8.5.07

As razões das aquisições

Uma reportagem do Wall Street Journal explica as razões para as recentes notícias de fusão/aquisição no mercado de capitais. Ao comentar sobre o mercado acionário em alta a reportagem, indiretamente, afirma que algumas destes negócios terão resultado negativo para os acionistas das empresas compradoras.

Queda de barreiras a aquisições faz com que toda empresa seja um alvo
Por Dennis K. Berman em Nova York, Jason Singer em Londres e John R. Wilke em Washington - The Wall Street Journal

Uma após a outra, as antigas barreiras que protegiam as empresas de serem adquiridas estão se dissolvendo. Resultado: uma onda sem precedentes de negócios da qual, ao que parece, poucas empresas estão protegidas.

Fronteiras e tamanho costumavam ser obstáculos, mas três bancos europeus se juntaram para apresentar uma oferta de quase US$ 100 bilhões para desmembrar o banco holandês ABN Amro Holding NV. Empresas financeiras já foram consideradas fora dos limites para firmas de aquisições alavancadas, que usam dinheiro emprestado para fazer suas compras. Mas o tabu caiu por terra com a planejada compra por US$ 25 bilhões da Sallie Mae, firma americana de crédito educativo, por firmas de private equity e bancos. Empresas de controle familiar, especialmente as que possuem uma estrutura societária em que certas ações têm mais poder de voto, eram consideradas intocáveis, mas isso não impediu que a News Corp., de Rupert Murdoch, oferecesse US$ 5 bilhões pela Dow Jones & Co., que publica o Wall Street Journal

Até mesmo a maior barreira — o governo — não parece mais intransponível. Exemplo: a Alcoa Inc., que ontem fez uma oferta não acordada de US$ 27 bilhões pela canadense Alcan Inc. O negócio recriaria a produtora de alumínio que o governo dos Estados Unidos passou quase 40 anos tentando separar.

"Tirando as 10 ou 15 maiores empresas do mundo, ninguém está a salvo", diz Scott Barshay, sócio do escritório de advocacia Cravath, Swaine & Moore. "O financiamento através de dívidas está presente. O financiamento por ações está presente. E a disposição das firmas de private equity de apostar também está presente."

Em Wall Street, há uma sensação de que as condições para o fechamento de acordos só vão piorar e agora é o momento de atacar.

O fator mais importante por trás dessa onda de negócios é o mercado acionário, que segue batendo recordes. Ações mais valorizadas dão aos executivos a confiança — e o capital — para caçar alvos maiores. O volume total de aquisições em 2007 já chegou a US$ 2 trilhões, maior do que o volume de todo o ano de 2004 e 60% a mais que no mesmo período em 2006. O volume nos EUA aumentou 41% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a provedora de dados Dealogic.

Além disso, os acionistas estão de maneira geral dando suas bênçãos às jogadas dos compradores, especialmente quando eles conseguem reduções de custos na empresa resultante. A ação da Thomson caiu apenas 0,64% depois de divulgado na semana passada que a empresa estava preparando uma oferta de US$ 16 bilhões pela Reuters Group PLC. E tanto a ação da Alcan quanto a da Alcoa subiram ontem, em parte por conta das expectativas dos investidores quanto às reduções de despesas projetadas com a fusão, de US$ 1 bilhão.

Isso pode jogar ainda mais lenha na fogueira desta onda de fusões: cerca de 43% dos acordos fechados neste ano tiveram algum tipo de corte de custos incluído na transação, segundo a Standard & Poor's, de longe o nível mais alto dos últimos dez anos.

Como em qualquer período de boom, essas condições seguem motivando ainda mais acordos — e mais riscos. Os preços dos acordos estão no nível mais alto desde 2000, segundo dados compilados pela FactSet Mergerstat, que fornece dados sobre fusões. Neste ano, os compradores estão em média gastando 12,1 vezes o fluxo de caixa de seus alvos, ante 10,4 vezes durante 2006 e 9,7 vezes em 2000.

Tanto as empresas quanto as firmas de private equity — que normalmente compram companhias abertas, fecham o capital delas e as reestruturam para depois revendê-las — estão sendo atraídas para a mesa de negociações por centenas de bilhões de dólares em financiamento disponível a baixas taxas e praticamente sem condições. Esse capital está causando confusão nos mercados.

"A cabeça está girando constantemente. Todos os setores estão sendo reestruturados", diz Howard Wiesenfeld, um administrador de carteira do DKR Ibex, um fundo que investe em ações de empresas envolvidas em fusões. Wiesenfeld tem acordado todo dia às 4 horas para começar a negociar ações européias.

As firmas de aquisição alavancada se afastavam tradicionalmente da compra de empresas de certos setores, como o financeiro. O pensamento era de que essas firmas estavam sujeitas a exigências de capital das autoridades e já carregavam muita dívida. Mas duas firmas de private equity, a JC Flores & Co. e a Friedman Fleischer & Lowe LLC, se aventuraram, ancoradas por um crédito de US$ 30 bilhões do J.P. Morgan Chase e do Bank of America.

O raciocínio: a Sallie Mae pode securitizar seus créditos estudantis em títulos que vende a investidores, de modo que a empresa não fica dependente da captação de recursos nos mercados de crédito. Assim, mesmo que a classificação de risco da Sallie Mae se deteriore, ela "não teria necessidade de acessar os mercados de capitais neste momento".

No primeiro trimestre de 2007, as empresas e as firmas de private equity captaram US$ 183 bilhões em dívida, de acordo com a Standard & Poor's. O volume geral foi quase 25% maior do que no quarto trimestre de 2006, e quase quatro vezes o de 2004. Com tanto dinheiro em mãos, as firmas de private equity estão se apressando em comprar empresas cada vez maiores.

Essas firmas têm conseguido captar enormes quantias em questão de semanas.