28.3.11

Análise Técnica

O livro The Evolution of Technical Analysis, de Andrew Lo e Jasmina Hasanhodzic (Bloomberg, 2010) é surpreendente. Em primeiro lugar, pela presença de Andrew Lo entre os autores. Lo é um dos mais respeitos financistas da atualidade, com trabalhos em técnicas quantitativas (um dos autores do respeitado livro The Econometrics of financial Markets, em conjunto com Campbell e MacKinley), além da recente teoria dos mercados adaptativos.

Em segundo lugar, este pequeno livro de 165 páginas é objetivo e fácil de ler. Em parte pelo fato dos autores não estarem preocupados em demonstrar suas teorias, mas contar uma história.

Terceiro, o livro possui oito capítulos, sendo cinco deles voltados para a história da análise técnica. Em lugar de serem voltarem a história para os eventos do mundo capitalista ocidental, os autores analisam a evolução que ocorreu na Ásia.

Finalmente, o livro mostra que devemos respeitar a análise técnica. É comum existirem associação entre a análise técnica e crendices (como a astrologia). Os autores mostram um profundo respeito pelas teorias que foram consolidadas por Dow (do índice Dow Jones e do Wall Street Journal).

Leitura recomendada para aqueles que são adeptos da análise técnica. E para os defensores da análise fundamentalista, que podem apreciar uma obra elegante sobre um assunto controverso.

(Veja trecho da obra aqui)

Análise Técnica versus Fundamentalista

Em última análise, no entanto, ambas as análises, técnicas e quantitativas, servem a finalidades semelhantes.: ambas tentam prever o futuro com base em modelos do passado. Um delas é estatística, a outra é intuitiva. Considerando que a quantitativa minimiza uma soma dos quadrados dos resíduos para encontrar a melhor reta com base nos dados, a técnica estima que, olhando para os gráficos, em busca de padrões, e inferir os pensamentos e sentimentos dos outros participantes do mercado. Ambas as abordagens têm mérito. Isso não quer dizer que elas são iguais: claramente, métodos quantitativos ganharam, dominando a indústria de investimentos por causa do demonstrável valor agregado. Mas a análise técnica é surpreendentemente resiliente e persistente, e em alguns cantos do setor financeiro – como na negociação de commodities e de moedas - ainda é o modo dominante de análise. Esta situação sugere que a análise técnica pode ter algo a contribuir. Felizmente, uma reconciliação lenta, mas segura está em andamento.

Andrew Lo & Jasmina Hasanhodzic. The Evolution of Technical Analysis,p viii.

21.3.11

Por que valor da marca depende do valor de mercado?

A Brand Finance acaba de divulgar as maiores marcas do mundo. Eis o ranking com as principais marcas (incluindo três brasileiras entre as cem maiores do mundo:


Assim, a marca Google tem um valor de 44 bilhões de dólares. A maior marca de uma empresa brasileira é do Bradesco, com quase 19 bilhões.

O problema desta estimativa é o elevado grau de subjetividade. Em outras palavras, não é possível acreditar que a marca Google tenha um valor de 44 bilhões. Talvez o valor verdadeiro esteja entre 10 bilhões e 80 bilhões.



Em virtude da dificuldade de mensurar o valor real de uma marca, as empresas que promovem avaliação terminam por usar os dados do mercado. Assim, compara-se o valor de mercado da empresa com o valor contábil; quanto maior a diferença, maior “deve” ser o valor da marca.



Para comprovar que não devemos acreditar muito nos números acima, fiz um pequeno teste. Comparei o aumento no valor da marca, de um ano para outro, com o aumento no valor de mercado. Ou seja, em 2010 a marca Bradesco valia, segundo a Brand Finance, 13,2 bilhões de dólares. Ou seja, em um ano a empresa aumentou o valor da sua marca em 5,4 bilhões. No mesmo período o valor de mercado do Bradesco saiu de 56,6 bilhões para 69,6, ou 13 bilhões. Esta variação no mesmo sentido não é coincidência.



Usando os dados de variação no valor da marca e variação no valor de mercado das cem maiores empresas fez-se um cálculo para verificar se realmente existia relação entre ambos. Neste caso, calculou-se uma regressão entre estas duas variáveis e o resultado foi o seguinte:



Variação da Marca = 2181,33 + 0,037 Variação do Valor do Mercado



Isto significa que para cada aumento de 1 bilhão no valor do mercado a marca aumenta 37 milhões. O modelo apresentou medidas estatísticas boas (R = 0,344; DW = 1,797; Fc = 12,244), indicando que o modelo é bom. O gráfico abaixo mostra esta relação:


Existem alguns pontos que distorcem o resultado. A Verizon aumentou o valor de mercado em 185 bilhões de dólares, mas sua marca só cresceu 4,3 bilhões. Se tiramos a Verizon do cálculo as medidas estatísticas são ainda melhora mais, com R = 0,40; DW = 1,87; Fc = 17,122.

14.3.11

Quem criou valor?

O gráfico abaixo mostra o processo de criação de valor para o acionista no mercado acionário dos Estados Unidos, no período compreendido entre 1991 a 2010.



O valor criado para o acionista é dado pela seguinte expressão:

Valor de Mercado Inicial do Patrimônio Líquido x (retorno do acionista – Ke)

Sendo que o “Ke” é obtido pela soma do título sem risco do tesouro dos Estados Unidos, ou título sem risco, mais o prêmio pelo risco. Neste mercado, o título sem risco variou entre 8,1% a 2,3% ao ano. Já o prêmio pelo risco variou entre 5,8% a 3,8%. Ou seja, o Ke esteve entre 13,9%, em 1991, a 6,3% (em 2009). Já o retorno do acionista é dado pela divisão entre o valor adicionado para o acionista pelo valor do patrimônio líquido inicial, a preços de mercado.

Em outras palavras, para que uma empresa crie valor para seu acionista é necessário que o retorno seja superior ao custo do capital próprio. Pelo gráfico é possível perceber que isto ocorreu em alguns anos, principalmente no período entre 1995 a 1999, quando ocorreu a bolha da internet. Depois deste período, o mercado sofreu duas grandes quedas, que comprometeram o valor criado para o acionista (vide aqui em Por que nem sempre quando uma ação se valoriza o acionista ganha?).

A análise foi realizada para as maiores empresas do mercado acionário dos Estados Unidos. E o resultado foi surpreendente. As empresas que mais criaram valor para seus acionistas, em US$ bilhões, foram:

1. Apple = 212 bilhões
2. Exxon Mobil = 86
3. IBM = 78
4. Altria Group = 70
5. Chevron = 67
6. Oracle = 52
7. Occidental Petroleum = 51
8. Amazon = 48
9. Caterpillar = 37
10. McDonald´s = 34

É interessante notar que nesta lista existem três petrolíferas e uma vendedora de fast-food, setores que não são vistos com bons olhos pelos investidores. Os maiores perdedores foram:
1.
American Intl Group = - 217 bilhões
2. Pfizer = -188 bilhões
3. General Eletric = -183
4. Bank of America = -170
5. Citigroup = -169
6. Time Warner = -130
7. AT&T = -111
8. Cisco = -105
9. Microsoft = -72
10. Intel = -72 bilhões

Observem que na lista dos grandes perdedores estão dois bancos, quatro empresas de tecnologia, incluindo a Microsoft, e a GE. Quanto a GE é importante notar que esta empresa caracterizou-se por ter uma gestão extremamente agressiva na época de Jack Welch. Seu foco era o acionista. O desempenho no período foi muito ruim.

Mas talvez a surpresa da lista seja a presença da Microsoft. O acionista da empresa perdeu 72 bilhões no período, uma quantia substancial. Esta empresa chegou a valer mais de 600 bilhões de dólares e hoje possui um valor de mercado de 240 bilhões.

Durante a crise financeira, algumas empresas sofreram pesadas perdas. No período de 2007 a 2008 as maiores perdas, em termos percentuais, foram:

1. Lehman Brothers = - 98%
2. Washington Mutu = -98%
3. Dana = -95%
4. Circuit City Store = -92%
5. Delphi = -92%
6. Freddie Mac = -89%
7. Fannie Mae = -88%
8. Delta Air Lines = -88%
9. Ambac = -88%
10. American Intl Group = -85%

Em termos de valores, as maiores perdas provocadas pela crise foram:

1. Citigroup = -237 bilhões
2. GE = -222
3. AIG = -182
4. BoFA = -169
5. Altria = -149
6. Microsfot = -121
7. Wachovia = -78
8. Cisco = -71
9. Morgan Stanley = -68
10. Pfizer = -67 bilhões

Por que nem sempre quando uma ação valoriza o acionista ganha?

Quando um investidor aloca parte dos seus recursos no mercado acionário, ele deseja que o seu dinheiro se valorize. Imagine que ele aplicou 100 reais em ações e ao final do ano possua R$108,70. Isto significa uma valorização de 8,70%. Ele fez uma boa aplicação, certo?

Depende do referencial. Tradicionalmente comparamos o retorno no mercado acionário com um parâmetro. O mais conhecido deles é dado pela soma do retorno de um título sem risco mais o prêmio pelo mercado. Se um título sem risco teve um retorno de 5,3% e o prêmio por investir no mercado acionário é de 4,3%, este parâmetro é aproximadamente de 9,6%. Observe que este valor é superior ao 8,7% que se obteve na aplicação. Ou seja, deveríamos ter obtido no mínimo 9,6%, mas o retorno foi somente de 8,7%. Esta diferença representa uma perda na criação do valor para o acionista.

Uma pesquisa feita por três professores do IESE da Espanha mostrou que durante um período longo de tempo, entre 1991 a 2010, o mercado acionário dos Estados Unidos, o principal mercado de ações do mundo, teve uma rentabilidade de 8,7% ao ano. Ou seja, o investidor neste período teve uma grande perda no período. Segundo os cálculos destes pesquisadores, durante o período os investidores perderam 4,5 trilhões de dólares. Mas este desempenho não foi uniforme ao longo do tempo. Num primeiro período, os investidores ganharam 5,1 trilhões. Mas com o estouro da bolha de internet e a crise financeiro de 2008, o período seguinte trouxe perdas de 9,6 trilhões.

Isto mostra que nem sempre quando o mercado valoriza estamos ganhando. É necessário comparar com o nosso referencial.

Para ler mais
FERNANDEZ, Pablo; AGUIRREAMALLOA, Javier; CORRES, Luis. Shareholder value creators in the S&P 500: 1991-2010.

3.3.11

Previsão é para os pássaros (e ratos), não para os humanos

No experimento, os pesquisadores faziam piscar duas luzes, uma verde e uma vermelha, numa tela. Quatro de cada cinco vezes era a verde; na outra vez, a luz vermelha acendia. Mas a seqüência exata era mantida aleatória. Quando recompensado se a escolha era correta, ratos e pombos rapidamente descobriam que a melhor estratégia era sempre escolher verde, garantindo 80 por cento de acertos. Os seres humanos, no entanto, tentaram antecipar quando a luz vermelha acendia. Esta estratégia equivocada leva em média as pessoas a escolherem a luz com precisão de apenas 68 por cento no tempo. Mais estranho ainda os seres humanos persistiam nesse comportamento, mesmo quando os investigadores dizem a eles que as luzes piscando eram aleatórias. E enquanto os roedores e pássaros aprenderam rapidamente como maximizar sua pontuação, as pessoas muitas vezes tinham pior desempenho quanto mais eles tentavam descobrir.

Forecasting Is for the Birds (and Rats) - By CATHERINE RAMPELL