21.2.07

Como é difícil avaliar uma empresa

A questão da venda da Chrysler mostra a dificuldade de avaliar uma empresa. Hoje, no Wall Street Journal, uma reportagem sobre o assunto (negrito meu):

Renault-Nissan não quer a Chrysler. Quem sobra?
February 21, 2007 4:05 a.m.

Por Norihiko Shirouzu, Gina Chon e Stephen Power
The Wall Street Journal.

Pode tirar a Renault SA e a Nissan Motor Co. da lista de possíveis compradores da Chrysler Group, da DaimlerChrysler AG.

As montadoras francesa e japonesa gostariam de ter um parceiro americano em sua aliança, mas não estão interessados em comprar a Chrysler ou se unir a ela, disse semana passada a investidores o diretor financeiro da Renault, Thierry Moulonguet, segundo pessoas a par da questão.

Renault e Nissan foram vistas como parceiras em potencial para a Chrysler desde que a DaimlerChrysler disse na semana passada que estava considerando a venda ou o estabelecimento de uma sociedade entre sua deficitária divisão americana e outras montadoras.

Mas depois do anúncio, Moulonguet disse a um grupo de investidores institucionais em Londres que a Renault e a Nissan não estão interessadas de modo algum em expandir sua aliança para incluir a Chrysler, seja através da compra de uma participação ou pela aquisição total, disseram as mesmas pessoas.

Carlos Ghosn, o diretor-presidente das duas montadoras, realizou negociações infrutíferas para uma aliança com a General Motors Corp. no ano passado. Desde então ele vem dizendo que ainda pensa que um parceiro americano faria sentido depois de a Renault e a Nissan reestruturarem suas operações.

Uma pessoa familiarizada com o pensamento de Ghosn diz que ele acredita que as duas empresas podem se focar na melhoria dos seus próprios níveis de lucratividade e vê a Chrysler como um parceiro menos atraente do que a GM, porque é muito menor. Ghosn também questiona como a Renault e a Nissan poderiam tornar a Chrysler lucrativa se a DaimlerChrysler não conseguiu, diz a pessoa.

A falta de interesse da Renault e da Nissan revela um dos desafios que a DaimlerChrysler enfrentará para vender sua divisão americana: conseguir um preço bom. A Chrysler tem tantos problemas — de contratos com sindicatos a custos crescentes dos planos de saúde a vendas em queda — que os compradores podem ser escassos.

Os analistas acreditam que a venda da divisão valorizaria a sua dona. Num relatório de 19 de fevereiro, analistas do Morgan Stanley calcularam que a venda da Chrysler por 5 bilhões de euros (US$ 6,6 bilhões) aumentaria o valor de mercado da Daimler em pelo menos 12 bilhões de euros, ou cerca de 20%.

Determinar um preço para a Chrysler é difícil porque qualquer valor pode mudar drasticamente, dependendo da proximidade com que um comprador ou sócio gostaria de trabalhar com a Chrysler. Mas vários analistas financeiros calculam seu valor na faixa dos 5 bilhões de euros a 7 bilhões de euros.


Vender a montadora a essa preço seria uma remédio difícil de engolir. A Chrysler valia US$ 35 bilhões na fusão de 1998 com a Daimler.

A maioria dos analistas concorda que a marca Jeep, com imagem forte, e a linha de picapes Ram, com boas vendas e margens razoáveis, poderiam ser atraentes para outra montadora ou firma de investimentos. O motor Hemi V-8 também é popular e suas minivans ainda são um sucesso de vendas.

Mas a Chrysler também tem muitos esqueletos no armário. Ela teve prejuízo de US$ 1,5 bilhões no quarto trimestre e não deve apresentar um lucro anual pelo menos até 2008.

A Merril Lynch calcula que os compromissos da Chrysler com aposentadorias e plano de saúde para ex-funcionários sindicalizados em US$ 52,5 bilhões, com US$ 31,4 bilhões reservados para pensões e US$ 21,1 bilhões para outros benefícios de aposentadoria. A corretora estima que o déficit atuarial, ou quanto desse passivo não está coberto, seja de US$ 18 bilhões.

Tanto a marca Chrysler como a Dodge têm poucos modelos de grande apelo no mercado, e o valor de revenda dos veículos é baixo. Nos Estados Unidos, de acordo com o Kelley Blue Book, um guia de preços de carros usados, apenas Kia, Isuzu e Suzuki têm valores de revenda piores do que os da marca Chrysler.

A profundidade dos problemas da Chrysler suscitou ceticismo quanto às persistentes notícias de que a GM estaria interessada em comprar a rival.

— David Gauthier-Villiars colaborou neste artigo.