que ele seja completamente eliminado. No início da década de 1990, foi concedido aos funcionários públicos federais o direito de escolher o banco em que querem receber os salários, até então pago pelo Banco do Brasil. A instituição manteve, entretanto, a maior parte dos funcionários, e hoje responde por uma fatia de cerca de 90% do mercado.
A tendência é que, mesmo com as mudanças nas contas salários, os bancos que administram as folhas de pagamento do funcionalismo tenham vantagens para manter a clientela. Uma delas é a possibilidade de, diante do avanço de outros bancos, oferecer condições mais vantajosas para os clientes, cobrindo a oferta dos concorrentes.
Outra vantagem dos bancos estaduais na sua disputa pelos funcionários públicos é que sua rede de agências foi, em grande parte, desenhada para atender esse segmento da clientela. O BB, por exemplo, manteve a liderança de mercado graças a investimentos pesados em atendimento.
Concorrentes que porventura resolvam disputar esse nicho teriam que fazer grande investimento em ativos fixos para tomar mercado dos antigos bancos estaduais.
Os bancos de Santa Catarina e do Piauí são as duas últimas instituições financeiras socorridas pelo Programa de Incentivo à Redução do Setor Público no Sistema Financeiro Nacional (Proes) que aguardam privatização. O Tesouro concedeu empréstimos, com juros subsidiados, com o compromisso de que eles fossem privatizados ou extintos. No banco de Santa Catarina (Besc), a injeção foi de R$ 2,019 bilhões; no do Piauí (BEP), de R$ 145,88 milhões.
Em 2002, chegaram a ser lançados editais para a privatização desses dois bancos, mas o processo acabou suspenso dentro da disputa eleitoral daquele ano. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então candidato à Presidência, assumiu o compromisso de não vender o banco, juntamente com o governador Luiz Henrique (PMDB), então seu aliado. Neste ano, os compromissos foram renovados, embora estejam em palanques diferentes.
O governo de Santa Catarina chegou a ameaçar, neste ano, com a retirada do pagamento do funcionalismo do Besc. O BC sustenta, porém, que o Estado está obrigado a mantê-las até que seja concluída a privatização.
No Piauí, o governador Wellington Dias (PT), reeleito, também impunha restrições à venda. Isso não impediu que ele abrisse negociações com o Tesouro uma solução para a venda do banco, que envolveria a transferência de recursos para o Estado e a abertura de uma instituição financeira de fomento. Em troca, o Estado manteria o pagamento dos funcionários no BEP.
A seguir, reportagem do Valor Econômico, de 01/11/2006, sobre o assunto na Nossa Caixa:
Nossa Caixa conquista servidores estaduais
Maria Christina Carvalho
O presidente da Nossa Caixa, Carlos Eduardo Monteiro, deve pagar uma rodada de chope para a diretoria do banco nesta semana. Foi a comemoração prometida para o dia em que o número de funcionários públicos que abriram conta corrente na Nossa Caixa superar o daqueles que ainda não o fizeram.
Os números são acompanhados diariamente por Monteiro, no Placar da Migração. O sistema on line identifica o movimento, gerência por gerência, desde julho, quando o governo paulista divulgou decreto orientando os funcionários públicos estaduais a abrirem conta na Nossa Caixa escalonadamente, conforme o último número da identidade, até o final de novembro. Algumas agências, em sistema de rodízio, estão sendo abertas aos sábados apenas para facilitar essa providência.
A abertura de conta é necessária porque os funcionários públicos terão o crédito dos salários transferidos do Santander Banespa para a Nossa Caixa, controlada pelo Estado, a partir de janeiro. As regras estavam previstas desde que o Santander Banespa foi privatizado, em 2000.
Nesse momento, a Nossa Caixa também passou a ser o agente financeiro do governo do Estado de São Paulo, isto é, o único banco oficial do Estado, concentrando todas as contas do governo, os repasses para prefeituras e o pagamento de fornecedores.
No Placar da Migração de ontem, o número de funcionários "migrados", isto é, daqueles que já abriram conta desde que o decreto estadual foi divulgado, chegou a 330.496. Pelo placar, faltam 317.805 a migrar.
No total, o Banco Nossa Caixa já contabiliza 846.222 contas correntes de funcionários públicos. O número de funcionários estaduais que tem conta apenas no Santander Banespa seria de 317.805.
Os dados apresentados pelo Santander Banespa são praticamente opostos: o banco comprado pelos espanhóis teria 860 mil contas correntes de funcionários públicos e receberiam pela Nossa Caixa cerca de 230 mil que, desde a privatização, já tiveram o crédito de salário transferido para o banco estadual, como funcionários de empresas da administração indireta.
A divergência de números faz parte da verdadeira guerra que os dois bancos estão travando pelas contas dos funcionários públicos de São Paulo.
O alvo são 1,1 milhão de pessoas com renda média mensal de R$ 1,6 mil, o que significa que movimentam perto de R$ 1,8 bilhão por mês. Mais do que isso são clientes com emprego estável e salário certo. O bolo cobiçado inclui cerca de 200 mil aposentados, 180 mil professores do ensino médio e 5 mil universitários e 170 mil policiais. Há segmentos menos numerosos, mas com rendimentos mais elevados como os 35 mil funcionários do Judiciário e fiscais de renda.
Para o Santander Banespa, o grupo de 860 mil representa 12,5% da carteira total de 6,9 milhões de clientes. Para a Nossa Caixa, 17,6% do total de 4,9 milhões de clientes.
Nessa guerra, o Santander Banespa insiste que os funcionários públicos apenas precisam pedir uma conta salário na Nossa Caixa para receber seus proventos. Já a Nossa Caixa afirma que a abertura de conta corrente é necessária e foi determinada em decreto estadual número 50.964, de 18 de julho, e argumenta que conta salário nem está totalmente regulamentada.
Antonio Carlos Figueiredo, coordenador do grupo de trabalho criado pelo governo estadual para cuidar do processo de transferência da folha de pagamento dos funcionários públicos, afirma que a posição do governo estadual é clara: os funcionários públicos precisam abrir conta corrente na Nossa Caixa para receber os salários pagos a partir de janeiro. Quem não tiver a conta corrente aberta, receberá o dinheiro creditado em uma conta provisória, próxima de sua residência, mas só poderá movimenta-lo após ter a conta corrente.
Pelos cálculos de Figueiredo, ainda não abriram conta na Nossa Caixa cerca de 200 mil funcionários públicos - número também diferente dos apresentados pelos bancos. Há ainda um mês para tomar essa providência.
Para ele, os funcionários públicos devem cumprir o decreto estadual e ver o acontece a partir de janeiro, quando, espera-se, a conta salário estará integralmente regulamentada. "A partir daí será um problema de disputa de mercado", afirmou.
O Santander Banespa promete isenção eterna de tarifas aos funcionários públicos, por exemplo. A Nossa Caixa está isentando de tarifa as contas abertas mas esse benefício, em princípio, acaba em março. "A Nossa Caixa terá que fazer outras coisas para cativar os clientes", disse Figueiredo.
"Não temos um pacote de bondades para o apagar das luzes. Nossas tarifas para os funcionários públicos já são preferenciais, 25% em média mais baratas do que para o cliente comum", disse o presidente da Nossa Caixa.
Outro ponto de disputa são os juros. Na semana passada, o Santander anunciou uma linha de crédito pessoal para funcionários públicos com taxa de 1,99% ao mês e prazo de até 48 meses, limitada a R$ 4 mil por cliente. Já a Nossa Caixa afirma que cobra no crédito pessoal consignado em folha de pagamento de 1,70% a 2,90% ao mês, com prazo de seis a 48 meses. No consignado, o Santander vai até 72 meses. Mas só pode oferecer essa linha a funcionários do Judiciário porque só o banco estadual está autorizado a conceder crédito consignado a funcionário público.
Há ainda a questão da rede de atendimento. Se o Santander conta com cerca de 2 mil pontos em todo o país e 50 mil máquinas de auto-atendimento próprias e em parcerias e R$ 2 bilhões em investimento em tecnologia, a Nossa Caixa luta para desfazer a imagem de banco defasado tecnicamente. Sua rede cobre 645 municípios paulistas, com 1.731 pontos e 1.158 correspondentes bancários. Fora de São Paulo, tem sete agências (Belo Horizonte, Uberlândia, Curitiba, Londrina, Campo Grande, Rio de Janeiro e Brasília). Conta com cerca de 3 mil máquinas de auto-atendimento, além dos 2,8 mil terminais do Banco24Horas e da Rede Verde-Amarela, das quais o Santander também participa.
Novas reportagens dos jornais mostram o valor do cliente para os bancos. A disputa pela conta salário dos governos estaduais é exemplo marcante disto. No passado orientei uma dissertação de mestrado, do mestre Alexandre Jatobá, sobre este assunto.
Aqui a primeira reportagem, do Valor de 9/10/2006:
Conta salário afeta venda de Besc e BEP
Alex Ribeiro
A nova conta salário, aprovada no mês passado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), cria mais uma dificuldade para a venda dos dois antigos bancos estaduais - hoje federalizados - que estão na fila de privatização, o de Santa Catarina e o do Piauí.
O principal ativo desses bancos é justamente a administração da folha de pagamento do funcionalismo dos Estados e de suas empresas. A privatização ainda não havia sido tocada porque há resistências políticas, sobretudo em Santa Catarina, e porque o Tesouro e o Banco Central negociavam com os Estados os contratos para manter o pagamento do funcionalismo nos bancos.
Com a nova conta salário, porém, os bancos perdem poder de mercado perante os clientes nos novos contratos que forem assinados a partir da resolução do CMN ou naqueles que forem renovados ou sofrerem alteração.
Os bancos deverão garantir isenção de tarifas para quem quiser sacar o salário na boca do caixa. Também vão ter que garantir a transferência automática e gratuita dos recursos para uma conta corrente apontada pelo cliente, no próprio banco em que ele recebe salário ou em uma instituição financeira concorrente.
O BC informou que ainda está fazendo a avaliação dos impactos da mudanças na legislação das contas salários, e que não irá se pronunciar enquanto não concluir esse trabalho.
Embora a nova conta salário retire parte do poder de mercado dos bancos, porém, não é esperado que ele seja completamente eliminado. No início da década de 1990, foi concedido aos funcionários públicos federais o direito de escolher o banco em que querem receber os salários, até então pago pelo Banco do Brasil. A instituição manteve, entretanto, a maior parte dos funcionários, e hoje responde por uma fatia de cerca de 90% do mercado.
A tendência é que, mesmo com as mudanças nas contas salários, os bancos que administram as folhas de pagamento do funcionalismo tenham vantagens para manter a clientela. Uma delas é a possibilidade de, diante do avanço de outros bancos, oferecer condições mais vantajosas para os clientes, cobrindo a oferta dos concorrentes.
Outra vantagem dos bancos estaduais na sua disputa pelos funcionários públicos é que sua rede de agências foi, em grande parte, desenhada para atender esse segmento da clientela. O BB, por exemplo, manteve a liderança de mercado graças a investimentos pesados em atendimento.
Concorrentes que porventura resolvam disputar esse nicho teriam que fazer grande investimento em ativos fixos para tomar mercado dos antigos bancos estaduais.
Os bancos de Santa Catarina e do Piauí são as duas últimas instituições financeiras socorridas pelo Programa de Incentivo à Redução do Setor Público no Sistema Financeiro Nacional (Proes) que aguardam privatização. O Tesouro concedeu empréstimos, com juros subsidiados, com o compromisso de que eles fossem privatizados ou extintos. No banco de Santa Catarina (Besc), a injeção foi de R$ 2,019 bilhões; no do Piauí (BEP), de R$ 145,88 milhões.
Em 2002, chegaram a ser lançados editais para a privatização desses dois bancos, mas o processo acabou suspenso dentro da disputa eleitoral daquele ano. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então candidato à Presidência, assumiu o compromisso de não vender o banco, juntamente com o governador Luiz Henrique (PMDB), então seu aliado. Neste ano, os compromissos foram renovados, embora estejam em palanques diferentes.
O governo de Santa Catarina chegou a ameaçar, neste ano, com a retirada do pagamento do funcionalismo do Besc. O BC sustenta, porém, que o Estado está obrigado a mantê-las até que seja concluída a privatização.
No Piauí, o governador Wellington Dias (PT), reeleito, também impunha restrições à venda. Isso não impediu que ele abrisse negociações com o Tesouro uma solução para a venda do banco, que envolveria a transferência de recursos para o Estado e a abertura de uma instituição financeira de fomento. Em troca, o Estado manteria o pagamento dos funcionários no BEP.
A seguir, reportagem do Valor Econômico, de 01/11/2006, sobre o assunto na Nossa Caixa:
Nossa Caixa conquista servidores estaduais
Maria Christina Carvalho
O presidente da Nossa Caixa, Carlos Eduardo Monteiro, deve pagar uma rodada de chope para a diretoria do banco nesta semana. Foi a comemoração prometida para o dia em que o número de funcionários públicos que abriram conta corrente na Nossa Caixa superar o daqueles que ainda não o fizeram.
Os números são acompanhados diariamente por Monteiro, no Placar da Migração. O sistema on line identifica o movimento, gerência por gerência, desde julho, quando o governo paulista divulgou decreto orientando os funcionários públicos estaduais a abrirem conta na Nossa Caixa escalonadamente, conforme o último número da identidade, até o final de novembro. Algumas agências, em sistema de rodízio, estão sendo abertas aos sábados apenas para facilitar essa providência.
A abertura de conta é necessária porque os funcionários públicos terão o crédito dos salários transferidos do Santander Banespa para a Nossa Caixa, controlada pelo Estado, a partir de janeiro. As regras estavam previstas desde que o Santander Banespa foi privatizado, em 2000.
Nesse momento, a Nossa Caixa também passou a ser o agente financeiro do governo do Estado de São Paulo, isto é, o único banco oficial do Estado, concentrando todas as contas do governo, os repasses para prefeituras e o pagamento de fornecedores.
No Placar da Migração de ontem, o número de funcionários "migrados", isto é, daqueles que já abriram conta desde que o decreto estadual foi divulgado, chegou a 330.496. Pelo placar, faltam 317.805 a migrar.
No total, o Banco Nossa Caixa já contabiliza 846.222 contas correntes de funcionários públicos. O número de funcionários estaduais que tem conta apenas no Santander Banespa seria de 317.805.
Os dados apresentados pelo Santander Banespa são praticamente opostos: o banco comprado pelos espanhóis teria 860 mil contas correntes de funcionários públicos e receberiam pela Nossa Caixa cerca de 230 mil que, desde a privatização, já tiveram o crédito de salário transferido para o banco estadual, como funcionários de empresas da administração indireta.
A divergência de números faz parte da verdadeira guerra que os dois bancos estão travando pelas contas dos funcionários públicos de São Paulo.
O alvo são 1,1 milhão de pessoas com renda média mensal de R$ 1,6 mil, o que significa que movimentam perto de R$ 1,8 bilhão por mês. Mais do que isso são clientes com emprego estável e salário certo. O bolo cobiçado inclui cerca de 200 mil aposentados, 180 mil professores do ensino médio e 5 mil universitários e 170 mil policiais. Há segmentos menos numerosos, mas com rendimentos mais elevados como os 35 mil funcionários do Judiciário e fiscais de renda.
Para o Santander Banespa, o grupo de 860 mil representa 12,5% da carteira total de 6,9 milhões de clientes. Para a Nossa Caixa, 17,6% do total de 4,9 milhões de clientes.
Nessa guerra, o Santander Banespa insiste que os funcionários públicos apenas precisam pedir uma conta salário na Nossa Caixa para receber seus proventos. Já a Nossa Caixa afirma que a abertura de conta corrente é necessária e foi determinada em decreto estadual número 50.964, de 18 de julho, e argumenta que conta salário nem está totalmente regulamentada.
Antonio Carlos Figueiredo, coordenador do grupo de trabalho criado pelo governo estadual para cuidar do processo de transferência da folha de pagamento dos funcionários públicos, afirma que a posição do governo estadual é clara: os funcionários públicos precisam abrir conta corrente na Nossa Caixa para receber os salários pagos a partir de janeiro. Quem não tiver a conta corrente aberta, receberá o dinheiro creditado em uma conta provisória, próxima de sua residência, mas só poderá movimenta-lo após ter a conta corrente.
Pelos cálculos de Figueiredo, ainda não abriram conta na Nossa Caixa cerca de 200 mil funcionários públicos - número também diferente dos apresentados pelos bancos. Há ainda um mês para tomar essa providência.
Para ele, os funcionários públicos devem cumprir o decreto estadual e ver o acontece a partir de janeiro, quando, espera-se, a conta salário estará integralmente regulamentada. "A partir daí será um problema de disputa de mercado", afirmou.
O Santander Banespa promete isenção eterna de tarifas aos funcionários públicos, por exemplo. A Nossa Caixa está isentando de tarifa as contas abertas mas esse benefício, em princípio, acaba em março. "A Nossa Caixa terá que fazer outras coisas para cativar os clientes", disse Figueiredo.
"Não temos um pacote de bondades para o apagar das luzes. Nossas tarifas para os funcionários públicos já são preferenciais, 25% em média mais baratas do que para o cliente comum", disse o presidente da Nossa Caixa.
Outro ponto de disputa são os juros. Na semana passada, o Santander anunciou uma linha de crédito pessoal para funcionários públicos com taxa de 1,99% ao mês e prazo de até 48 meses, limitada a R$ 4 mil por cliente. Já a Nossa Caixa afirma que cobra no crédito pessoal consignado em folha de pagamento de 1,70% a 2,90% ao mês, com prazo de seis a 48 meses. No consignado, o Santander vai até 72 meses. Mas só pode oferecer essa linha a funcionários do Judiciário porque só o banco estadual está autorizado a conceder crédito consignado a funcionário público.
Há ainda a questão da rede de atendimento. Se o Santander conta com cerca de 2 mil pontos em todo o país e 50 mil máquinas de auto-atendimento próprias e em parcerias e R$ 2 bilhões em investimento em tecnologia, a Nossa Caixa luta para desfazer a imagem de banco defasado tecnicamente. Sua rede cobre 645 municípios paulistas, com 1.731 pontos e 1.158 correspondentes bancários. Fora de São Paulo, tem sete agências (Belo Horizonte, Uberlândia, Curitiba, Londrina, Campo Grande, Rio de Janeiro e Brasília). Conta com cerca de 3 mil máquinas de auto-atendimento, além dos 2,8 mil terminais do Banco24Horas e da Rede Verde-Amarela, das quais o Santander também participa.
2.11.06
Quanto vale o Caixa
Quanto vale o valor existente no caixa de uma empresa? Esta é fácil: o próprio valor nominal. Basta então contar as cédulas existentes e temos o valor do caixa.
Entretanto, existem algumas exceções a esta regra. A mais relevante é quando o dinheiro que temos no caixa não é amplamente aceito. Nestas situações o valor nominal não é a melhor expressão do valor do caixa.
Uma reportagem do Wall Street Journal de hoje narra situações onde uma nota de cem dólares não vale cem dólares. A seguir:
Quanto vale uma nota de US$ 100? Em alguns lugares, nem US$ 90
November 2, 2006 4:05 a.m.
Por Michael M. PhillipsThe Wall Street Journal
Antananarivo, Madagáscar — Uma vez por mês, Jean Yves, um atendente num navio de cruzeiro italiano, entra na fila do caixa para receber seu pagamento — sete notas de US$ 100.
Se tiver sorte, as notas valerão de fato US$ 700 quando ele chegar ao porto e tentar gastá-las. Se não, elas valerão algo mais perto de US$ 600. A diferença? As notas boas são aquelas que trazem a assinatura do ex-secretário do Tesouro americano John W. Snow. As ruins são assinadas pelo ex-secretário Robert E. Rubin.
"Quem chega primeiro recebe o dinheiro novo", reclamou Jean Yves recentemente depois de retornar para casa em Madagáscar ao fim do cruzeiro. Aqueles no fim da fila têm um corte salarial instantâneo, porque em muitos países que o navio visita, notas antigas de dólar já não valem tanto quanto as novas.
Os americanos estão acostumados com a idéia de que sua moeda seja válida em qualquer país. Afinal, é uma questão de princípio que os Estados Unidos nunca invalidam suas notas. O governo pode acrescentar marcas d'água, inserir fios de segurança ou ampliar a face de Benjamin Franklin na nota de cem dólares, mas as notas antigas ainda têm valor legal.
Fora dos Estados Unidos, entretanto, essa garantia tem menos peso. Em muitos países, da Rússia a Cingapura, o valor do dólar depende não somente das forças econômicas globais que movem o mercado de câmbio internacional, mas também da idade, condição e denominação das notas em si. Algumas casas de câmbio e bancos temem que notas de dólar de grande valor sejam falsificadas. Alguns não querem ter o incômodo de lidar com notas pequenas. Alguns não querem assumir o risco de não poder passar adiante notas velhas ou estragadas. E alguns simplesmente não gostam da aparência delas.
O imã que toca uma casa de câmbio informal em sua loja de produtos religiosos em Foumban, Camarões, não aceita nenhuma outra nota que não seja a de US$ 100. Notas de dez e vinte "são pequenas demais — não merecem meu tempo", diz. Uma loja de souvenir em Moscou chamada "Souvenir" não aceita notas de US$ 20 de 1996 da série Rubin como pagamento para vodca ou bonecas matrioscas. As Rubins são muito velhas, diz o funcionário. O hotel Stella Matutina Lodge em Goma, na República Democrática do Congo, aceita notas da série C de 2001 — com assinatura do ex-secretário do Tesouro Paul H. O'Neill —, mas diz que só valem US$ 90. O hotel aceita as notas de 2003 de Snow pelo valor de face.
"O dinheiro só tem valor se as pessoas o aceitam", diz o economista John Taylor, da Universidade de Stanford, que ajudou o Iraque a descobrir como trocar as notas de dinar que traziam a imagem de Saddam Hussein por cédulas politicamente neutras. As notas que um banco central põe em circulação são, na prática, pouco mais que pedaços de papel se as empresas se recusam a aceitá-las.
As notas de US$ 100, que têm uma fama de ser vulneráveis a falsificação, também parecem ser as notas mais rejeitadas ou aceitas com desconto no mercado. Praticamente 75% dos 5,5 bilhões de notas de US$ 100 impressas estão em circulação fora dos EUA, onde bancos e casas de câmbios às vezes se recusam a aceitá-las.
O Serviço Secreto dos EUA, que tem jurisdição sobre crimes de falsificação do dólar, estima que menos de 1 centésimo de 1% dos US$ 760 bilhões em dinheiro americano em circulação seja falsificado. Toda vez que o governo americano lança um novo desenho para as cédulas, o Serviço Secreto, o Federal Reserve Board (Fed, o banco central americano), o Departamento do Tesouro e a Casa da Moeda americana patrocinam uma campanha internacional de divulgação para garantir que as notas sejam amplamente aceitas. Quando as notas de US$ 10 com tons pêssego e rosa foram lançadas em março, essas agências distribuíram pôsteres e panfletos em uzbeque, vietnamês, polonês e 21 outras línguas ressaltando a nova aparência e os novos recursos contra falsificação das notas.
Os pôsteres também diziam que "as cédulas americanas com desenho antigo ou novo vão circular simultaneamente e manterão seu pleno valor de face".
As notas de US$ 100 de 2003, as mais recentes, não têm novos itens de segurança e não são mais nem menos suscetíveis a falsificações do que as de 1996, segundo Michael Lambert, diretor assistente de moeda do Fed.
Mesmo assim, Jean Yves, o funcionário madagascarense do cruzeiro, descobriu que em muitos portos as notas da série 1996 têm um desconto de até 15%, quando são aceitas. Ele e seus colegas reclamam para o chefe, diz ele, mas nada é feito. "Eles me dizem 'esse é seu pagamento — você aceita ou não'", disse Jean Yves, que, por temer perder o emprego, falou sob a condição de que nem seu sobrenome nem o nome de seu empregador fosse publicado.
Entretanto, existem algumas exceções a esta regra. A mais relevante é quando o dinheiro que temos no caixa não é amplamente aceito. Nestas situações o valor nominal não é a melhor expressão do valor do caixa.
Uma reportagem do Wall Street Journal de hoje narra situações onde uma nota de cem dólares não vale cem dólares. A seguir:
Quanto vale uma nota de US$ 100? Em alguns lugares, nem US$ 90
November 2, 2006 4:05 a.m.
Por Michael M. PhillipsThe Wall Street Journal
Antananarivo, Madagáscar — Uma vez por mês, Jean Yves, um atendente num navio de cruzeiro italiano, entra na fila do caixa para receber seu pagamento — sete notas de US$ 100.
Se tiver sorte, as notas valerão de fato US$ 700 quando ele chegar ao porto e tentar gastá-las. Se não, elas valerão algo mais perto de US$ 600. A diferença? As notas boas são aquelas que trazem a assinatura do ex-secretário do Tesouro americano John W. Snow. As ruins são assinadas pelo ex-secretário Robert E. Rubin.
"Quem chega primeiro recebe o dinheiro novo", reclamou Jean Yves recentemente depois de retornar para casa em Madagáscar ao fim do cruzeiro. Aqueles no fim da fila têm um corte salarial instantâneo, porque em muitos países que o navio visita, notas antigas de dólar já não valem tanto quanto as novas.
Os americanos estão acostumados com a idéia de que sua moeda seja válida em qualquer país. Afinal, é uma questão de princípio que os Estados Unidos nunca invalidam suas notas. O governo pode acrescentar marcas d'água, inserir fios de segurança ou ampliar a face de Benjamin Franklin na nota de cem dólares, mas as notas antigas ainda têm valor legal.
Fora dos Estados Unidos, entretanto, essa garantia tem menos peso. Em muitos países, da Rússia a Cingapura, o valor do dólar depende não somente das forças econômicas globais que movem o mercado de câmbio internacional, mas também da idade, condição e denominação das notas em si. Algumas casas de câmbio e bancos temem que notas de dólar de grande valor sejam falsificadas. Alguns não querem ter o incômodo de lidar com notas pequenas. Alguns não querem assumir o risco de não poder passar adiante notas velhas ou estragadas. E alguns simplesmente não gostam da aparência delas.
O imã que toca uma casa de câmbio informal em sua loja de produtos religiosos em Foumban, Camarões, não aceita nenhuma outra nota que não seja a de US$ 100. Notas de dez e vinte "são pequenas demais — não merecem meu tempo", diz. Uma loja de souvenir em Moscou chamada "Souvenir" não aceita notas de US$ 20 de 1996 da série Rubin como pagamento para vodca ou bonecas matrioscas. As Rubins são muito velhas, diz o funcionário. O hotel Stella Matutina Lodge em Goma, na República Democrática do Congo, aceita notas da série C de 2001 — com assinatura do ex-secretário do Tesouro Paul H. O'Neill —, mas diz que só valem US$ 90. O hotel aceita as notas de 2003 de Snow pelo valor de face.
"O dinheiro só tem valor se as pessoas o aceitam", diz o economista John Taylor, da Universidade de Stanford, que ajudou o Iraque a descobrir como trocar as notas de dinar que traziam a imagem de Saddam Hussein por cédulas politicamente neutras. As notas que um banco central põe em circulação são, na prática, pouco mais que pedaços de papel se as empresas se recusam a aceitá-las.
As notas de US$ 100, que têm uma fama de ser vulneráveis a falsificação, também parecem ser as notas mais rejeitadas ou aceitas com desconto no mercado. Praticamente 75% dos 5,5 bilhões de notas de US$ 100 impressas estão em circulação fora dos EUA, onde bancos e casas de câmbios às vezes se recusam a aceitá-las.
O Serviço Secreto dos EUA, que tem jurisdição sobre crimes de falsificação do dólar, estima que menos de 1 centésimo de 1% dos US$ 760 bilhões em dinheiro americano em circulação seja falsificado. Toda vez que o governo americano lança um novo desenho para as cédulas, o Serviço Secreto, o Federal Reserve Board (Fed, o banco central americano), o Departamento do Tesouro e a Casa da Moeda americana patrocinam uma campanha internacional de divulgação para garantir que as notas sejam amplamente aceitas. Quando as notas de US$ 10 com tons pêssego e rosa foram lançadas em março, essas agências distribuíram pôsteres e panfletos em uzbeque, vietnamês, polonês e 21 outras línguas ressaltando a nova aparência e os novos recursos contra falsificação das notas.
Os pôsteres também diziam que "as cédulas americanas com desenho antigo ou novo vão circular simultaneamente e manterão seu pleno valor de face".
As notas de US$ 100 de 2003, as mais recentes, não têm novos itens de segurança e não são mais nem menos suscetíveis a falsificações do que as de 1996, segundo Michael Lambert, diretor assistente de moeda do Fed.
Mesmo assim, Jean Yves, o funcionário madagascarense do cruzeiro, descobriu que em muitos portos as notas da série 1996 têm um desconto de até 15%, quando são aceitas. Ele e seus colegas reclamam para o chefe, diz ele, mas nada é feito. "Eles me dizem 'esse é seu pagamento — você aceita ou não'", disse Jean Yves, que, por temer perder o emprego, falou sob a condição de que nem seu sobrenome nem o nome de seu empregador fosse publicado.
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