17.5.07

Petrobrás perdeu

Uma das reportagens mais interessantes sobre a questão da refinaria da Petrobrás na Bolívia foi do Estado de 11/05/2007:

Sem saída, Petrobrás perde em 3 rounds
GUERRA DO GÁS Analistas, no entanto, consideram que impacto no balanço será ínfimo
Irany Tereza

SEM FUTURO - A ex-usina da Petrobrás em Santa Cruz, que, para os analistas, em breve será sucateada pelas mãos dos bolivianos

O acordo selado em torno das duas refinarias da Petrobrás retomadas pelo governo boliviano marca o terceiro round perdido pela empresa para a Bolívia. "Primeiro foram as mudanças na produção de petróleo e gás, com a nacionalização e o aumento de tributação; depois, veio o acordo do gás e o aumento do preço e agora, com o acordo do refino, a pauta da Bolívia se esgota de maneira prejudicial à Petrobrás", diz Felipe Cunha, analista de petróleo do Banco Brascan.

Ele considera, porém, que não havia outra saída para a estatal brasileira e o prejuízo assumido pela empresa, calculado pelo mercado em torno de US$ 80 milhões - diferença entre o valor investido pela estatal e o que será recebido pelas unidades - é ínfimo diante dos resultados da companhia.

"Contabilmente, é difícil calcular o impacto, mas, com certeza, será pequeno. A capacidade total de refino da Petrobrás, no Brasil e no exterior, é de 2,227 milhões de barris por dia. A Bolívia representa 2,5% disso. O prejuízo afeta muito pouco e será diluído no resultado", diz Cunha.

Hoje, a Petrobrás divulga o resultado financeiro alcançado no primeiro trimestre do ano. A expectativa do mercado financeiro é de lucro entre R$ 4,5 bilhões e R$ 5 bilhões. O consultor Adriano Pires usa esse valor para fazer uma comparação com a pendenga boliviana.

"O lucro da Petrobrás em três meses será, pelo menos, 20 vezes o valor pago pelas refinarias. A decisão brasileira foi correta. A Bolívia saiu ganhando no curto prazo, talvez confiando na ajuda da venezuelana PDVSA, caso não consiga operar as refinarias. Mas, no médio prazo, sairá perdendo porque não não vai mais haver investimento, as refinarias tornarão a ser sucateadas e a Bolívia vai empobrecer ainda mais", afirmou. A analista de um grande banco, que tem como norma não divulgar pareceres sobre negociações empresariais, comentou que, mesmo não tendo provisionado o prejuízo com as refinarias no balanço deste ano, o valor é tão pequeno que poderá ser incluído em qualquer outra provisão da estatal.

"Nem quando há ameaça de interrupção no fornecimento de gás, o que é muito mais grave, essa questão da Bolívia tem reflexo no valor das ações da Petrobrás. A questão das refinarias, então, não terá o menor impacto. É mais uma questão moral que financeira", diz ela.

Em relatório do Brascan, o analista Felipe Cunha ressalta que a permanência da Petrobrás na Bolívia acaba sendo prejudicial para a empresa. Cunha frisa que, entre os aspectos negativos vistos pelo mercado com relação à Petrobrás, está principalmente a manutenção de investimentos arriscados em determinados países, "especialmente na Bolívia". "Esses investimentos reforçam a percepção de risco político sobre a empresa", disse. Adriano Pires destaca que o decreto anunciado pelo presidente Evo Morales no último domingo, com a apropriação do controle da venda de derivados e a fixação de US$ 30 para o barril de petróleo, praticamente zerou o valor de mercado das refinarias. "Quanto mais tempo a Petrobrás permanecesse com esses ativos, mais teria prejuízo.

E, diante do nervosismo dos movimentos sociais na Bolívia, não se sabe também que conseqüências danosas e imediatas poderiam resultar de um pedido de arbitragem internacional pela Petrobrás. O que o (presidente) Morales fez foi um desrespeito", disse o consultor.