28.7.11

Capital Fechado ou Aberto?

Capital abertou ou fechado? Esta decisão deve ser considerada levando em conta os prós e contras. Recentemente a discussão envolveu a venda de ações, sem abrir o capital, da empresa Facebook. No Brasil, a decisão da UOL em fechar o capital foi no mesmo sentido.

Ao abrir o capital a empresa pode (a) ganhar visibilidade; (b) obter recursos e (c) melhorar a gestão com adoção de práticas modernas. Não por acaso, empresas de capital aberto são de grande porte. Parece que neste caso existe uma relação entre tamanho e negociação das ações na bolsa.

Mas existem desvantagens. Talvez a principal delas seja a perda de controle. O caso clássico foi a saída forçada de Steve Jobs e Steve Wozniak da Apple, empresa fundada pelos dois. Para alguns casos, as exigências legais impostas as empresas de capital aberto, incluindo os controles, a evidenciação e a montagem de uma estrutura para atender os acionistas pode ser um fato negativo.

Um efeito da abertura de capital diz respeito ao custo do capital, em especial do capital prórpio. A medida mais usada para determinar este custo é dada pela seguinte expressão:

Custo do Capital Próprio = Retorno do Título sem Risco + Prêmio pelo Mercado x Beta

O que diferencia o custo de uma empresa de outra é justamente o beta. O beta geralmente varia em torno de um, sendo que valores maiores indicariam maiores riscos. Um beta menor do que a unidade revela que o risco da empresa é reduzido em relação as demais empresas.

De uma forma geral, acredita-se que a abertura de capital reduz o risco da empresa. Assim, o beta diminuiria. Damodaran tem uma estimativa de que a abertura de capital de uma empresa pode reduzir o beta de 2,4 – um beta alto, indicando um risco elevado – para 0,8.

Esta vantagem significa que os recursos terão um custo menor, podendo viabilizar vários projetos.
Neste sentido, algumas empresas estão adotando uma estratégia interessante. Para obter as vantagens de uma empresa de capital aberto, sem perder os bônus do capital fechado, têm-se adquirido outras empresas de capital aberto de menor porte, garantindo o acesso ao menor risco. 

24.7.11

Petrobras e Equador

O Equador informou que ofereceu pagar 168 milhões de dólares pelos ativos da Petrobras no país andino, depois que a estatal brasileira se recusou, no ano passado, a aceitar o novo modelo de contrato proposto pelo governo equatoriano.
Após a recusa da Petrobras, o governo do Equador assumiu o controle das operações da empresa, uma produção de cerca de 19,3 mil barris diários de petróleo por dia, em torno de 1 por cento da produção total da Petrobras no Brasil.
A Petrobras quer receber 300 milhões de dólares pelos ativos.
Reuters - O Globo - Governo do Equador oferece US$ 168 mi por ativos da Petrobras

Atualmente a Petrobras possui ativos no valor de US$200 bilhões (fonte, aqui). Proporcionalmente, 1% da produção da Petrobras corresponderia a 2 bilhões. Mas este seria o valor justo dos ativos da Petrobras no Equador? Talvez não já que este valor está superestimado, pois a percentagem é sobre a produção de petróleo no Brasil; ou seja, não considerou a produção total da empresa.

Mas, por outro lado, o valor do ativo provavelmente está a custo histórico. Ou seja, o valor de 200 bilhões pode estar subestimado. (Só o valor de mercado das ações é de 217 bilhões)

É importante considerar um aspecto que reduz o preço dos ativos é a possibilidade de ser utilizado em outras situações. Ou seja, o grau de flexibilidade que a empresa (e o governo do Equador) possui em usar os ativos em outras atividades ou em outros lugares. Isto diminui o preço do ativo. Talvez a influencia deste aspecto seja decisiva para a empresa sugerir o preço de 300 milhões para aqueles ativos.

Finalmente, parte da estrutura de ativos da empresa são custos que são atribuídos a toda empresa. Isto faz com que o valor usado superestimado.

1.7.11

Cassino, Pão de Açúcar e Carrefour

Eis uma reportagem interessante sobre o assunto

O vice-presidente do BNDES, João Carlos Ferraz, afirmou nesta quinta-feira, 30, que a fusão entre as redes varejistas Pão de Açúcar e Carrefour podem conduzir a um cenário de geração de valor para produtos brasileiros (1) no mercado internacional. Ao analisar o tema, "em um nível conceitual" (2), o executivo afirmou ainda que o possível (3) apoio do banco à união das duas empresas também gerará ganhos do BNDES.

"A União, o projeto que as empresas estão apresentando, visa a criação e a geração de valor para todos (4). Portanto, se a inovação (5) tem a ver com valor, ela vai gerar valor", disse. Ele acrescentou que a geração de valor (6) é uma das razões que motivaram a decisão do BNDES de entrar na operação, via BNDESpar, braço de investimentos do banco.

Outro ponto destacado por Ferraz foi o reflexo benéfico que a operação teria no desempenho do banco (7). "Metade do lucro do BNDES é derivada do BNDESpar. Nós vimos aqui uma bela oportunidade de geração de valor, de emprego, que é a nossa missão (8)", disse.

Para o vice-presidente do banco, o projeto também favorece a presença de produtos brasileiros nas gôndolas de supermercados internacionais (9). "Nós, nos nossos supermercados, temos produtos de outros países", lembrou o executivo ao acrescentar que a operação poderia "ser mais um passo" na trajetória de crescimento da penetração de itens brasileiros (10) no mercado internacional já iniciada pelas indústrias de alimentos, agronegócios, moda e de bens de consumo. "Temos que ter mais, uma economia internacionalizada (11)", disse.

Ferraz preferiu não comentar (12) sobre a recente decisão da rede francesa Casino de aumentar a participação no grupo Pão de Açúcar. Quando questionado se as operações entre o Carrefour e o Pão de Açúcar poderiam ser atrapalhadas por uma disputa com o Casino, o executivo se limitou a dizer: "Deixa elas (as negociações) rolarem", concluiu.

Meus comentários:
(1) É muito questionável associar a geração de valor ao processo de fusão. Quanto mais usar o nacionalismo para defender a posição do governo. Segundo Millor http://www2.uol.com.br/millor/ Fernandes, “patriotismo é quando você ama o seu país mais do que qualquer outro. Nacionalismo é quando você odeia todos os países, sobretudo o seu”.
(2) O executivo quis deixar claro que a decisão era técnica. Para isto utilizou a expressão. Mas tanto a decisão é política quanto existe uma clara confusão de conceitos. 
(3) Sobre a possibilidade de apoio, as declarações já dizem que o BNDES irá apoiar. 
(4) É difícil acreditar numa decisão “win-win” (como chamam alguns consultores). Se todos estão ganhando, qual a razão da reação violenta do grupo Cassino? Por que o grupo Carrefour não respondeu de imediato? 
(5) Qual a relação da “inovação” com o processo de fusão? Nenhuma.
(6) A decisão de geração de valor não está clara na operação. Observem que uma forma de mostrar se uma operação gerou valor é analisar o comportamento do mercado acionário. Nos últimos dias, as ações do grupo aumentaram não em razão da qualidade da decisão, mas em razão da compra de ação por parte do grupo Cassino. 
(7) Aqui o apelo é para o desempenho. Qual variável de desempenho? Mais adiante o esclarecimento: lucro, geração de valor e emprego. Já sabemos que geração de valor é questionável. Um banco de fomento não pode ter o “lucro” como medida de desempenho. Finalmente emprego; a operação irá claramente reduzir o volume de emprego no setor, pela eliminação de algumas lojas.
(8) Aqui apela para missão do BNDES. Mas será que ele sabe qual a missão da entidade? Eis o que encontrei http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/O_BNDES/A_Empresa/missao_visao_valores.html: Promover o desenvolvimento sustentável e competitivo da economia brasileira, com geração de emprego e redução das desigualdades sociais e regionais. A operação não irá promover desenvolvimento, não irá gera emprego nem reduzir desigualdades. 
(9) Observe que o objetivo de um supermercado é agregar valor para seus acionistas. O Wal-Mart fez isto nos Estados Unidos de que forma? Promovendo a compra de produtos baratos e conquistando mercado. Os produtos adquiridos ajudaram muito a economia chinesa, que fornece ao Wal-Mart os produtos que a empresa deseja. É questionável que um supermercado irá priorizar os produtos brasileiros; irá priorizar os produtos mais rentáveis.
(10) A operação é basicamente doméstica. Assim, é também questionável a defesa que a operação ajudaria os produtos brasileiros a conquistarem os mercados mundiais
(11) Idem. 
(12) Ele já se comprometeu demais.