30.5.08

Fusões

O Wall Street Journal Américas trouxe uma reportagem sobre as fusões das empresas aéreas (Empresas aéreas reavaliam vantagens das fusões, Susan Carey, The Wall Street Journal, 19 de Maio 2008). Geralmente essas operações são interessantes como um forma de reduzir custos, melhorar a participação no mercado e, por conseqüência, aumentar as receitas.

Mas agora, com o preço do barril de petróleo por volta dos US$ 125, o custo da noite de núpcias está começando a fazer com que os casamentos se pareçam mais arriscados do que nunca. (...)
Mesmo que a United e a US Airways cheguem a um acordo em todos os termos da negociação e seus conselhos aprovem a fusão, o anúncio do negócio poderia desencadear manobras sindicais, caso os sindicatos prevejam qualquer possibilidade de redução de departamentos, corte de empregos ou não consigam aumentos. A proposta poderia enfrentar obstáculos regulatórios, como os que fizeram com que o Departamento de Justiça americano rejeitasse uma fusão entre as mesmas duas empresas em 2001. Além disso, as fusões acarretam enormes custos de integração, o que hoje em dia, com as empresas aéreas sangrando dinheiro, vai contra o imperativo de preservar liquidez.

28.5.08

Arte e valor


Esse quadro, Benefits Supervisor Sleeping, de Lucien Freud, foi vendido por 33,6 milhões de dólares para um milionário russo. Uma entrevista (What Does $33.6 Million Mean in the Art World?, By Annika Mengisen, New York Times, 23/5/2008) com dois especialistas em economia da arte tenta verificar se o preço pago é algo que expressa seu valor ou não. Além disso, é discutido quais as variáveis que influenciam no preço de uma obra de arte (o artista morto - não, a nudez - não, a inovação da obra - sim, o tamanho da tela - sim, o prestígio que confere a compra -sim).

Os entrevistados lembram que o valor da tela representa 0,1% da riqueza de Abramovich (comprador, dono do clube Chelsea). Ou seja, é muito pouco para ele.

27.5.08

Brasil, Consumidores, Taxa de Juros e Properidade

Uma alentada reportagem do New York Times (Boom Times for Brazil’s Consumers , ANDREW DOWNIE, 24/5/2008) mostra a fase recente da economia brasileira. É, sem dúvida nenhuma, uma reportagem otimista sobre o Brasil.

Inicia com um elogio ao presidente:

Inflation, which ended 2007 at 4.5 percent, is under control and the economy has grown consistently, if not spectacularly, thanks to the competent management of President Luiz Inácio Lula da Silva. His far-reaching assistance program has given the poor cash to spend. Wages are rising and unemployment is falling.


Em linhas gerais, mais brasileiros tem mais dinheiro.

Mr. da Silva calls it a miracle. But in reality, it is something Latin American long lacked: confidence.


(Acho que dessa vez, Mr. Da Silva não irá querer expulsar o correspondente do país).
Uma razão para a febre de consumo é a taxa de juros, que reduziu de 25% para 11,25%, mas ainda é uma das mais altas do mundo, lembra o jornal.
Na visão do NY Times ainda existe espaço para crescer o volume de crédito: na Europa a relação entre dívida e produto interno bruto é de 116%; nos Estados Unidos é de 201% e no Japão é de 419%. No Brasil essa relação é de 34,9%.

Uma marca vive para sempre?


Um texto interessante do New York Times, de 18 de maio de 2005, discute se uma marca pode morrer (Can a Dead Brand Live Again?, ROB WALKER). O artigo começa mostrando uma pequena empresa de Chicago, River West Brands, que adquire marcas de produtos inexistentes, mas que ainda estão presentes na memória do consumidor. Como o texto afirma, “não existe presença no varejo, nem distribuição, nem caminhões, nem fábricas. Nada. Tudo que existe é memória”
Isso tem valor? Aparentemente sim, segundo a visão do texto. Um exemplo mais conhecido e citado no texto é o caso do Fusca da Volks, que saiu de produção, mas continuava existindo na memória. Ao reviver o fusca, a Volks mostrou que a memória tem valor, sim.

26.5.08

Inbev e Bud


A proposta de compra da Bud, a maior cerveja dos Estados Unidos, pela empresa Inbev foi notícia de destaque no final de semana. O gráfico mostra o comportamento das ações da Bud (fonte: aqui). Alguns links interessantes:

1) Aqui, a notícia no NY Times

2) No Blog do Wall Street Journal

3. A visão do blog Portfolio: os brasileiros estão chegando

4. Trocadilho: Inbev + bud = In Bed?

14.5.08

Intangíveis: Reportagem ou divulgação?


Veja esse texto da Gazeta Mercantil sobre uma metodologia para avaliar intangíveis. É interessante como o assunto é apresentado. Mas leia de forma crítica:

Metodologia avalia ativos intangíveis
Gazeta Mercantil - 14/5/2008
Finanças & Mercados - Pág. 4)(Lucia Rebouças)

Construir uma reputação não é uma coisa simples. Quem consegue fazê-lo sabe muito bem quanto uma boa reputação é importante para proteger o valor da companhia, quando não até para gerar valor. Recentemente, a reputação de empresa sustentável evitou que uma importante fabricante de cosméticos fosse bombardeada pela mídia, quando foi acusada de apropriação indébita de conhecimento. A reputação é um dos chamados intangíveis, ativos que constituem o valor econômico de uma companhia e que não entra no valor contábil (patrimônio, receitas, lucro).

Os intangíveis terão que ser incluídos nas demonstrações contábeis das companhias que precisam adequar-se ao padrão internacional, IFRS (International Financial Reporting Standards) ou adaptar-se às normas de convergência da contabilidade brasileira determinada pela Lei 11.638, sancionada em dezembro do ano passado. Até 2010 todas as companhias abertas terão que adequar suas demonstrações contábeis ao padrão internacional IFRS. Já as empresas de capital fechado de grande porte (com ativos acima de R$ 240 milhões ou receita bruta superior a R$ 300 milhões) terão que se adptar ao padrão previsto pela lei de convergência .Consultores e auditores acreditam, no entanto, que a tendência é que as companhias de grande porte acabem optando por adotar o padrão IFRS.


Até aqui o texto foca a necessidade de avaliar o intangível. Observe que usa a lei para defender esse ponto de vista. Agora um "especialista" apresenta seu ponto de vista:

Em ambos os casos, as companhias terão que adotar metodologias para identificar seus ativos intangíveis, afirma Daniel Domeneghetti, principal executivo da consultoria Dom Strategy Partners. "Os valores tangíveis são facilmente copiáveis, enquanto que os intangíveis, como por exemplo a abordagem de marca (branding) e a gestão de talentos, fazem diferença no valor econômico da empresa. O intangível gera valor e não resultado", conta.


Mas o texto não identifica quem é essa empresa de consultoria. A continuação é interessante:

Embora o IFRS adote outra terminologia, na prática eqüivale a metodologia IAM (Intangible Assets Management) utilizada pela Dom, para a identificação, a medição e gestão de intangíveis. "Com a metodologia identificamos 83 ativos intangíveis possíveis, a partir de três tipos de análises: setor de atuação, estratégia e conjuntura da empresa."


Ou seja, a parte inicial do texto agora faz sentido pois o método do IAM, usado pela empresa, pode mensurar esse intangível. Note que o especialista faz questão de apresentar 83 (um número exato, para mostra a precisão do método) intangíveis possíveis. As conseqüências da não utilização da avaliação são terríveis:

Na avaliação de Domeneghetti essa situação cria uma efeito nefasto. "A empresa acaba se tornando refém da gestão de resultados de curto prazo, aniquilando importantes investimentos naqueles projetos ligados a ativos relevantes à sua competitividade de médio e longo prazos, tais como inovação, conhecimento, branding, sustentabilidade, qualidade, treinamento", afirma.


Agora é o momento de apresentar a experiência da empresa nesse tipo de avaliação:

A metodologia IAM, diz o consultor Domeneghetti, foi intensamente debatida nos âmbitos acadêmicos e atualmente encontra-se em implementação em 17 das 500 maiores companhias do país. Ela permite que se construam com os intangíveis verdadeiros "software corporativo".


A parte melhor da consultoria é que a mesma é individualizada. Ou seja, é necessário adaptar para cada empresa (e isso significa que você precisa contratar a empresa):

Esses softwares são adaptáveis e mudam conforme as necessidades das empresas para avaliar qual o intangível em que precisa focar mais os seus esforços. Os exemplos são vários. No setor de telecomunicações, comenta o consultor, a inteligência jurídica é atualmente um importante intangível. "O setor é muito regulamentado; é ameaçado pelo movimento de convergência entre as empresas de tecnologia da informação e internet. É muito importante saber quem pode fazer o que e onde há brechas que permitiram a atuação da empresa".


Agora, mais um exemplo de como a abordagem é importante (ou fundamental, conforme o texto):

No setor de supermercados, abordagem da marca é fundamental. Num setor maduro como o de metalurgia, o ativo barganha com fornecedores e muito importante. No de papel e celulose, a sustentabilidade é o ativo um intangível de grande relevância; no de bancos é o de relacionamento com clientes, enquanto no farmacêutico a inovação tem grande importância, afirma o consultor.



Para finalizar

A Dom é a primeira consultoria focada em estratégia corporativa 100% nacional. Pertencente à Holding ECC, também proprietária da E-Consulting Corp. A consultoria oferece serviços como planejamento estratégico, gestão de ativos intangíveis, gestão do conhecimento.

13.5.08

Crescimento da economia e Mercado

Qual a relação entre crescimento econômico e retorno do mercado acionário? A longo prazo essa relação não é proporcional, como geralmente se pensa.


Um crescimento econômico mais rápido significa retornos mais elevados para os investidores. Essa é uma grande parte da lógica dos que investem em mercados emergentes.

O problema com este argumento é que não é verdadeiro. Uma pesquisa da Business School de Londres analisou 17 países durante 108 anos. Os países com as economias de crescimento mais lento (medidos pelo crescimento do PIB ao longo de cinco anos períodos) obteve 8% ao ano, os mercados de crescimento mais rápido nas economias, pelo contrário, retornou apenas 5% ao ano.

Quando um grupo maior de 53 economias, incluindo muitos mercados emergentes, foram examinados, as tartarugas bateram as lebres por uma margem mais ampla -12% para 6-7%.



Fonte: The Economist

Modelos e o Homem

Os modelos de risco, baseados em métodos quantitativos, fracassaram durante a crise do subprime. E por isso devem incorporar mais o comportamento humano. É o que afirma Marine Cole no artigo After subprime fiasco, risk models may weigh human behavior para o Financial Week.

Peritos estão dizendo agora que os participantes no mercado não deve depender exclusivamente em modelos matemáticos, mas também deve usar as ciências sociais para compreender comportamentos dos proprietários de imóveis, por exemplo. Eles também estão pedindo mais informação e mais transparência aos participantes no mercado.

(...) Antes da crise, baseou-se principalmente em complexos modelos suportados em dados históricos sobre empréstimos de um período durante o qual os preços domésticos estavam aumentando.

6.5.08

Marca


Em Brand Names Before the Industrial Revolution, Gary Richardson, da University of California, relembra a história medieval para tentar entender a questão da marca.

O foco da análise são as guildas ou corporações de ofício ou corporação artesanal, que eram associações de artesãos de uma mesma atividade profissional. (Na foto, bastião dos pescadores, Bucarest)

As guildas surgiram antes do primeiro milênio, mas foi na idade média que desenvolveram, atuando como reguladoras da profissão, controladoras da qualidade do produto e escola de ensino.

Richardson analisa o papel das guildas diante de um mercado sem proteção legal de uma patente ou de um governo que regulasse as atividades econômicas. Para se manterem no mercado era necessário vender produtos com características conspícuas (que permite a identificação do produto diante de outros). O problema eram os “piratas” da época, que poderiam produzir por um custo menor ou com uma qualidade duvidosa.

Na idade média a questão da qualidade poderia ser catastrófica. Por duas razões: o custo de substituição de um produto era elevado para o homem medieval (mesmo roupas, sapatos e ferramentas); e a falta de qualidade poderia significar a morte para o caso produtos como espada ou mesmo roupa.

Além disso, não existia na época nenhum sistema de defesa do consumidor e o judiciário era (na época) caro e lento. Ou seja, não existia uma garantia ao consumidor da qualidade do produto e raramente a pessoa sabia quem tinha feito o produto.

Assim, existia uma assimetria de informação, em prejuízo do consumidor, que conhecia pouco do produto.

Outro complicador estava na possibilidade de obter corte substancial de custo no processo de fabricação, substituindo insumos. Em alguns casos, como mostra Richardson, a economia podia chegar a 1/3 do custo total. Podia-se dizer que existia um incentivo para a atuação do produto “pirata”.

Entretanto, os fabricantes com boa reputação podiam vender seus produtos por um preço mais elevado, em grandes quantidades, em locais mais distantes, do que os produtores sem um “bom nome”. A confiança do cliente podia ser interessante para as guildas que tinham a pretensão de estabelecer uma “marca”.

Richardson afirma que o mercado medieval era propício a pirataria e a seleção adversa. Mas o desejo de captar uma oportunidade lucrativa para estabelecer uma reputação e comunicar aos clientes.

Mas como resolver os problemas de qualidade? O primeiro passo foi atuar no sentido da associação de artesãos que viviam numa mesma cidade e trabalhavam numa mesma indústria pudessem padronizar os produtos e regular a qualidade dos itens produzidos. Visando isso, as guildas adotaram uma série de medidas, como proibir a produção durante a noite, fiscalizar a qualidade de cada membro e incentivar à lealmente entre os membros. Aqueles que não atuavam nesse sentido eram expulsos das guildas, perdendo uma série de benefícios que essas proporcionavam.

O segundo passo era evitar a ação dos piratas. A falta de proteção inibia a atuação das guildas fora da cidade. Para isso, as guildas procuravam dificultar a “cópia”, introduzindo métodos secretos de produção (essa era uma das características das guildas, o segredo) ou que usassem recursos disponíveis somente no local. Um outra foram era fazendo investimentos elevados em equipamentos especializados.

As guildas tiveram um razoável sucesso nessa empreitada, pois estabelecer a reputação é caro e eram entidades que podiam sobreviver durante séculos. Além disso, com a consolidação das guildas, o apoio dos governantes tornou-se mais fácil.

Segundo Richardson, existem muitas evidências de que as guildas tentaram estabelecer reputação. De mesmo modo, existem evidências de que esses esforços foram bem sucedidos. É dessa época que surgiram associações entre produtos e cidades onde estavam localizadas as guildas (queijão parmesão é dessa época), da mesma forma que associamos hoje o produto com a marca (veja aqui). Richardson usa o léxico para mostrar que termos na língua (latina, inglesa ou outra) estavam associadas a produção: pistol vem de Pistóia, na Toscana, por exemplo.

O sucesso das guildas transformou-se quem lucro. Os atributos dos produtos das guildas mais afamadas podiam significar um preço maior. Com o passar do tempo, algumas guildas conseguiram transformar um “marca” numa propriedade legal, como é o caso da bebida Champanhe ou o vinho do Porto.

De qualquer forma, essa reputação representava mais vendas e mais reputação.

Richardson considera que a ação das guildas representou um mecanismo de marca, que encorajou o progresso econômico. O aumento da durabilidade dos produtos, a maior demanda dos produtos, o progresso tecnológico foram algumas das conseqüências da atuação das guildas. Nesse ponto, Richardson discorda da história econômica, que costuma associar as guildas a uma atitude conservadora, contraria a revolução industrial.

Em termos de estrutura de custos, as guildas conseguiram modifica-la, com uma elevação dos custos fixos, que foram diluídos entre os participantes. Em outras palavras, as guildas usaram a estrutura de custos fixos para gerar uma economia de escala pela formação da reputação, mesmo não existindo na época patente.

Para Richardson, as patentes não foram requisitos da industrialização e da inovação. As guildas conseguiram criar uma sistema que incentivava a inovação, através do segredo.

Aqui, um blog com um pequeno resumo sobre o trabalho de Richardson.

Fusões e Aquisições

Um artigo interessante da The Economist, Oceans Apart, 1/5/2008, compara a diferença entre a forma como os Estados Unidos e a Europa encaram as fusões. As diferenças na abordagem são diferenças de filosofia econômica. Nos Estados Unidos existe uma crença maior que o mercado pode consertar os problemas de monopólio, inclusive na área tecnológica. Assim, um novo produto que hoje é dominante pode ser dispensável no futuro. Além disso, o monopólio temporário é considerado um prêmio. A postura européia (e talvez brasileira) é oposta.

5.5.08

Mercado Brasileiro

O primeiro gráfico mostra a evolução do Ibovespa nos últimos anos.



O segundo, o câmbio com o dólar.

Fonte: Aqui

Microsoft e Yahoo

A proposta a Microsoft para compra da Yahoo! ainda é notícia. No sábado, a Microsoft divulgou que estaria abandonando as negociações, já que não existiu um acordo. Neste endereço, o Wall Street Journal faz uma interpretação da carta de Ballmer para a imprensa. Muito interessante a leitura. Aqui, nesse texto, mostra como não negociar uma aquisição.