27.9.12

Valor do Facebook

A questão do valor do Facebook tem despertado atenção dos analistas. Um aspecto importante foi destacado por Henry Blodget em Facebook Is Now Worth $58 Billion, Not The '$39 Billion' Everyone Thinks...

Blodget afirma que o valor da empresa é de 58 bilhões, não 39, como tem sido divulgado. Em sites como Yahoo Finance ou Google Finance aparece como sendo o valor da empresa os 39 bilhões. Onde está a "pegadinha"?

O valor da empresa é obtido pela multiplicação do valor da ação pelo número de ações. Blodget não questiona a primeira parcela da multiplicação, mas o número de ações que o Yahoo e o Google consideram. Ou não consideram, já que na fórmula dos sites não foram levados em conta as "ações restritas". Para os sites existiriam cerca de 1,9 bilhão de ação, que a 21 dólares cada apresenta um valor de 39 bilhões.

Mas com as ações restritas, o número de ações aumenta para 2,74 bilhões. O valor é dado por:

2,74 bilhões x 21 = 58 bilhões.

26.9.12

Investimento e Retorno


Um artigo interessante (Teles perdem US$ 65 bi com investimentos malsucedidos, Valor Econômico, Juliana Colomba, 14 de set de 2012) comenta a importância de comparar o custo de captação com a rentabilidade de um investimento.

O levantamento mostrou que o crescimento expressivo dos recursos foi acompanhado por um baixo retorno sobre o investimento (ROI, na sigla em inglês), com média de 3 pontos percentuais abaixo dos custos para a obtenção do capital para o investimento. Assim, as operadoras gastaram 9% para captar o dinheiro para o investimento, sendo que o retorno obtido foi de 6%, em média.

A regra geral para criar valor é aplicar os recursos em projetos retornos com investimento superiores ao custo de captação.

19.9.12

Elétricas

O analista do banco J. Safra, Sérgio Tamashiro, estima em R$ 26 bilhões a destruição de valor para as empresas do setor elétrico com a renovação das concessões das antigas hidrelétricas. As condições impostas foram anunciadas na semana passada pelo governo, que publicou a Medida Provisória 579. 

 O governo adotou um modelo diferente do que era esperado pelo mercado. Para renovar suas concessões, as empresas serão reembolsadas por ativos que ainda não estão depreciados, já que a remuneração desses ativos não poderá ser mais repassada às tarifas. A partir de 2013, as geradoras só poderão transferir para o preço da energia os custos de operação e manutenção (O&M) das hidrelétricas, que serão calculados pela Agência Nacional de Energia (Aneel). 

 O J. Safra estima que o reembolso dos ativos não depreciados pode chegar a R$ 14 bilhões. O valor leva em conta o pagamento de R$ 4 milhões por megawatt (MW) instalado e a taxa de depreciação anunciada do governo. Para calcular a destruição de valor para as empresas, o banco reduziu todas as tarifas das geradoras para R$ 30 por MWh. Inicialmente, se esperava que as tarifas de renovação fossem de R$ 60 por megawatt hora (MWh) para Cesp, Furnas e Chesf e de R$ 100 por MWh para Cemig. 

 De acordo com o Safra, a destruição de valor bruta do setor alcança R$ 40 bilhões, que será parcialmente compensada pelo reembolso de R$ 14 bilhões. "Com isso, a destruição de valor no setor de geração deve chegar a R$ 26 bilhões", disse o analista. 

 Na avaliação de Tamashiro, a elétrica mais beneficiada com o pacote de renovação de concessão será a Chesf, controlada pela Eletrobras, que deve receber R$ 10,2 bilhões para o reembolso das hidrelétricas de Xingó, Paulo Afonso IV, Itaparica e Castelo Branco. "Este valor é 62% acima de nossas estimativas de R$ 6,3 bilhões, devido principalmente à hidrelétrica de Xingó", afirmou o analista. Ele estima que a destruição de valor bruta para a Chesf no período entre 2013 e 2035 será de R$ 14,3 bilhões, o que equivalerá R$ 4,1 bilhões líquidos, após considerar o possível reembolso do governo. 

 A Cemig será uma das mais afetadas pela Medida Provisória. "Chegamos em nossa pior situação para a Cemig, pois, em nossos modelos antigos, usávamos R$ 100 por MWh no período de concessão inteira, de 2013 a 2035", afirmou Tamashiro. No novo cenário de R$ 30 por MWh, o analista calculou uma destruição de valor de R$ 11,9 bilhões para a estatal mineira, que, deduzida do possível reembolso de R$ 1,6 bilhão, representa um perda líquida de R$ 10,4 bilhões (ou de R$ 12 por ação). 

No caso de Furnas, que também pertence à Eletrobras, a empresa deve obter um reembolso de apenas R$ 870 milhões. De acordo com Tamashiro, a destruição bruta de valor para a estatal deve chegar a R$ 7,9 bilhões, representando uma perda líquida de R$ 7 bilhões, ou o equivalente a R$ 5 por cada ação da Eletrobras. 

A Cesp, geradora de energia de São Paulo, deve receber R$ 1,1 bilhão pelo reembolso das hidrelétricas de Jupiá, Três Irmãos e Ilha Solteira. "Considerando-se a destruição de valor bruta no período entre 2013 e 2035, chegamos em R$ 5,9 bilhões, equivalente a um prejuízo líquido de R$ 4,8 bilhões", afirmou o analista.

 Pacote deve destruir valor das elétricas em R$ 26 bi - 19 de Setembro de 2012 - Valor Econômico - Claudia Facchini (Imagem: aqui)

13.9.12

Tok & Stock

Segundo noticiado ontem, o fundo de investimento Carlyle comprou a empresa Tok & Stok (Fundo Carlyle compra Tok & Stok, Cátia Luz e David Friedlander, Estado de S Paulo, 13 de setembro de 2012, p. B19). O valor do negócio, conforme informações não oficiais, foi de 700 milhões de reais por 60% da empresa. O texto apresenta mais informações sobre a empresa:

Líder do setor, a Tok & Stok tem 35 lojas e faturou pouco mais de R$ 1 bilhão no ano passado. O plano agora é dobrar as vendas da empresa nos próximos cinco anos. Um dos focos é crescer nas regiões Sul e sobretudo, Nordeste – onde a empresa tem hoje a maior concentração de vendas por metro quadrado, mas apenas três lojas para atender essa demanda.

A família Dubrule vendeu o controle da Tok&Stok por duas razões: queria um sócio para investir no crescimento da operação e resolver de uma vez a sucessão familiar. A venda também libera a o patrimônio de Régis, Gislaine e seus cinco filhos, quase todo aplicado na empresa. "Em aproximadamente dois anos, teremos um profissional do mercado no comando e a família estará no conselho", diz Régis. Os Dubrule tentaram abrir o capital da Tok & Stok anos atrás, mas o plano foi atropelado pela crise de 2008.

Neste setor é comum usar como múltiplo para fins de negociação:

No varejo, costuma-se usar como uma referencia para o cálculo do valor de uma rede a metade de seu faturamento anual, mas a formula é jogada por terra por especialistas em aquisições (Luciano Szafir compra a paulista Dominó, Claudia Facchini, Valor)

Usando este múltiplo, o valor da empresa deveria ser de 500 milhões. 60% deste montante representa 300 milhões. Entretanto dois aspectos importantes fazem com que a expressão do múltiplo deva ser vista com ressalva neste caso:

a) Está-se vendendo o controle da empresa; nestes casos, é usual pagar um prêmio;
b) A empresa possui uma parcela significativa do mercado.

12.9.12

Facebook

Existem diversos textos que tratam da ascensão e queda do Facebook no mercado de capitais. Um texto de Andrew Sorkin para o New York Times (The Man Behind Facebook’s I.P.O. Debacle. Sorkin é o roteirista da série The Newsroom – fantástica, por sinal – e do filme A Rede Social, sobre o Facebook) inova ao focar sua atenção em David Ebersman. Ebersman é o chief financial officer. Apesar de não ser tão conhecido como Zuckerberg ou Sandberg, Ebersman tem um papel importante no fracasso do Facebook: na época do lançamento das ações o Facebook chegou a ser avaliado em 100 bilhões de dólares. Hoje o valor de mercado é de 50 bilhões.





 Foi Ebersman quem forçou o aumento no preço inicial da ação para 38 dólares, depois de estudos terem mostrado um intervalo entre 28 a 35 dólares como sendo o mais adequado. Além de aumentar o preço, ele também aumentou a quantidade de ações oferecidas em 25%.

Mas Sorkin lembra que a queda no preço não representa um problema somente para o investidor que comprou no momento errado. Como muitas empresas de tecnologia, o Facebook atrai e retém talentos através das ações.

Alguns destes funcionários receberam ações com valor de 24,1 dólares. Quando as ações do Facebook começaram a cair, estes empregados começaram a vender suas ações. O resultado: mais queda.

O problema do Facebook foi o oposto do LinkedIn. Esta empresa lançou suas ações por um preço abaixo do valor da empresa. O resultado é que os investidores iniciais ganharam um “presente” de 350 milhões de dólares em razão da subavaliação das ações.

No processo de lançamento de ações, as empresas devem encontrar um preço justo; valores abaixo, como o caso do LinkeIn, transfere dinheiro da empresa para os investidores iniciais; valores elevados, como o Facebook, pode até trazer dinheiro no curto prazo para empresa, mas gera desconfiança no investidor.

Emoção e Mercado

Não adianta tentar transformar o mercado numa equação matemática, porque o fator emocional sempre irá pesar na tomada de decisão. A constatação, aparentemente óbvia, faz sentido num momento que se tenta eliminar os ricos da operação no pós-crise. "Muitos analistas de bancos vêm me falando que estão próximos de eliminar todos os riscos de seus cálculos, e eu apenas lhes respondo: 'Vocês não entenderam nada'", disse, em entrevista ao Valor Chris Thorne, diretor técnico do Conselho Internacional de Padrões de Avaliação (IVSC), órgão que orienta sobre os métodos de análise de indicadores fundamentalistas, o chamado "valuation". (...) No caso do Facebook, por exemplo, apesar de alguns analistas alertarem para as dificuldades que a rede social enfrentava para capturar receitas de propaganda móvel, houve uma enorme demanda pelas ações na oferta pública inicial. Quando perceberam, com novos relatórios, que os números não eram tão atrativos, o movimento foi de venda. "Eles compraram uma marca, agiram emocionalmente", avalia Thorne. Para ele, a abertura de capital da companhia chefiada por Mark Zuckerberg lembrou muito o caso da bolha das empresas de internet, que eram as queridinhas do mercado em 2000 e 2001, mas não conseguiram entregar resultados e foram punidas pelos investidores. "O mercado não é puramente matemático", afirmou. Quanto ao analista de mercado, ele vê um cenário desfavorável. Thorne tem a opinião de que o "valuation" não é visto como uma profissão, mas uma técnica de agentes de mercado. "Fora dos Estados Unidos, onde não se encontra a mesma quantidade de informações, índices e tudo o mais, ainda é difícil a análise." (...) Fator emocional impossibilita 'mercado perfeito' - 12 de Setembro de 2012 - Valor Econômico - Renato Rostás | De São Paulo

2.9.12

Retorno do Mercado e P/L

Existe uma relação entre o índice P/L e o retorno do mercado: o retorno do mercado corresponde ao inverso do índice P/L.

Em alguns países, onde o índice P/L é aproximadamente 15, isto significa que o retorno do mercado médio no longo prazo é de 6,7%. Basta fazer a seguinte operação

Retorno do Mercado = 1/15 = 0,067

Curiosamente esta tem sido a média dos retornos das ações nestes mercados.

Quando usamos o retorno mensal do mercado brasileiro de julho de 1994 até julho de 2012 encontramos um retorno mensal médio de 1,2%. Isto representa um retorno anual de 15,4%, muito acima do retorno dos países desenvolvidos. Fazendo a correspondência entre este retorno anual e o índice P/L temos um valor de 6,5 para o período. São valores diferentes do que encontramos em outros mercados.

Entretanto, o elevado retorno decorre da instabilidade elevada do período analisado e, talvez, da inflação elevada para alguns anos. Além disto, o mercado acionário brasileiro viveu um período de bonança em razão da entrada de investidores estrangeiros. Isto naturalmente influencia o resultado final para este período.

Considerando o período de janeiro de 2007 até julho de 2012, o retorno mensal cai para 0,59%, que corresponde a um retorno anual de 7,3%. Isto em termos de índice P/L representa 13,6, um valor muito próximo ao encontrado em países mais desenvolvidos. O aumento do índice P/L brasileiro é notável: se usarmos o período de janeiro de 2006 a julho de 2012, acrescentando somente o ano de 2006, o retorno mensal é de 0,89% que corresponde a um P/L de 8,9.

Tudo leva a crer que no longo prazo a rentabilidade do mercado acionário brasileiro deva encaminhar para uma taxa entre 6 a 8%, que corresponderia a um P/L entre 12,5 e 16,7.

Para ler mais: