11.2.09

Valor dos Ativos Tóxicos

O artigo a seguir mostra uma questão interessante sobre o processo de avaliação de títulos. O texto foi publicado originalmente no NY Times e reflete a dificuldade de avaliar ativos com baixo nível de negociabilidade.

Valor justo para ativos tóxicos é desafio para plano de Obama
3/2/2009 - Gazeta Mercantil

Nova York, 3 de Fevereiro de 2009 - Ao passo que a administração Obama prepara sua estratégia para resgatar os bancos norte-americanos comprando ou garantindo os ativos com problemas, o governo depara-se com uma questão central: como avaliá-los corretamente? Estamos falando de centenas de bilhões de dólares do dinheiro dos contribuintes que estão em jogo.

Timothy F. Geithner, secretário do Tesouro dos EUA, deve anunciar os detalhes do novo pacote dentro de algumas semanas. Autoridades do governo federal e do Congresso afirmam que o plano dará ao governo flexibilidade para adquirir alguns ativos tóxicos e garantir outros em um esforço para ajudar diferentes instituições do país.

No entanto, não será fácil fazer isto. As grandes variações sobre o valor de muitos ativos podres dos bancos podem ser constatadas com base na análise feita recentemente de um título lastreado em hipoteca por uma divisão da Standard & Poor's, a agência de classificação de risco.

A instituição financeira que possui o título calcula o seu valor em US$ 0,97 frente ao dólar, isto é, uma pequena perda de 3%. No entanto, a S&P estima que seu valor seja, na verdade, de US$ 0,87, tomando por base a atual taxa de inadimplência para empréstimos, e poderia valer até US$ 0,53 sob um cenário mais sombrio caso dobre o índice de inadimplência. Todavia, mesmo este prognóstico pode ser otimista demais, já que o título em questão foi recentemente negociado por apenas US$ 0,38 sobre o dólar, refletindo previsões ainda piores dos investidores.

O título avaliado pela S&P é somente um dos milhares que o governo deve comprar ou garantir com a criação de um "bad bank" que poderá adquirir dos bancos mais de US$ 1 trilhão em ativos tóxicos. A ideia é que, livres do peso desses títulos podres, os bancos possam voltar a emprestar novamente e ajudem a sustentar a economia. O "bad bank" planejado pelo governo poderia, no futuro, vender esses ativos e recuperar parte ou a maioria do valor pago por eles.

Preço de mercado

Um refrão frequente em Wall Street é o de que não há preços de mercado atuais para os títulos tóxicos. Mas as pessoas que compram e vendem estes investimentos dizem que esta é uma leitura simplista do problema. Dizem que a maioria dos tipos de títulos pode ser avaliada e está sendo comercializada, mas houve uma desaceleração da comercialização, uma vez que vendedores e compradores discordam sobre qual deveria ser o preço.

O valor destes títulos está baseado no fluxo de caixa futuro que eles fornecem aos investidores. Para determinar isso, os operadores devem fazer suposições em relação ao mercado imobiliário e à economia: A que altura a taxa de desemprego vai chegar nos próximos anos? Quantos mutuários vão ficar inadimplentes? Qual será o valor das casas?

O grupo Standard & Poor''s, Market, Credit and Risk Strategies, que opera independentemente do setor de classificação de crédito da companhia, tem estudado os títulos problemáticos para investidores e bancos. O título que está sendo comercializado a US$ 0,38 dá uma ilustração clara do dilema de avaliar estes ativos.

O título é garantido por 9 mil hipotecas secundárias (second mortgage) usadas por mutuários que desembolsam pouco ou nenhum dinheiro para comprar casas. Quase um quarto dos empréstimos estão inadimplentes, e as perdas devido às hipotecas com pagamento atrasado chegam a 40%. O título uma vez teve a classificação mais alta, triplo-A.

Michael G. Thompson, diretor gerente do grupo S&P, diz que seus modelos computacionais conseguem calcular facilmente quanto vale o título em diferentes situações. "Isto não é a ciência dos foguetes, é a matemática direta dos títulos.", disse ele. Mas determinar o que o futuro guarda é muito mais difícil. "Não somos os mestres do universo que podem prever o ambiente macroeconômico", acrescentou.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 2)(The New York Times)