A empresa Petrobras teve sua nota reduzida em dois níveis pela agência Moody´s. Uma implicação direta é que a empresa terá que captar recursos num nível de juros acima daquele que está acostumada. Taxa de juros maiores é sinal de aumento na despesa financeira, com reflexo de médio e longo prazo no resultado da empresa. Ou seja, os efeitos da situação da empresa estenderão em enormes prestações mensais.
Assim como o ativo deve ser avaliado parcialmente pelo valor justo a partir do teste de impairment, o mesmo também ocorre com o passivo. Segundo dados da empresa, no famigerado terceiro balanço trimestral de 2014 publicado em janeiro deste ano, a taxa de juros média da empresa é de 4,90% ao ano. Isto é resultado da ponderação entre a grande quantidade de fontes de financiamento que a empresa possui, cada um nas mais diversas condições, incluindo diferentes formas de cálculo da taxa, moeda do empréstimo, garantias etc. Ou seja, esta média do custo dos recursos de terceiros é um cálculo bastante simples dos juros que a empresa praticava até setembro de 2014. A mesma informação informava que em média o prazo dos empréstimos era de 6,26 anos. Com efeito, a maior parte do empréstimo irá vencer após 2019, nas condições existentes então.
Quando isto acontece, o valor dos passivos muda, mais especificamente, diminui. Esta redução irá afetar o resultado da Petrobras com o sinal positivo. (Para aqueles que duvidam, consulte o capítulo de Passivo do livro de Teoria da Contabilidade, co-autoria com Jorge Katsumi)
Mas qual o efeito disto? Obviamente que um cálculo preciso deve ser feito com cada empréstimo. Aqui iremos dar uma noção deste efeito. Vamos partir da suposição do empréstimo com taxa de 4,90% e prazo médio de 6,26 anos. No final de setembro a empresa tinha 332 bilhões de reais em financiamentos, de curto e longo prazo.
Para determinar o efeito do rebaixamento é necessário estimar o efeito sobre a taxa de juros. Como a empresa foi rebaixada dois níveis, consideramos que isto significa dois pontos percentuais na taxa de juros (segundo aqui). Como a perspectiva é de baixa, este valor pode estar subestimado.
Usando 332 bilhões como valor presente, o prazo de 6,26 anos e taxa de 4,90% o valor futuro é de 447 bilhões. Basta colocar numa planilha eletrônica a função “Valor Futuro”. Depois disto, trazemos a valor presente os 447 bilhões usando a taxa de 6,90% (a taxa original mais dois por cento). Usando uma função de “valor presente” de uma planilha temos um valor 295 bilhões. A diferença entre este valor e os 332 bilhões. Ou seja, o rebaixamento poderá gerar um resultado positivo de 37 bilhões de reais.
Este valor tem alguns problemas:
Simplificação – adotamos um cálculo geral, usando uma taxa média e prazo médio. O ideal seria fazer um cálculo por cada tipo de empréstimo.
Efeito na taxa de juros – A nova nota da empresa irá provocar efeitos sobre a taxa de juros. Consideramos um efeito de dois pontos percentuais. Observe que o governo considerou a nova nota um equivoco. Aceitando os argumentos do governo podemos dizer que este aumento na taxa de juros seria exagerado. Além disto, o governo pode usar seus recursos para substituir estes empréstimos, reduzindo este efeito. Mas por outro lado, se a situação da empresa continuar deteriorando o valor usado pode estar a menor.
Prazo médio – a crise recente pode encurtar o tempo médio de empréstimo já que diante do maior risco é possível que os financiadores sejam mais cautelosos. Isto tende a aumentar o valor calculado aqui.
Garantias – alguns empréstimos estão associados a garantias. Isto afeta o custo do empréstimo, que tende a ser menor. Entretanto, algumas destas garantias podem estar envolvidas nos problemas de corrupção.
Mudanças nas taxas cambiais – desde setembro de 2014 até os dias de hoje ocorreu mudanças nas taxas de câmbio. O custo médio fornecido pela empresa foi obtido com as taxas cambiais de meses atrás. A desvalorização do real pode afetar o custo do financiamento.