Nova rodada de consolidação inicia era das megamineradoras
Por Patrick Barta e Robert Guy Matthews
The Wall Street Journal - 18/12/2007
MELBOURNE, Austrália — Primeiro foram as megamultinacionais do petróleo. Agora, chegou a vez das megamultinacionais da mineração.
Há anos que as mineradoras têm se enriquecido fornecendo as matérias-primas que alimentaram booms do consumo da China e da Índia ao Brasil. À medida que os preços das commodities subiam, essas empresas acumularam caixa e compraram rivais. Agora elas estão entrando numa rodada de aquisições que promete uma nova classe de potências. As megamineradoras resultantes terão enorme influência no custo de matérias-primas como minério de ferro, cobre e urânio — e, por extensão, no preço de eletrônicos, automóveis e novos prédios de apartamentos.
No mês passado, a mineradora anglo-australiana BHP Billiton anunciou uma proposta de US$ 143 bilhões para se fundir com a rival anglo-australiana Rio Tinto. A aquisição combinaria duas das três maiores mineradoras do mundo numa empresa com valor de US$ 335 bilhões segundo uma medida — maior do que cada uma das multinacionais privadas do petróleo, exceto a Exxon-Mobil Corp. Ela seria a maior produtora mundial de cobre e alumínio, a segunda maior produtora de minério de ferro e potencialmente a maior fonte de urânio.
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A proposta da BHP deflagrou especulações de outras negócios. Na semana passada, a Xstrata PLC, quinta maior mineradora do mundo, com sede na Suíça, sugeriu que estava aberta a ser adquirida — e entre os prováveis candidatos estão as outras duas das cinco maiores, a Anglo American PLC, que tem sede em Londres, e a Companhia Vale do Rio Doce, que tem sede no Rio. Isso acontece depois de US$ 100 bilhões em aquisições de mineradoras nos últimos dois anos: a americana Freeport-McMoRan Copper & Gold Inc. comprou a Phelps Dodge Corp., também dos EUA; a Vale comprou a canadense Inco Ltd.; a Xstrata adquiriu a gigante canadense de níquel Falconbridge Ltd.; e a Rio Tinto abocanhou a potência do alumínio Alcan Inc., do Canadá
Até o começo da década, o setor de mineração estava repleto de empresas relativamente pequenas com influência individual mínima sobre a economia mundial. Mas as aquisições dos últimos anos ecoam a consolidação da indústria petrolífera que começou no fim dos anos 90 e gerou as atuais "superpotências" — a união da Exxon com a Mobil, a da Chevron com a Texaco e a da British Petroleum com a Amoco e a Atlantic Richfield.
"Se você examinar o setor e a história do petróleo, é realmente o mesmo jogo que está acontecendo", diz Alex Gorbansky, um diretor-gerente da Frontier Strategy Group, uma firma de consultoria para mercados emergentes com sede em Washington.
Nem todas as forças que uniram as petrolíferas são parecidas com as que estão impulsionando as multinacionais da mineração atualmente. Os preços das commodities estavam deprimidos no fim dos anos 90, e as petrolíferas achavam que as fusões as ajudariam a cortar custos e sobreviver no período de vacas magras. As mineradoras de hoje enfrentam um desafio oposto: os preços estão tão altos que elas têm muito caixa, mas não sabem bem o que fazer com ele.
Mas as semelhanças são marcantes, dizem investidores, banqueiros de investimento e analistas que estudam o setor. Graças ao crescimento explosivo da China e de outros países em desenvolvimento, algumas commodities minerais estão ganhando uma importância estratégica que começa a rivalizar com a do petróleo. Como acontece com o petróleo, a maior parte dos depósitos minerais do mundo de fácil acesso e alta qualidade já foi explorada, restando recursos que têm teores mais baixos, são mais difíceis de alcançar ou estão em países que apresentam desafios políticos. Com as fusões, as mineradoras têm esperança de poder enfrentar os projetos complexos que sobraram.
Muitas mineradoras dos países industrializados têm esperança de que seu tamanho e avanço técnico as tornem parceiras ideais em países como a Mongólia, que precisam do know-how estrangeiro para desenvolver seus recursos. As grandes mineradoras dos países ricos também estão se encorpando para concorrer com novas empresas de países como a Rússia e a China.
O tamanho também é importante numa era de nacionalismo mineral em ascensão. Do mesmo jeito que a Rússia e a Venezuela restringiram o acesso das petrolíferas a suas reservas, países como Índia, Indonésia e Bolívia adotam uma postura cada vez mais protetora de seus recursos minerais. As megamineradoras com grande presença internacional podem ter uma alavancagem maior para persuadir tais países a se abrirem para o desenvolvimento de minas.
A era das megamultinacionais da mineração pode resultar em lucro maior para as empresas líderes, do mesmo jeito que a consolidação ampliou o lucro das grandes multinacionais do petróleo. Mas a tendência pode dificultar a vida dos consumidores. Algumas poucas grandes empresas teriam o poder de esperar durante momentos de fraqueza do mercado e manter os preços em alta, suspendendo projetos ou agindo lentamente para dar início a novos projetos.
"Quanto mais concentração houver, mais poder de monopólio", diz Amy Jaffe, uma pesquisadora do setor energético do Instituto Baker de Políticas Públicas da Universidade Rice. Num estudo de novembro, Jaffe descobriu que a consolidação do setor petrolífero resultou em menos petróleo, e não em mais, por parte das grandes multinacionais.
Embora uma fusão BHP–Rio Tino ainda esteja longe de certa, a proposta é o produto de forças abrangentes que segundo analistas estão impulsionando a consolidação em todo o setor.
Até 2001, havia uma dúzia ou mais de empresas de porte médio, com valor de mercado em torno dos US$ 3 bilhões a US$ 5 bilhões, e muitas empresas menores. Nenhuma tinha sozinha um papel dominante.
As coisas mudaram quando o recente boom de commodities ganhou força, a partir de 2002. Em 2007, após uma série de aquisições, o cenário da mineração passou a ser dominado por uma meia dúzia de megaempresas, entre as quais a BHP, a Rio Tinto, a Vale, a Xstrata e a Anglo American.
BHP e Rio Tinto se posicionaram para aquisições maiores. Marius Kloppers, que assumiu a presidência executiva da BHP no começo do ano, havia liderado uma equipe interna que executou em 2005 a compra da mineradora australiana de cobre, níquel e urânio WMC Resources.
Tom Albanese, que assumiu a presidência executiva da Rio Tinto em maio deste ano, comprou a Alcan numa batalha com a rival Alcoa. Quando anunciada, a compra, de US$ 40 bilhões, era a maior transação do setor. Muitos analistas entenderam que ela foi movida em parte por um desejo de impedir que outros candidatos — inclusive a BHP — pudessem fazer uma oferta pela Rio Tinto. Em novembro, a BHP informou que estava tentando comprar a Rio Tinto mesmo assim.
Depois de uma eventual fusão, somente duas empresas — a BHP-Rio Tinto e a Vale — controlariam mais de 70% do comércio internacional de minério de ferro. (Em comparação, a Organização dos Países Produtores de Petróleo controla somente cerca de 40% do petróleo global.)
A BHP e outras grandes mineradoras afirmam que não têm intenção de desacelerar novos projetos para espremer os consumidores. Albanese minimiza as similaridades com o setor petrolífero, embora concorde que está ficando mais difícil encontrar novos projetos.
"Estamos numa dança das cadeiras", diz Wayne Atwell, um ex-analista de mineração do Morgan Stanley que está lançando um fundo de investimento em recursos naturais, o Pontis Global.
O panorama para a mineração pode mudar drasticamente no caso de um forte desaquecimento econômico na China. Nesse caso, os preços das commodities poderiam cair acentuadamente, deixando as grandes mineradoras com ativos comprados no auge do mercado.
Mas a maioria dos observadores da indústria espera que a demanda chinesa continue forte e diz que as ondas da consolidação estão se movendo rápido demais para que as empresas remanescentes não se juntem. Quando elas o fizerem, terão de inventar novos meios de crescer. Há uma nova idéia circulando no setor: a possibilidade de que megamineradoras comecem a comprar megapetrolíferas.
19.12.07
Concentração nas Mineradoras
Uma reportagem do Wall Street Journal mostra a possibilidade de consolidação das mineradoras. Entre as vantagens apontadas pelo texto está a questão da concentração do poder político.